Arcabouço: Haddad diz que não há ‘arestas’ a serem aparadas na negociação da proposta com Lira
Arcabouço: Haddad diz que não há 'arestas' a serem aparadas na negociação da proposta com Lira
Para o ministro, presidente da Câmara é 'homem responsável' e colocará projeto em votação. Lira adiou reunião sobre regra fiscal após falas de Haddad vistas como críticas à Câmara.
Por Alexandro Martello, g1
O ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira (17) que não há
“arestas” a serem aparadas com o presidente da Câmara dos Deputados,
Arthur Lira (PP-AL), na negociação para aprovação do arcabouço fiscal — a nova
regra para as contas públicas.
Nesta
terça-feira (15), Arthur Lira (PP-AL) decidiu adiar em uma semana a reunião
para tratar sobre o projeto do novo arcabouço fiscal. Isso aconteceu depois que
o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deu, no mesmo dia, declarações que
foram consideradas por deputados como críticas à Câmara.
“Não
tem arestas, está tudo resolvido. Isso aí já está contratado [a aprovação do
arcabouço fiscal pela Câmara dos Deputados]. Presidente [Arthur] Lira é um
homem responsável, já falou várias vezes que vai pautar”, declarou o
ministro.
Em
entrevista, Haddad disse na terça-feira que a Câmara dos Deputados “está com
poder muito grande e não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o
Executivo”. Segundo o ministro, o trecho não foi uma crítica à atuação da
Câmara.
Em reunião
com líderes nesta semana, Lira acertou que o encontro para retomar as
discussões sobre projeto será na próxima segunda-feira (21). O texto, segundo o
relator da proposta, Cláudio Cajado (PP-BA), poderá ser votado na semana que vem
ou na última semana do mês, data próxima do limite previsto para o governo
enviar o Orçamento ao Congresso, no dia 31.
Depois de
passar por uma rodada de votação na Câmara e no Senado Federal, o arcabouço
fiscal ainda precisa passar por uma nova análise dos deputados para seguir
adiante. Se aprovado, segue para sanção presidencial.
O que prevê a proposta de arcabouço?
A proposta
de arcabouço fiscal do governo Lula, que ainda necessita de uma nova aprovação
pela Câmara dos Deputados para ter validade, contempla:
– que o
crescimento dos gastos públicos fique limitado a 70% do crescimento da
arrecadação do governo (exemplo: se a arrecadação subir 2%, a despesa poderá
aumentar até 1,4%);
– mesmo que
arrecadação do governo cresça muito, será necessário respeitar um intervalo
fixo no crescimento real dos gastos, variando entre 0,6% e 2,5%,
desconsiderando a inflação do período.
Além disso,
foram fixadas metas para as contas públicas nos próximos anos. Veja abaixo:
– zerar o
déficit público da União no próximo ano;
– superávit
de 0,5% do PIB em 2025;
– superávit
de 1% do PIB em 2026.
O que aconteceria sem o arcabouço
De acordo
com Felipe Salto, economista-chefe da Warren Rena e ex-diretor-executivo da
Instituição Fiscal Independente, a rejeição do arcabouço fiscal seria uma
“hecatombe política”, um desafio de “magnitude grande”, que
representaria uma redução de gastos superior a R$ 130 bilhões em 2024.
Ele não
acredita, porém, na rejeição da proposta. “Não vejo essa hipótese se
materializando [rejeição do arcabouço]. Meu cenário base é aprovação do
arcabouço”, declarou Salto ao g1 no começo de agosto.
Segundo ele,
se o texto não for aprovado, uma PEC seria rapidamente proposta contemplando
outra regra fiscal. “Não tenho dúvida, para construir uma ponte, uma
transição. Não vejo a menor chance de retorno ao antigo teto de gastos, que
pagou o preço pelo pecado original”, acrescentou o economista.
Medidas para aumentar a arrecadação
Questionado
por jornalistas sobre a resistência do Congresso Nacional em aprovar as medidas
de aumento de arrecadação, necessárias para que o governo tente atingir a meta
de déficit zero nas contas do governo em 2024 – conforme prevê a proposta do
arcabouço fiscal –, Haddad afirmou que isso é “natural da democracia”.
“Temos que
entender que as pessoas têm o seu tempo de amadurecer as ideias. E nos temos
que levar informação. A reforma tributária levou 40 anos para ser feita, mas
foi feita em seis meses. O Carf, a solução foi dada em janeiro, estamos
resolvendo agora. É assim, negociação, informação, consideração”, declarou o
ministro.
Segundo ele,
entretanto, é preciso que haja, no Legislativo, abertura ao diálogo. “Para que
possamos apresentar a todo o Congresso que essas soluções são absolutamente
condizentes com o padrão internacional (…) Estamos adotando as melhores
práticas”, acrescentou.
Entre as medidas “saneadoras” para aumentar a arrecadação e tentar zerar o rombo das contas públicas em 2024, o governo enviou uma proposta para tributar patrimônio de brasileiros no exterior e indicou que vai propor a taxação dos chamados “fundos exclusivos”, detidos pela parcela mais rica da população, e também o fim dos juros sobre capital próprio – uma forma de distribuição de lucros por empresas de capital aberto aos seus acionistas.