Barroso nega crise entre Supremo e Congresso
Barroso nega crise entre Supremo e Congresso
Presidente do STF disse que pretende dialogar com o Legislativo.
Publicado por André Richter - Repórter da Agência Brasil - Brasília
O presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, negou nesta
sexta-feira (29) que exista uma crise institucional entre a Corte e o Congresso
em função de decisões recentes, como o marco temporal para demarcação de terras
indígenas.
Na primeira
coletiva de imprensa após tomar posse, Barroso disse que a Constituição
brasileira cuida de diversas questões, como saúde, educação, proteção do meio
ambiente, criando “superposições” do Judiciário sobre matérias
políticas. Contudo, o presidente negou interferência do STF nas atribuições do
Congresso.
Nesta
semana, após o Supremo finalizar o julgamento e vetar a aplicação do marco
temporal, por 9 votos a 2, o Senado aprovou o marco. A aprovação ocorreu no
mesmo dia do julgamento pelo plenário da Corte.
“Pretendo
dialogar com o Congresso de uma forma respeitosa e institucional, como deve
ser. Sinceramente, eu diria que não há crise. O que existe, como em qualquer
democracia, é a necessidade de relações institucionais fundadas no
diálogo”, afirmou.
O presidente
também defendeu a nomeação de mulheres para cargos no Judiciário, mas evitou
comentar a indicação que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá fazer
para a vaga deixada pela ministra Rosa Weber.
“Eu
defendo a feminilização dos tribunais de uma maneira geral. Mas, essa é uma
prerrogativa do presidente [Lula]”, completou.
Marco Temporal
Sobre o
marco temporal, Barroso disse que o Congresso poderá ter a última palavra sobre
a questão se a aprovação do marco não ferir uma cláusula pétrea da Constituição.
“Em não
se tratando de decisão sobre cláusula pétrea, o Congresso, no fundo, é quem tem
a última palavra, porque ele sempre pode produzir uma emenda constitucional,
revertendo uma interpretação do STF. Se for cláusula pétrea, não pode”,
afirmou.
Forças Armadas
O presidente
do STF também comentou a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que
retirou as Forças Armadas do grupo de fiscalização das eleições. Os militares
foram incluídos na comissão de transparência em 2021, quando Barroso presidiu a
corte eleitoral.
“As
Forças Armadas eram fiscalizadoras das eleições desde antes da minha gestão no
TSE. O que eu criei, diante das acusações injustas e falsas de fraude, foi uma
comissão de transparência. Lamentavelmente, as coisas não se passaram bem ali,
porque o desejo era para que contribuíssem para a transparência e para a
segurança, e trabalharam para levantar desconfianças”, concluiu.
Perfil
Barroso tomou posse ontem (29) na presidência da Corte e cumprirá mandato de dois anos. Ele chegou ao Supremo em 2013, indicado pela então presidente Dilma Rousseff para a vaga deixada pelo ministro Carlos Ayres Britto, aposentado em novembro de 2012 ao completar 70 anos.
O ministro
nasceu em Vassouras (RJ), é doutor em direito público pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e mestre em direito pela Yale Law School, nos
Estados Unidos.
Antes de
chegar ao Supremo, atuou como advogado privado e defendeu diversas causas na
Corte, entre elas a interrupção da gravidez nos casos de fetos anencéfalos,
pesquisas com células-tronco, união homoafetiva e a defesa do ex-ativista
Cesare Battisti.
Matéria
ampliada às 18h01 para inclusão de declarações de Barroso sobre marco temporal
e Forças Armadas.
Edição:
Juliana Andrade