BC aumenta projeção de crescimento do PIB de 2% para 2,9%
BC aumenta projeção de crescimento do PIB de 2% para 2,9%
Estimativa de inflação se mantém em 5% este ano.
Publicado por Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil - Brasília
O Banco
Central (BC) elevou a projeção para o crescimento da economia este ano. A
estimativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todos os
bens e serviços produzidos no país) passou de 2% para 2,9%, em razão,
sobretudo, da “surpresa com o crescimento no segundo trimestre”. A projeção
consta do Relatório de Inflação, publicação trimestral do BC, divulgado nesta
quinta-feira (28).
Além disso,
e em menor medida, o BC faz previsões “ligeiramente mais favoráveis” para a
evolução da indústria, de serviços e do consumo das famílias no segundo
semestre de 2023.
No segundo
trimestre do ano a economia brasileira, superando as projeções, cresceu 0,9%,
na comparação com os primeiros três meses, de acordo com o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação ao segundo trimestre do ano
passado, a economia brasileira avançou 3,4%. O PIB acumula alta de 3,2% no
período de 12 meses. No semestre, a alta acumulada é de 3,7%.
“A atividade
econômica surpreendeu novamente no segundo trimestre”, destacou o BC no
relatório, ponderando que o forte crescimento no primeiro semestre do ano se
deve, em parte, a fatores transitórios. “Permanece a perspectiva de que a atividade
cresça em ritmo menor nos próximos trimestres e ao longo de 2024”, avalia.
No primeiro
trimestre deste ano, o setor agropecuário puxou o crescimento do PIB de 1,9%,
devido ao ótimo resultado das safras recordes de soja e milho. No segundo
trimestre, os desempenhos da indústria e dos serviços explicaram também a alta
do crescimento da economia.
“Os impactos
diretos e indiretos da forte alta da agropecuária no primeiro semestre de 2023
devem se dissipar no restante do ano e, para 2024, não se projeta alta tão expressiva
do setor”, avalia o BC.
Outro
impulso transitório no primeiro semestre, e que não deve se repetir na mesma
magnitude, segundo o relatório, foi a expansão dos benefícios previdenciários –
influenciados por alta do salário mínimo e por mudanças de calendário que
anteciparam pagamentos para o primeiro semestre – e de assistência social sobre
a renda das famílias.
A política
monetária se situa “em terreno contracionista e há a expectativa de que se
mantenha assim no horizonte de previsão, ainda que esteja sendo gradualmente
flexibilizada”.
“Por fim, o
cenário externo mostra-se mais incerto, com perspectiva de desaceleração da
atividade econômica nos países avançados, em ambiente de pressões
inflacionárias persistentes, e de menor crescimento para a economia chinesa”,
explicou o BC.
Na política
de juros, na semana passada o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC
decidiu reduzir a taxa básica de juros, a Selic, de 13,25% ao ano para 12,75%
ao ano. O comportamento dos preços fez o BC cortar os juros pela segunda vez no
semestre, em um ciclo que deve seguir com cortes de 0,5 ponto percentual nas
próximas reuniões.
Ainda assim,
em ata divulgada na terça-feira (26), o Copom reforçou a necessidade de se
manter uma política monetária ainda contracionista, para que se consolide a
convergência da inflação para a meta em 2024 e 2025 e a ancoragem das
expectativas. As incertezas nos mercados e as expectativas de inflação acima da
meta preocupam o BC e são fatores que impactam a decisão sobre a taxa básica de
juros.
A Selic é o
principal instrumento do BC para alcançar a meta de inflação, porque a taxa
causa reflexos nos preços, já que juros mais altos encarecem o crédito e
estimulam a poupança, evitando a demanda aquecida. Os efeitos do aperto
monetário, entretanto, são sentidos no encarecimento do crédito e na
desaceleração da economia. Já para incentivar a produção e o consumo, diante de
preços controlados, o Copom diminui a Selic.
Setores
Em 2022, a
economia brasileira cresceu 2,9%, após alta de 5% em 2021 e recuo de 3,3% em
2020. O setor de serviços foi o que mais contribuiu para o crescimento do PIB
no ano passado. Segundo o BC, os segmentos do setor foram severamente afetados
pela pandemia da covid-19, inicialmente, mas desde então apresentam trajetórias
de crescimento.
Para este
ano, sob a ótica da oferta, a alta na projeção de crescimento do PIB reflete
elevação nas projeções para os três setores: agropecuária, indústria e
serviços.
A estimativa
para o crescimento da agropecuária passou de 10% para 13%, refletindo melhora
nos prognósticos do IBGE para a produção agrícola, principalmente de soja, de
milho e de cana-de-açúcar, e crescimento do abate de animais no primeiro semestre
maior do que o antecipado.
“Apesar da
contribuição bastante positiva da agropecuária para o resultado do PIB no ano,
o setor deve contribuir negativamente para as variações trimestrais do PIB ao
longo do segundo semestre, sobretudo no terceiro trimestre, visto que a maior
parte da colheita dos produtos com os maiores crescimentos anuais ocorreu na
primeira metade do ano”, explicou o BC.
Para a
indústria, a previsão foi alterada de 0,7% para 2%, com melhora nos
prognósticos para a construção; para a “produção e distribuição de
eletricidade, gás e água”; e, especialmente, para a indústria extrativa. Nesse
último componente, houve elevado crescimento da produção de minério de ferro e
de petróleo na primeira metade do ano. “Tal expansão se deu em ritmo superior
ao compatível com os guidances [orientações] de produção dos principais
produtores dessas commodities disponíveis à época do relatório anterior [em
junho]”, diz o documento.
Ainda sobre
a oferta, para o setor de serviços a projeção foi revista de 1,6% para 2,1%,
com melhora nas previsões para todas as atividades, com exceção de comércio,
bastante influenciado pelo desempenho da indústria de transformação, que segue
com previsão de recuo em 2023.
“A alta da
projeção reflete surpresas positivas no segundo trimestre bastante
disseminadas, bem como a ligeira melhora nos prognósticos para as variações
trimestrais das atividades do setor terciário no segundo semestre”, explicou a
autoridade monetária.
Com relação
aos componentes domésticos da demanda, houve alta nas projeções para o consumo
das famílias de 1,6% para 2,8% e para o consumo do governo, de 1% para 1,8%.
Para a formação bruta de capital fixo (investimentos) das empresas o recuo
previsto passou de 1,8% para 2,2%.
A projeção
para a variação das exportações este ano foi revisada de 3,7% para 6,7%,
repercutindo, principalmente, prognósticos mais favoráveis para os embarques de
produtos agropecuários e da indústria extrativa. A previsão para as importações
continuou sendo de estabilidade em relação ao ano anterior.
Previsão para 2024
Pela
primeira vez, o BC apresentou a previsão de crescimento do PIB para 2024, de
1,8%, com variações nos componentes da oferta e da demanda mais homogêneas do que
as previstas para este ano.
Pelo lado da
oferta, agropecuária, indústria e serviços devem crescer, respectivamente,
1,5%, 2% e 1,8%.
Na demanda
doméstica, as taxas de variação esperadas para o consumo das famílias, o
consumo do governo e a formação bruta de capital fixo são 1,9%, 1,5% e 2,1%,
respectivamente.
Exportações
e importações de bens e serviços devem crescer 1,5% e 1,6%, respectivamente.
Inflação
A previsão de inflação, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), para este ano se manteve em 5%, a mesma do relatório de junho. Para isso, o BC projeta cenário com taxa básica de juros em 11,75% ao ano e câmbio em R$ 4,90.
Para 2024 e
2025, a expectativa é que o IPCA fique em 3,5% e 3,1%, respectivamente. Nessa
trajetória, a taxa Selic chega ao final de 2024 e 2025 em 9% e 8,5% ao ano,
respectivamente.
O relatório
destaca que a chance de a inflação oficial superar o teto da meta este ano
subiu de 61% no relatório de junho para 67% agora em setembro.
A meta para
este ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3,25% de
inflação, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para
baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,75% e o superior 4,75%. Para 2024 e 2025,
o CMN estabeleceu meta de 3% para o IPCA, nos 2 anos, com o mesmo percentual de
tolerância.
“Na
comparação com o Relatório de Inflação anterior, no cenário de referência, as
projeções de inflação tiveram poucas alterações. Vários fatores atuaram para
cima e para baixo, mas tenderam em boa medida a se compensarem”, explicou o BC.
Os
principais fatores de revisão para cima são a trajetória mais baixa da taxa
Selic da pesquisa Focus; a forte subida do preço do petróleo; e os indicadores
de atividade econômica mais fortes do que o esperado. Já as revisões para baixo
são influenciadas pela inflação observada recentemente menor do que a esperada
e pela queda das expectativas de inflação.
“Quando se
consideram os grupos de preços livres e administrados, na comparação com o
relatório anterior, destaca-se o movimento oposto entre preços livres e
administrados. Em particular, para2023, houve queda significativa na projeção
da inflação de preços livres, puxada principalmente por alimentação no
domicílio, e forte aumento na projeção para administrados, impactada pelo
acentuado crescimento do preço do petróleo”, diz o relatório do BC.
As previsões
do mercado estão mais otimistas que as oficiais. De acordo com o boletim Focus,
pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação
oficial deverá fechar o ano em 4,86%.
Edição:
Fernando Fraga