Após quase 50 mortes, protestos por renúncia da presidente do Peru chegam a Lima
Após quase 50 mortes, protestos por renúncia da presidente do Peru chegam a Lima
Milhares marcharam na capital peruana pela primeira vez desde o início das manifestações, contrárias ao governo interino que tomou posse após ex-presidente Pedro Castillo ser destituído e preso por tentar um golpe de estado.
Por g1- 13/01/2023 07h34 Atualizado há 2 horas
Manifestantes que há mais de um mês protestam no Peru pedindo a renúncia da presidente do país, Dina Boluarte, fizeram atos em Lima pela primeira vez desde o início dos atos, que se tornaram conflitos violentos com policiais.
A chegada à capital peruana, onde milhares marcharam durante a noite de quinta-feira (12), é uma importante escalada nos protestos, que se concentravam na região andina do país. Os atos pedem novas eleições no país e a renúncia de Boluarte, que assumiu o poder após o ex-presidente Pedro Castillo ser preso após tentar um golpe de estado.
A situação atual é a seguinte:
As manifestações acontecem principalmente em cidades turísticas como Cusco, Arequipa e Puno, onde começou o movimento;
Segundo registros oficiais, 48 pessoas já morreram durante as manifestações;
Por conta dos conflitos, o aeroporto de Cusco, cidade que costuma estar repleta de turistas e por onde se chega a Machu Picchu, foi fechado;
Os atos são organizadas por setores mais radicais de apoiadores do ex-presidente Pedro Castillo e sindicatos camponeses;
Os manifestantes denunciam uso desproporcional das forças por parte da polícia.
Na quinta-feira (12), houve bloqueios em estradas por manifestações em dez das 25 regiões do país. Em Puno, epicentro do movimento, começaram a ser enterrados os corpos das 17 vítimas dos confrontos da última segunda-feira com as forças de ordem em Juliaca.
Foi o dia mais violento desde o início dos confrontos. Uma bebê recém-nascida também morreu ao não conseguir chegar a um hospital por conta dos bloqueios.
A chegada dos atos em Lima preocupa o governo, que afirmou haver uma tentativa de golpe por parte dos manifestantes.
“A mobilização na capital faz parte de um golpe que querem realizar contra Lima nos próximos dias”, disse o chefe de gabinete do governo, Alberto Otárola.
Otárola, que obteve na terça-feira (10) um voto de confiança no Congresso dominado pela direita, afirmou que as forças de segurança do país defenderão a capital peruana. Ele responsabiliza o ex-presidente preso Pedro Castillo por inflamar os manifestantes. Castillo está preso desde o início de dezembro.
Os manifestantes negam. “Marchamos pelos assassinatos, pelo massacre na região de Puno de nosso irmãos camponeses. Pedimos a renúncia de Dina Boluarte porque é um governo usurpador”, alegou à AFP Rosario Abanto, de 59 anos.
“Lembrarei do meu tio como uma pessoa muito alegre. É uma pena como o perdemos. Não morreu de morte natural, nem de doença, ele foi assassinado”, contou à AFP a moradora de Puno Sonia Quispe. Seu tio, Marco Quispe, de 55 anos, foi enterrado na quinta-feira no cemitério La Capilla da cidade.
Também na quinta, um jovem de 16 anos internado desde segunda-feira por ferimento de bala morreu.
Renúncia de ministro
Os protestos provocaram a primeira baixa no governo. O ministro do Trabalho, Eduardo García, renunciou e pediu para antecipar as eleições para este ano em vez de 2024, como quer Dina Boluarte.
Além da renúncia de Dina Boluarte, os protestos exigem:
O fechamento do Congresso;
A convocação de uma Constituinte para substituir a Carta Magna de 1993, promovida pelo então presidente Alberto Fujimori e que estabelece a economia de mercado como o eixo do desenvolvimento socioeconômico;
Novas eleições em 2023.
Pedro Castillo
Castillo foi destituído pelo Congresso e detido em 7 de dezembro após uma fracassada tentativa de golpe. Ele quis dissolver o Parlamento, intervir na justiça e governar por decreto. Castillo foi destituído, preso e sua então vice-presidente Dina Boluarte, de 60 anos, assumiu a presidência em seu lugar.
Castillo, que já era investigado por corrupção, cumpre 18 meses de prisão preventiva ordenados por um juiz sob acusações de rebelião.
Cusco, turismo e protestos
Em Cusco, uma das cidades mais conhecidas do turismo mundial e ponto de partida para chegar à cidadela de Machu Picchu, o hotel Marriot foi atacado com pedras por manifestantes furiosos após a morte de um líder camponês durante uma confronto com a polícia.
Moradores também queimaram uma cabine no terminal regional de transporte terrestre, atacaram estabelecimentos comerciais e colocaram pedras na linha férrea. Segundo a polícia, 11 pessoas foram presas, incluindo um cidadão colombiano.
A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu que o governo peruano respeite os direitos humanos e evite o uso desproporcional da força para reprimir os protestos. Também solicitou às diversas organizações por trás das manifestações que “se abstenham de atos de violência e exerçam o direito de protestar pacificamente, respeitando a vida e a propriedade pública e privada”.