Banco Central deve baixar juros nesta quarta pela primeira vez em três anos; veja efeitos na prática
Banco Central deve baixar juros nesta quarta pela primeira vez em três anos; veja efeitos na prática
Corte da taxa no Brasil tende a ser repassada aos clientes e, com isso, favorece crescimento da economia. Também melhora o perfil das contas públicas, pois gastos com juros recuam.
Por Alexandro Martello, g1 — Brasília 02/08/2023 00h00 - Atualizado há 12 minutos
O Comitê de
Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (2) e
deve iniciar o ciclo de corte nos juros básicos da economia brasileira. A decisão
será anunciada após as 18h.
Se
confirmado, esse será o primeiro corte dos juros em três anos. A última queda
aconteceu em agosto de 2020, em meio à fase mais aguda da pandemia da Covid-19,
quando a taxa Selic caiu de 2,5% para 2% ao ano (o nível mais baixo da
história).
Atualmente,
a taxa Selic está em 13,75% ao ano, o maior nível em seis anos e meio.
A
expectativa da maior parte do mercado financeiro, em pesquisa realizada pelo BC
com mais de 100 bancos na semana passada, é de um corte de 0,25 ponto
percentual, para 13,50% ao ano. Mas há analistas que projetam uma redução
maior, de 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano.
Desde o
início do mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e integrantes do seu
governo vêm criticando o BC por manter a taxa em 13,75%. O presidente do BC,
Roberto Campos Neto, argumenta que a manutenção da taxa foi importante para
conter a inflação. Campos Neto tem autonomia, ou seja, não pode ser demitido
por Lula.
A queda da
inflação nos últimos meses pode ser um fator que leve à redução dos juros nesta
quarta.
Em maio, a
inflação oficial desacelerou para 0,23% de alta. E, em junho, foi registrada
deflação, ou seja, queda de preços, de 0,08%.
Consequências de juros menores
De acordo
com especialistas, a redução da taxa de juros no Brasil terá várias
consequências para a economia. Veja abaixo algumas delas:
Redução das
taxas bancárias: a tendência é que os cortes de juros sejam repassados aos
clientes. Em junho, antes mesmo do início do ciclo de corte da Selic pelo BC
brasileiro, os juros médios dos bancos já começaram a recuar. Foi a primeira
queda neste ano.
Maior nível
de atividade: Com juros mais baixos, a expectativa é de que comece a haver um
comportamento melhor do consumo da população e, também, melhora dos
investimentos produtivos, impactando positivamente o Produto Interno Bruto
(PIB), o emprego e a renda.
“No
momento que a taxa de juros cai, gera-se um incentivo para o empresário e a
indústria faz mais investimentos no seu negócio. Ter uma taxa de juros mais
baixa vai fazer com que a população busque financiamentos e que as empresas
destravem e façam investimentos necessários”, afirmou Rodrigo Azevedo,
economista e sócio-fundador da GT Capital.
Melhora das
contas públicas: as reduções de juros também favorecem as contas públicas, pois
diminuem as despesas com juros da dívida pública. Em 2022, a despesa com juros
somou R$ 586 bilhões. Na porcentagem do PIB (5,96%), foi o maior patamar desde
2017.
Com o recuo
dos juros, haverá uma pressão menor de despesas, o que favorece o perfil do
endividamento brasileiro.
No fim do
mês passado, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, calculou que se a
taxa básica de juros estivesse em 10% ao ano, em vez dos atuais 13,75%, a
economia nos gastos com juros da dívida pública permitiria o pagamento anual de
quase um Bolsa Família.
Impacto nas
aplicações financeiras: investimentos em renda fixa, como no Tesouro Direto e
em debêntures, porém, tendem a ter um rendimento menor do que teriam com juros
mais elevados.
De acordo
com análise do Paraná Banco Investimentos, entretanto, a renda fixa ainda é um
bom investimento. Nesse caso, os papéis pré-fixados são os mais recomendados
quando tem início um ciclo de queda nos juros.
“Quanto
aos investimentos de longo prazo, os títulos indexados à inflação são uma opção
interessante para garantir um ganho real”, acrescentou a instituição.
Juros lá fora
A reunião do Copom acontece em um momento no qual os bancos centrais de países desenvolvidos ainda estão elevando a taxa de juros – para conter pressões inflacionárias – ou mantendo-as estáveis.
O Federal
Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, aumentou os juros do país no
fim de julho em 0,25 ponto percentual, para uma faixa de 5,25% a 5,50% ao ano —
marcando o maior nível das taxas desde 2001.
O Banco
Central Europeu (BCE) elevou a taxa de juros da zona do Euro em 0,25 ponto
percentual na última semana, de 3,5% para 3,75% ao ano. A presidente do BCE,
Christine Lagarde, sinalizou que pode haver uma pausa no ciclo de aumento dos
juros.
O Banco
Central do Canadá subiu sua taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual em
meados de julho, para 5% ao ano.
O Banco
Central da Suíça aumentou a taxa de juros pela quinta vez seguida no final de
junho, para 1,75% ao ano.
O Banco
Central do Reino Unido elevou sua taxa básica de juros, também no final de
junho, em 0,5 ponto percentual, para 5% ao ano.
A redução da
taxa básica de juros no Brasil deve acontecer nesta quarta-feira após pressão
de Lula e, também, da queda da inflação nos últimos meses.
O presidente
do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou em maio que a estratégia da
instituição foi de iniciar o processo de alta dos juros mais cedo do que em
outros países.
“Consideramos
que essa abordagem proativa de política monetária [definição da Selic para
conter a inflação], que levou a taxa básica de juros a um território
significativamente restritivo [alto], foi oportuno. Note-se que que essa
estratégia começa a dar resultado. A inflação no Brasil começou a diminuir
significativamente mais cedo em comparação a outros países em
desenvolvimento”, disse Campos Neto, na ocasião.
Como as decisões são tomadas
Para definir
a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas
de inflação, o BC olha para frente.
Neste
momento, a instituição já está mirando na meta do ano que vem, e também para o
início de 2025 (em doze meses). Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic
demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.
A meta de
inflação do próximo ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de
3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Na semana
passada, os economistas do mercado financeiro reduziram a estimativa de
inflação deste ano, de 4,95% para 4,90%, e passaram a projetar uma inflação de
3,90% para 2024.
A
expectativa do mercado financeiro é de que os juros continuem recuando nos
próximos meses e que terminem 2023 em 12% ao ano, e 2024 em 9,25% ao ano.
Isso
aconteceu porque os juros do mercado futuro, pactuados entre as instituições
financeiras com base nas expectativas para a economia brasileira, já começaram
a recuar (antecipando o corte da Sellic).