‘Ataque à democracia’: imprensa internacional repercute invasão de Brasília por bolsonaristas
'Ataque à democracia': imprensa internacional repercute invasão de Brasília por bolsonaristas
Invasão de Brasília por bolsonaristas que depredaram Congresso Nacional, STF e Palácio do Planalto foi destaque da imprensa internacional nesta segunda-feira (9/1).
Por BBC 09/01/2023 07h53 - Atualizado há um minuto
A invasão de
Brasília por bolsonaristas que depredaram o Congresso Nacional, o Supremo
Tribunal Federal e o Palácio do Planalto foi destaque da imprensa internacional
nesta segunda-feira (9/1). O tema foi o principal destaque nas capas de
praticamente todos os grandes veículos internacionais de imprensa, como New
York Times, Wall Street Journal, Financial Times, Economist e El País — entre
outros.
O jornal
espanhol El País publicou um editorial intitulado “Ataque à Democracia no
Brasil” em que opina que “Lula terá que impor a lei e punir sem
atenuantes os culpados da agressão”.
O El País
criticou Bolsonaro, dizendo que o ex-presidente “esperou várias horas
antes de falar da Flórida, para onde foi para evitar comparecer à cerimônia de
transferência de poder”.
“Só
após o fracasso do ataque ele afirmou que ‘invasão de prédios públicos está
fora de regra’ e repudiou as acusações que o implicavam no atentado.
Foram palavras tardias, mesquinhas diante da gravidade dos acontecimentos e que mostram, mais uma vez, o perigo que Bolsonaro sempre representou para a democracia”, afirma o jornal espanhol em seu editorial.
“Por
trás do que aconteceu [em Brasília] está, em última análise, não apenas a
incapacidade de Bolsonaro de aceitar a derrota, mas o veneno de uma estridente
extrema-direita que, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil e em outros
países, não é capaz de aceitar as regras do jogo democrático e procura por
todos os meios, incluindo a força bruta, tomar o poder.”
“O
episódio vivido neste domingo em Brasília, como o ataque ao Capitólio (nos EUA)
há dois anos, deve servir como lembrete do enorme perigo que representam esses
movimentos radicais e da necessidade de as forças democráticas permanecerem
unidas e evitarem dar-lhes oxigênio.”
O editorial
conclui que Lula não terá uma “jornada fácil” pela frente para lidar
com a crise política no Brasil.
“Seu
antecessor deixou um país quebrado e a gravíssima crise deste domingo só
aprofundou essa fratura. Para superá-la, Lula terá que impor a lei e punir os
culpados sem atenuantes, mas também apelar para os valores que lhe permitiram
vencer nas urnas e avançar em um caminho que permita aos brasileiros recuperar
a normalidade democrática.”
A revista
britânica The Economist comparou a invasão de Brasília ao ataque ao Capitólio
em 2021 por apoiadores do ex-presidente Donald Trump.
“Mas se
os distúrbios em Washington revelaram lapsos na inteligência e na coordenação
da polícia, a versão brasileira sugere que há algo mais sinistro. Embora não
haja evidências de que a polícia foi cúmplice da insurreição, eles foram, no
mínimo, passivos.
Logo após o
início da invasão do Congresso em Brasília, um grupo de policiais foi flagrado
conversando com manifestantes, tirando selfies e filmando o caos, em vez de
agir para detê-lo”, escreveu a revista.
“Os
pedidos de reforço do chefe da polícia do Senado ao governador do Distrito
Federal, que é aliado de Bolsonaro, foram ignorados até o final da tarde. (Em
uma aparente tentativa de livrar sua cara mais tarde, ele demitiu seu
secretário de segurança, que foi ministro da Justiça de Bolsonaro.)”
A revista
afirma que o governo Lula precisará concentrar seus esforços em lidar com essa
crise, adiando qualquer outro plano.
“A
intervenção federal dá ao governo de Lula amplos poderes para investigar e
demitir qualquer policial que tenha violado seus deveres por causa de suas
convicções políticas. Isso poderia dar início a esforços de reforma semelhantes
em outros Estados brasileiros.
Isso pode
desviar a atenção de outros assuntos urgentes, como uma série de reformas
econômicas urgentes. Quaisquer reformas que exijam mudanças constitucionais
terão que esperar até que a intervenção federal termine.”
“Depois
de anos de tumulto político e econômico, os brasileiros estão desesperados por
estabilidade. Eles vão ter que esperar um pouco mais”, diz a Economist.
O jornal
americano The New York Times disse que a invasão de Brasília “foi o ápice
violento de incessantes ataques retóricos aos sistemas eleitorais do país por
parte de Bolsonaro”, que fez falsas alegações contra a eleição de outubro,
quando foi derrotado por Lula.
O New York
Times afirma que Bolsonaro está “entocado há milhares de milhas na
Flórida”, enquanto a violência ocorria em Brasília. Em outro artigo, o
jornal americano comparou a invasão de Brasília com o ataque ao Capitólio.
Em ambos os
casos, segundo o jornal, os movimentos foram fomentados por líderes derrotados
nas urnas que acusaram fraudes eleitorais sem provas — Donald Trump e Jair
Bolsonaro.
O jornal
americano Washington Post destacou o papel das redes sociais na depredação de
Brasília por bolsonaristas.
“Nas
semanas que antecederam os violentos ataques de domingo ao Congresso do Brasil
e outros prédios do governo, os canais de mídia social do país estavam cheios
de apelos para que se atacasse postos de gasolina, refinarias e outras infraestruturas,
bem como para que as pessoas viessem a uma ‘festa do grito de guerra’ na
capital, de acordo com pesquisadores brasileiros de mídia social.”
“Pesquisadores
brasileiros disseram que entre os apoiadores de Bolsonaro, uma contranarrativa
começou a circular no domingo, culpando o governo Lula e pessoas do partido de
Lula por se infiltrarem em manifestações pacíficas e democráticas para virar o
país contra os apoiadores de Bolsonaro.
A
contranarrativa também lembra a insurreição de 6 de janeiro, na qual muitos
apoiadores de Trump culparam ativistas de esquerda pela violência.”
O britânico Financial Times destacou que “embora os prédios do governo estivessem desocupados e o Congresso não estivesse em sessão, as violações provavelmente levantarão dúvidas sobre a segurança das instituições políticas e judiciais do Brasil. O incidente também apresenta escolhas difíceis para Lula, que assumiu a presidência há apenas uma semana prometendo unir a nação, mas estará sob pressão para reprimir os apoiadores radicais de Bolsonaro”.