Brasil tem 822 mil estupros por ano ou dois por minuto, estima Ipea
Brasil tem 822 mil estupros por ano ou dois por minuto, estima Ipea
Apenas 8,5% chegam à polícia e 4,2% ao sistema de saúde.
Publicado em 02/03/2023 - 11:02 Por Ana Cristina Campos – Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
Estudo
publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) chama a atenção
para um problema crítico no Brasil e que afeta principalmente as mulheres: o
número estimado de casos de estupro no país por ano é de 822 mil, o equivalente
a dois por minuto.
O estudo se
baseou em dados da Pesquisa Nacional da Saúde, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (PNS/IBGE), e do Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, tendo 2019 como ano de referência.
De acordo com o Sinan, a maior quantidade de casos de estupro ocorre entre
jovens, com o pico de idade aos 13 anos.
Com base
nessa estimativa, o Ipea também calculou a taxa de atrito para o país, ou seja,
a proporção dos casos estimados de estupro que não são identificados nem pela
polícia, nem pelo sistema de saúde. A conclusão é que, dos 822 mil casos por
ano, apenas 8,5% chegam ao conhecimento da polícia e 4,2% são identificados
pelo sistema de saúde.
“O quadro é
grave, pois, além da impunidade, muitas das vítimas de estupro ficam
desatendidas em termos de saúde, já que, como os autores ressaltam, a violência
sexual contra as mulheres frequentemente está associada a depressão, ansiedade,
impulsividade, distúrbios alimentares, sexuais e de humor, alteração na
qualidade de sono, além de ser um fator de risco para comportamento suicida”,
diz o Ipea.
Quanto às relações entre agressores e vítimas de estupro, notam-se quatro grupos principais: os parceiros e ex-parceiros, os familiares (sem incluir as relações entre parceiros), os amigos/conhecidos e os desconhecidos.
Neste
cenário, a estimativa de 822 mil estupros por ano é, de acordo com os
responsáveis pela pesquisa, conservadora. Pesquisador do Ipea e um dos autores
do estudo, Daniel Cerqueira afirmou que faltam pesquisas especializadas sobre
violência sexual abrangendo o universo da população brasileira. Segundo ele,
uma limitação das análises é que elas se fundamentam inteiramente numa base de
registros administrativos (Sinan).
“O registro
depende, em boa parte dos casos, da decisão da vítima, ou de sua família, por
buscar ajuda no Sistema Único de Saúde”, disse, em nota, o pesquisador. Segundo
o Ipea, dessa forma, o número de casos notificados difere “substancialmente da
prevalência real, pois muitas vítimas terminam por não se apresentar a nenhum
órgão público para registrar o crime, seja por vergonha, sentimento de culpa,
ou outros fatores”.
Edição:
Denise Griesinger