Análise: Botafogo joga com a cabeça na final e carimba vaga histórica em jogo típico de Libertadores
Análise: Botafogo joga com a cabeça na final e carimba vaga histórica em jogo típico de Libertadores
Peñarol não joga a toalha em jogo para cumprir tabela, pressiona time misto do Botafogo, que segura e fica a 90 minutos do sonhado título inédito.
Por Jéssica Maldonado — Montevidéu
O Botafogo
está a 90 minutos de conquistar a América de forma inédita. O Glorioso
confirmou a vaga para a final da Comebol Libertadores mesmo perdendo por 3 a 1
para pentacampeão Peñarol na noite da última quarta-feira, no Estádio
Centenário, em Montevidéu. A “tranquilidade” de derrota só foi
possível graças a vantagem de 5 a 0 no jogo de ida, no Nilton Santos.
Essa
elasticidade no placar deixou o time com a cabeça já na próxima fase, ao menos
foi o que pareceu no duelo desta quarta. Artur Jorge aproveitou para poupar
cinco jogadores e entrar em campo com um time misto. O zagueiro Barboza, o
volante Gregore, e os atacante Luiz Henrique e Igor Jesus estavam pendurados, e
Almada foi poupado.
Os 11
iniciais foram: John; Vitinho, Adryelson, Bastos e Alex Telles; Danilo Barbosa
e Marlon Freitas; Savarino, Tchê Tchê e Matheus Martins; Tiquinho Soares.
Primeiro
tempo de pressa do Peñarol, que ainda acreditava
Apesar de
ser goleado na ida, o Peñarol foi empurrado pela torcida como se estivesse com
grandes chances de chegar a uma final, e isso teve efeito. O time de Diego
Aguirre tinha pressa e incomodou o Botafogo desde o primeiro minuto. Com uma
dinâmica veloz, com a bola de um lado para o outro, o time explorou as
extremidades, tentou jogar nas costas dos laterais e foi feliz nas investidas.
Quase abriu o placar logo no primeiro minuto em chute de Léo Fernandez – esse
que, inclusive, parecia se multiplicar em campo, buscando e armando por
diferentes espaços.
O Botafogo,
que estava com cinco jogadores diferentes do time considerado titular, custava
a encaixar as jogadas e tinha dificuldade para segurar a bola. As tentativas
eram, na maioria das vezes, nos lançamentos diretos para Tiquinho fazer o pivô,
mas o centroavante estava sempre bem marcado.
Pelo lado de
Matheus Martins, que jogou pela esquerda, existia um hiato entre ele e Alex
Telles, que não conseguiam desenvolver a dinâmica para dar profundidade e fazer
o time chegar na área. As boas chegadas alvinegras foram na cobrança de falta
do lateral-esquerdo, que passou muito perto, aos 21, e em uma das poucas trocas
de passes, que sobrou para Savarino finalizar, aos 28.
Aos 30, o
Peñarol consegue chegar ao gol na individualidade. Báez recebeu de Léo
Fernández na intermediária e arriscou um belo chute de longe, sem chances para
o goleiro John. Vitinho foi cortado com facilidade, e deixou espaço para a
finalização. Dois minutos depois, os uruguaios quase ampliaram em cabeceio de
Pérez, que subiu melhor Bastos na jogada, e a bola beijou a trave.
O Peñarol
pressionava e recuava o Botafogo, no embalo da torcida, incansável. Foram15
finalizações no primeiro tempo contra apenas quatro dos cariocas.
Após o apito
para o intervalo, o goleiro Aguerre atingiu John por trás, depois de uma
reclamação, e foi expulso. O Peñarol jogaria com um a menos no segundo tempo
inteiro.
Artur
Jorge corrige time com Almada, e Botafogo passa a sofrer menos
A primeira
substituição teve a saída de Matheus Martins, com cartão, para a entrada de
Thiago Almada, que havia sido preservado. O reflexo da mudança se viu logo nos
primeiros lances, com o meia segurando mais a bola na frente, trocando passes
com aproximação dos companheiros, e criando chances mais perigosas.
O
diferencial do “um contra um” deu mais força pelo lado direito. Com
toques rápidos e até dribles, ele ajudava a quebrar a linha defensiva dos
uruguaios. Aos 8 minutos, por exemplo, ele recebeu na intermediária, avançou
sobre a marcação e deu um passe pelo meio para Tiquinho, que foi parado pelo
marcados – o árbitro assinalou penâlti, mas voltou atrás depois da revisão.
O treinador
português ainda colocou Mateo Ponte e Eduardo nos lugares de Vitinho e Tchê
Tchê, respectivamente. O jogo seguiu lá em cá, mas o dia feliz era do Peñarol,
que estava com a pontaria calibrada e fez outro belo gol com Báez.
Amarelado,
Bastos foi substituído por Allan, e o time pareceu ter de desconsertado ainda
mais, principalmente pela falta de entrosamento e nervosismo para que a partida
terminasse logo. Nas arquibancadas, a torcida do Botafogo já dava sinais de
apreensão, que Alex Telles sentiu no gramado e pediu para voltarem a cantar.
Nessas horas, a experiência conta, e foi o que faltou ao jovem Mateo Ponte, que fez duas duras faltas em um minuto e foi expulso. O Peñarol seguia na pressão, o que obrigou Artur Jorge a colocar o zagueiro Barboza, pendurado, em campo. O jogador tirou Danilo improvisação na zaga e deu mais calma na saída de bola alvinegra.
E foi dos
pés dele que saiu o contra-ataque, ao achar lançamento de trivela para Almada.
O meia conduz até a área, passa para Marlon se apresentando na segunda trave, o
volante só devolve e coroa o camisa 23, que melhor o time no segundo tempo.
Mas, em jogo
de mata-mata de Libertadores, uma leve desconcentração pode custar, nesse caso,
mais um gol. Os uruguaios se aproveitaram da injeção positiva de ânimo, e
ampliaram em jogada que partiu da saída de bola após o gol alvinegro.
Aos 43,
Pérez pega a defesa do Botafogo dispersa, dá bom passe por cima para Batista,
que domina com categoria e marca. O gol trouxe emoção para os minutos finais,
mas sem tirar o conforto da vantagem construída sete dias antes.
O Botafogo
foi avassalador em um tempo dos quatro contra os uruguaios, e tornou uma virada
história impossível.
A quarta-feira no Centenário teve episódios de sobra de jogo decisivo – até os lamentáveis do lado de fora do estádio -, o que tornou o jogo para “cumprir tabela” em 90 minutos típicos de Libertadores. A glória eterna é logo ali.