Autorização dos EUA para uso de mísseis de longo alcance contra a Rússia é vitória para Zelensky, mas deverá ser limitada
Autorização dos EUA para uso de mísseis de longo alcance contra a Rússia é vitória para Zelensky, mas deverá ser limitada
Aval americano visa a fortalecer a Ucrânia a dois meses antes de Trump assumir o governo americano.
Por G1
A dois meses
de passar o bastão para Donald Trump, o presidente Joe Biden aproveita a
reunião do G20, no Rio de Janeiro, para deixar saber a sua decisão de
flexibilizar as restrições ao uso de mísseis americanos de longo alcance, para
que a Ucrânia possa atingir alvos dentro da Rússia. A medida tem caráter
simbólico, mas é significativa para a Ucrânia, que vem enfrentando dias difíceis
para conter o avanço russo.
Os EUA
resistiram muito a permitir que a Ucrânia lançasse os mísseis ATACMS, com
alcance de 300 quilômetros, no território russo por medo de que isso
representasse uma escalada no curso da guerra, que completa, nesta terça-feira,
mil dias.
Em setembro,
o presidente Vladimir Putin deixou claro que a Rússia encararia uma decisão
desse tipo como o envolvimento direto da Otan no conflito militar, ou seja, uma
agressão à Rússia. A afirmação foi reforçada nesta segunda-feira pelo porta-voz
do Kremlin, Dmitry Peskov, que disse acreditar que o presidente americano está
colocando “lenha na fogueira” do conflito na Ucrânia.
Biden, em
certa medida, está pagando para ver, ao reverter a proibição do lançamento de
mísseis em território russo. O presidente americano tenta assegurar, num
esforço de última hora, o apoio adicional a Volodymyr Zelensky antes da posse
de Trump, em 20 de janeiro. Ele deverá ser seguido por seus aliados europeus,
como o Reino Unido, por exemplo, que permitirá que a Ucrânia use os mísseis de
longo alcance Storm Shadow na Rússia.
Sem dizer
como, Trump enfatizou que terminará a guerra entre Rússia e Ucrânia em poucos
dias após a posse e sinalizou, em diversas ocasiões, que suspenderia a ajuda
militar ao país. “Acho que Zelensky é o maior vendedor da história. Toda vez
que vem ao nosso país, ele vai embora com US$ 60 bilhões de dólares”, repetiu,
com exageros, durante a campanha eleitoral.
A
autorização de Biden ao lançamento de mísseis de longo alcance tem como
objetivo atingir tropas russas e norte-coreanas na região russa de Kursk, tomada
em agosto pela Ucrânia. O ditador Kim Jong-un mandou 12 mil soldados para
reforçar o Exército russo. “Estamos lutando agora contra dois países,
Rússia e Coreia do Norte”, chiou Zelensky.
A questão é
o quanto o uso desses mísseis impactará o rumo da guerra, mas analistas
militares especulam que sua ação será restrita. Não está claro, por exemplo,
quantos ATACMS a Ucrânia possui. Sabe-se que algumas dessas armas já foram
utilizadas em alvos russos dentro do território ucraniano.
O Kremlin
descreve a medida dos EUA como “uma nova reviravolta na escalada” no
conflito e antecipou que o país reagirá “apropriadamente”. O atual
governo americano se ampara na tese de que a permissão ao lançamento de mísseis
americanos é uma reação a uma escalada russa, e visa a propiciar melhores
condições a Zelensky.
O aval americano, contudo, chega tarde. Seu efeito deve ser limitado pela chegada de Trump ao poder.