Apostas esportivas, reforma tributária e mais: propostas que o governo quer aprovar ainda este ano para aumentar arrecadação
Apostas esportivas, reforma tributária e mais: propostas que o governo quer aprovar ainda este ano para aumentar arrecadação
Algumas dessas medidas estão na Câmara, e outras, no Senado – também há texto pendente de sanção. Meta fiscal para 2024 prevê déficit zero, mas, para isso, o governo precisa de mais receita.
Por Filipe Matoso, Luiz Felipe Barbiéri, Kevin Lima, g1 e GloboNews — Brasília
Diante da
manutenção da meta fiscal estabelecida para 2024, que prevê déficit fiscal
zero, o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda passaram a focar a
atuação no Congresso Nacional na aprovação de medidas que elevem as receitas.
Ao enviar ao
Congresso a proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o governo propôs
a meta de déficit zero, isto é, manter os gastos no mesmo nível da arrecadação.
Uma ala do
governo, porém, chegou a defender uma mudança na meta, permitindo ao governo
registrar déficit de 0,50% ou de 0,25%. Prevaleceu, no entanto, o entendimento
da equipe econômica. Com isso, a meta não foi alterada.
Entre as
medidas do governo para aumentar a arrecadação no ano que vem, estão:
– regulamentação
das apostas esportivas;
– subvenção
do ICMS;
– reforma
tributária;
e juros
sobre capital próprio (JCP).
Apostas esportivas
Em linhas gerais, o texto define regras para o funcionamento das casas de apostas esportivas.
Segundo a
página oficial do Senado, o relator, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), estima
que, se aprovada, a proposta pode gerar anualmente para o governo R$ 10 bilhões
em arrecadação.
Entre outros
pontos, o texto estabelece que as casas vão ser taxadas em 12% sobre tudo o que
arrecadarem com os jogos feitos pelos clientes.
Além disso,
define que os apostadores vão ter que pagar uma taxa de 15% sobre os prêmios –
pelo projeto, os apostadores vão pagar a taxa uma vez ao ano, no Imposto de
Renda Pessoa Física, e apenas se o valor do prêmio superar R$ 2.112,00 (mesmo
valor da isenção do Imposto de Renda).
A proposta,
que já passou na Câmara, foi aprovada pela Comissão de Assuntos Econômicos
(CAE) do Senado em 22 de novembro e está na pauta do plenário desta quarta (6).
Subvenção do ICMS
Na semana
passada, o Congresso instalou a comissão mista que vai analisar a medida
provisória que discute limitar a subvenção do ICMS das empresas.
As
subvenções de ICMS são incentivos concedidos pelos estados para atrair negócios
e investimentos.
Pela MP,
esses benefícios não poderão ser usados para reduzir a base de cálculo dos
impostos federais (IRPJ e CSLL) se forem aplicados nas atividades de custeio
(do dia a dia) da empresa. A base de cálculo poderá ser reduzida no caso de o
crédito se destinar a investimentos.
O Ministério
da Fazenda espera arrecadar pelo menos R$ 35 bilhões em 2024 a partir dessa MP.
Isso porque, hoje, empresas utilizam a subvenção do ICMS para custeio e reduzem
a base de cálculo para impostos federais.
O relator,
Luiz Fernando Faria (PSD-MG) afirmou que a intenção é apresentar um parecer até
a próxima quarta-feira (6) e votar na comissão na quinta (7).
Depois da
análise da comissão, o texto ainda precisará passar pelo plenário da Câmara e
do Senado. As regras valerão a partir do ano que vem.
Reforma tributária
Impostos: O
que muda com a reforma tributária?
Impostos: O que muda com a reforma
tributária?
A proposta
de emenda à Constituição (PEC) que atualiza o sistema tributário brasileiro é o
principal projeto da equipe econômica do governo Lula para este ano. A reforma
tributária é vista como uma sinalização do Planalto ao mercado financeiro.
O governo
tem articulado a aprovação integral do texto até o início do recesso
parlamentar, em 23 de dezembro. A proposta já foi aprovada pela Câmara e pelo
Senado, mas sofreu alterações e aguarda nova análise dos deputados.
Relator da
proposta na Câmara, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) se reuniu nesta
segunda (4) com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o relator da proposta
no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), para discutir os próximos passos do texto na
Câmara.
A reforma
simplifica tributos federais, estaduais e municipais. E estabelece a
possibilidade de tratamentos diferenciados, setores com alíquotas reduzidas
como, por exemplo, serviços de educação, medicamentos, transporte coletivo de
passageiros e produtos agropecuários.
A proposta
prevê um Imposto Seletivo — apelidado de “imposto do pecado” — para
desestimular o consumo de produtos nocivos à saúde e ao meio ambiente, e
assegura isenção de tributos para a cesta básica.
Pela PEC,
cinco tributos serão substituídos por dois Impostos sobre Valor Agregado (IVAs)
— um gerenciado pela União, e outro com gestão compartilhada entre estados e
municípios:
Nos últimos
dias, Aguinaldo Ribeiro tem avaliado as mudanças feitas pelo Senado no texto,
que abrangem, de forma geral, a inclusão de novos setores nos tratamentos
diferenciados. Ele também avalia um possível “fatiamento” da PEC.
A hipótese
tem sido discutida desde a aprovação no Senado. Isso porque, para ser
promulgada (ato que torna o texto parte da Constituição), uma PEC depende do
consenso das duas Casas em relação ao texto. Isto é, o teor da proposta
aprovada precisa ser o mesmo tanto na Câmara quanto no Senado.
Com o
“fatiamento”, somente a parte consensual entre deputados e senadores
seria promulgada. O restante do texto continuaria tramitando no Congresso.
Juros sobre capital próprio
O ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, trabalha para aprovar ainda este ano a proposta
que acaba com benefícios tributários que permitem a dedução de juros sobre
capital próprio (JCP) do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e da Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
A proposta,
no entanto, enfrenta resistências no Congresso e em setores da indústria e do
mercado financeiro. Líderes da Câmara sinalizam que o projeto pode ser votado
somente em 2024.
O JCP é uma forma de distribuição dos lucros de uma empresa de capital aberto (que tem ações na bolsa) aos seus acionistas, para remunerar o capital investido.
Atualmente,
esses valores podem ser deduzidos do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e da
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). O texto, apresentado pelo
governo em agosto, propõe acabar com esses benefícios tributários.
Sem sucesso,
o governo tentou incluir a proposta no texto que tratava da taxação de
offshores e fundos exclusivos de investimentos. Mais recentemente, articulou a
inclusão na MP das subvenções.
A ameaça de
parlamentares de travar — ainda mais — a tramitação da MP fez com que o Planalto
recuasse mais uma vez.
A proposta faz parte do pacote do governo para aumentar a arrecadação e tentar atingir a meta de zerar o déficit das contas públicas no ano que vem. A previsão do Ministério da Fazenda é arrecadar R$ 10,5 bilhões com a medida em 2024.