Ao tomar posse, Gonet diz que MP é técnico e não busca holofotes
Ao tomar posse, Gonet diz que MP é técnico e não busca holofotes
Novo PGR exalta harmonia entre poderes e respeito à dignidade humana.
Publicado por Felipe Pontes - Brasília
Ao tomar posse nesta segunda-feira (18), o novo procurador-geral da República, Paulo Gonet, disse que a atuação do Ministério Público é técnica e não busca holofotes. Ele exaltou a harmonia entre poderes e o respeito à dignidade humana e às garantias individuais.
“No nosso
agir técnico, não buscamos palco nem holofotes, mas com destemor havemos de ser
fiéis e completos no que nos delegaram os constituintes”, disse Gonet,
referindo-se às regras da Constituição que disciplinam a atuação do MP.
Segundo
Gonet, a instituição vive “momento crucial” na história, sendo “corresponsável
pela preservação da democracia” e do equilíbrio republicano. Gonet frisou que
não cabe ao MP formular políticas públicas, mas garantir o adequado
funcionamento de políticas aprovadas por representantes eleitos.
“A harmonia
entre os Poderes, fundada no respeito devido por cada um deles às altas missões
próprias e dos outros, é pressuposto para o funcionamento proveitoso e resoluto
do próprio Estado Democrático de Direito. A isso, o Ministério Público deve
ater-se e é isso que lhe incumbe propiciar”, disse o PGR.
Em seu discurso, ele sublinhou ainda o compromisso “indeclinável” da procuradoria com o combate à corrupção e às organizações criminosas, mas ressalvou que mesmo os criminosos possuem direitos fundamentais.
“Haveremos
de ser os primeiros a mostrar nossos compromissos com os direitos de dignidade
de todos, mesmo do mais censurável malfeitor, submetendo-nos sempre às
garantias constitucionais dos que estão a nossa volta”, afirmou.
Gonet é o
décimo procurador-geral da República a ser indicado a tomar posse desde a
redemocratização, além de três interinos. Ele substitui a procuradora-geral
interina Elizeta Ramos, que permaneceu 75 dias no cargo.
A posse
ocorre após ele ter sido indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e
de a indicação ter sido aprovado pelo Senado, com placar de 65 votos favoráveis
e 11 contrários, além de uma abstenção.
Atribuições
Uma vez no
cargo, Gonet tem o poder de nomear os ocupantes de postos estratégicos, como o
vice-procurador-geral, que pode substituir o procurador-geral em sustentações
orais e pareceres junto ao Supremo, e o vice-procurador-geral Eleitoral.
O PGR é
também o procurador-geral Eleitoral, a quem cabe atuar perante o Tribunal Superior
Eleitoral, embora tal atribuição costume ser delegado ao vice da área.
Cabe ao
procurador-geral da República atuar, por exemplo, em ações constitucionais
perante o Supremo Tribunal Federal (STF), sendo o PGR uma das autoridades aptas
a questionar leis.
Gonet ficará
à frente também de casos criminais em tramitação no Supremo, envolvendo pessoas
com prerrogativa de foro, como parlamentares federais e autoridades do
Executivo, como ministros e o presidente da República.
Entre os
processos que serão assumidos, e nas quais cabe à PGR apresentar manifestações
e pedir diligências, por exemplo, estão as investigações sobre os atos antidemocráticos
de 8 de janeiro.
Há também
diversas frentes de investigação abertas que têm como alvo o ex-presidente Jair
Bolsonaro, que é alvo da Procuradoria-Geral da República (PGR) em apurações sobre
o 8 de janeiro e em outros casos, como o que trata dos presentes oriundos da
Arábia Saudita, que teriam sido desviados pelo ex-mandatário.
Outro caso
diz respeito à suposta falsificação do cartão de vacinação de Bolsonaro, no
qual teriam sido inseridos registros falsos de vacinação contra covid-19.
Caberá a Gonet também analisar a delação premiada do coronel Mauro Cid,
ex-ajudante de ordens, que trata deste e de outros casos.
Perfil
Nascido no Rio de Janeiro, Paulo Gustavo Gonet Branco tem 62 anos e é um dos 74 subprocuradores da República em atuação na PGR. Ele entrou no Ministério Público Federal (MPF) em 1987. É formado em direito pela Universidade de Brasília (UnB), onde também obteve título de doutorado. Possui mestrado em direitos humanos pela Universidade de Essex, na Inglaterra.
Junto com o
ministro Gilmar Mendes, do STF, é cofundador do Instituto Brasiliense de
Direito Público e foi diretor-geral da Escola Superior do Ministério Público da
União. O subprocurador é autor do livro Curso de Direito Constitucional, escrito
em parceria com Mendes.
Nos
bastidores, Gonet contou com apoio dos ministros de Mendes e também de
Alexandre de Moraes para chegar ao cargo de procurador-geral. Ele também já
atuou como vice-procurador-geral Eleitoral durante a eleição presidencial de
2022, tendo dado parecer favorável à inelegibilidade do ex-presidente Jair
Bolsonaro.
O nome de
Gonet sofreu resistência de entidades jurídicas e movimentos sociais, que
enviaram carta a Lula apontado seu perfil conservador e listando o que seriam
posicionamentos do subprocurador contrários, por exemplo, à política de cotas
em universidades públicas.
Outro ponto
questionado foi sua atuação na Comissão de Mortos e Desaparecidos, na década de
1990, quando Gonet votou contra a responsabilidade do Estado em casos
rumorosos, como o da estilista Zuzu Angel.
Em nota, a
Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) elogiou o perfil de
Gonet, afirmando que a trajetória dele “o qualifica para o exercício da função,
com a independência que o cargo exige e com o olhar na defesa dos valores
essenciais da nossa Constituição, no que contará com nosso apoio”.
Edição:
Maria Claudia