Campanha da OMS alerta sobre malefícios do tabaco ao meio ambiente
Campanha da OMS alerta sobre malefícios do tabaco ao meio ambiente
Fumo provoca quatro vezes mais doenças coronarianas.
Publicado em 31/05/2023 - 08:12 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
“Precisamos
de comida, não de tabaco”, reforça o tema, em português, da campanha da
Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Dia Mundial sem Tabaco, comemorado
nesta quarta-feira (31). A campanha chama a atenção para a sobrevivência humana
e para os impactos negativos do tabaco para o meio ambiente. Em entrevista à
Agência Brasil, o diretor executivo da Fundação do Câncer, cirurgião oncológico
Luiz Augusto Maltoni, reconheceu que esse é um desafio imenso ainda.
“Porque a
gente sabe que o Brasil é um grande produtor de tabaco, principalmente na
Região Sul. E é difícil sensibilizar aquela população do cultivo de que é
importante mudar a cultura para outros tipos de plantio. Sobretudo porque
naquela região existem incentivos por parte dos governos locais. Fica difícil
mudar uma cultura que vem, muitas vezes, de gerações de famílias que cultivam
tabaco. É um trabalho que ocorre não só no Brasil, mas no mundo todo e a OMS
pegou isso como uma bandeira importante no contexto todo do controle do
tabaco”, disse o médico.
Além de
causar dependência, o fumo provoca quatro vezes mais doenças coronarianas,
acidente vascular cerebral (AVC); 12 vezes mais doenças de pulmão; no caso das
mulheres, de 12 a 13 vezes mais câncer de pulmão; no caso do homem, mais 23
vezes câncer de pulmão. “A gente está cansado de saber o mal que o hábito de
fumar traz para o organismo humano. Fora isso, a ideia este ano é chamar a
atenção para o mal que faz para a natureza e a sociedade como um todo, a poluição
que causa”. Na parte do cultivo, Maltoni destacou que o foco são os alimentos.
“Vamos plantar coisas saudáveis, em vez de tabaco”, propôs.
A tarefa,
entretanto, não é coisa simples. É um trabalho árduo, porque significa mudar
uma cultura e hábitos de tantos anos, mas é preciso chamar a atenção para a
necessidade de reversão desse quadro, assegurou o diretor executivo da Fundação
do Câncer. “O que se arrecada em impostos com a indústria do tabaco é muito
aquém dos gastos com a saúde, com tratamento e com as doenças decorrentes da
utilização do tabaco. É preciso sensibilizar as pessoas para fazer mudança;
mobilizar a sociedade, os governantes e os tomadores de decisão para que ajudem
em mudanças de legislação, na questão dos subsídios legais, para que a gente
possa ver isso acontecer de fato”.
Atividades
Este ano, a
Fundação do Câncer realiza algumas atividades no Dia Mundial sem Tabaco.
Presencialmente, em vários pontos da cidade, como na Ecoponte, na Ponte
Rio-Niterói, e em Magé, na EcoRodovia, serão feitas abordagens a motoristas.
Placas de led transmitirão informações sobre a questão do cigarro, o controle
do tabaco, a necessidade de se parar de fumar. A entidade está distribuindo
também um cartão que remete direto a um manual para as pessoas pararem de
fumar.
Palestras
estão sendo feitas em empresas que demandam a fundação para falar tanto dos
malefícios do cigarro convencional como do cigarro eletrônico para a natureza.
“Porque essa chamada da OMS tem a questão do meio ambiente”. Maltoni explicou
que o plantio do tabaco é muito ruim para o meio ambiente porque, além de
exaurir a terra, polui a água da região onde tem plantio e contamina o meio
ambiente. “É tudo de ruim; é o que a gente não quer. Se a gente for extrapolar
o que o próprio cigarro convencional produz de lixo na sociedade, nos países, é
um absurdo globalmente. São toneladas de lixo tóxico, com substâncias tóxicas,
jogadas nos mais diversos lugares: praia, oceano, rio. É um volume gigantesco
não só de material não reciclável, mas porque tem um volume grande de
substâncias tóxicas”, alertou.
Conscientização
Relatório da
OMS divulgado em 2022 e intitulado Tobacco: poisoning our planet? (Tabaco:
envenenando nosso planeta?, em tradução livre), aponta a produção de tabaco
como uma das principais causas de desmatamento, uso excessivo de água e poluição
do ar e do solo em diversas regiões do mundo. Em entrevista à Agência Brasil, o
oncologista Carlos Gil Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira de
Oncologia Clínica e do Instituto Oncoclínicas, reforçou que o tabagismo provoca
grande impacto ambiental. O cultivo do tabaco gera degradação do solo; a
produção química do cigarro gera poluição do solo e da água.
“E a gente
tem subprodutos do cigarro. Os filtros do cigarro, por exemplo, são altamente
poluentes porque, na verdade, são compostos por diversas substâncias químicas.
O impacto ambiental do tabaco, em termos de danificar o ambiente, poluir,
contaminar solo e água, é muito grande”. Lembrou também que as guimbas dos
cigarros e os próprios pacotes do produto sujam as ruas, provocando poluição ambiental
como um todo. “Provavelmente, o impacto para o meio ambiente e a humanidade é
muito maior do que, até então, a gente levava em consideração”.
Além da
dependência que a nicotina e o tabaco criam, os males para a saúde são imensos,
assegurou Ferreira. Além de doenças cardiovasculares, citou doenças pulmonares
inflamatórias, como enfisema e bronquite e, sobretudo, vários tipos de câncer,
desde câncer de pulmão, até câncer de garganta, boca, pâncreas, entre outros,
cuja causa está diretamente relacionada com a exposição ao tabaco. “É um grande
impacto para a população em geral, para a economia global, pelas doenças que
são causadas. E, quando você analisa de forma mais ampla e pensa na
contaminação que acontece em termos de meio ambiente, de produtos químicos que,
muitas vezes, não podem ser eliminados, fica difícil quantificar o custo de
tudo isso para a humanidade.
31 de
maio – Dia Mundial Sem Tabaco – Arte EBC
Segundo
Carlos Gil Ferreira, uma das maneiras de combater o tabagismo é através da
divulgação e da conscientização. Iniciativas como a campanha da OMS, que muitos
governos assumiram, tem impactos na conscientização e, especialmente hoje, na
conscientização dos jovens. “Porque a nossa grande preocupação hoje, como
médicos, é com o tabagismo na população jovem que, apesar das campanhas
antitabagismo, vem crescendo muito, principalmente pelo uso do cigarro
eletrônico”.
Esse tipo de
cigarro abre as portas do tabagismo mais cedo, com malefícios ainda mais
difíceis de serem medido a longo prazo. Os jovens têm começado a fumar cada vez
mais cedo e, muitas vezes, começam através do cigarro eletrônico, até pelo mito
de que esse tipo de cigarro traria menos malefícios do que o cigarro
convencional. É provável também, segundo os especialistas, que devido à
socialização e pelos dispositivos eletrônicos, esse tipo de cigarro cai muito
mais no gosto da população adolescente e adulto jovem. “E do cigarro eletrônico
para o cigarro convencional é um caminho mais rápido do que a gente pensa”,
explicou o oncologista.
Mulheres
A
diretora-geral do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), Aurora Issa, chamou
a atenção para o fato de o tabagismo ter uma associação grande com as doenças
cardiovasculares em mulheres. A cardiologista lamentou que apesar de haver uma
conscientização grande atualmente para outras patologias, como câncer de mama,
“não se vê tantas campanhas sobre doenças cardiovasculares como principal causa
de morte em mulheres. As mulheres também devem se preocupar com as doenças
cardiovasculares”, ressaltou, em entrevista à Agência Brasil.
De acordo
com dados da OMS de 2020, as doenças cardiovasculares são responsáveis por um
terço de todas as mortes de mulheres no mundo, o equivalente a cerca de 8,5
milhões de óbitos por ano. As mulheres têm 50% mais probabilidades de sofrerem
infarto do que homens, diz a OMS. As mulheres que fumam, percentualmente,
acabam tendo mais doenças cardíacas do que os representantes do sexo masculino.
Aurora Issa indicou que no próprio sistema de saúde como um todo, a doença
cardiovascular não é vista como tendo acometimento grande nas mulheres.
“A gente vê
uma associação grande do tabagismo trazendo uma doença cardiovascular como um
evento maior associado, como infarto, angina”. Muitas mulheres precisam ser
encaminhadas para procedimentos cardiológicos de alta complexidade, como
angioplastia, cirurgia cardíaca. O importante é conscientizar as mulheres em
relação aos fatores de risco, na medida em que as doenças cardiovasculares
constituem a principal causa de mortalidade. “Nesse contexto, o tabagismo é
muito importante”. A diretora-geral do INC destacou que enquanto nos homens o
tabagismo está mais associado ao prazer de fumar, nas mulheres há outras
associações mais fortes, como controle de estresse ou de humor e controle de
peso, apontam estudos.
O objetivo
de Aurora Issa é conscientizar as mulheres de que existem outras formas de
ajudar a parar de fumar, mostrando que a consequência são doenças
cardiovasculares que podem levar à morte. Lembrou que existem tratamentos
comportamentais, como psicoterapia, mudança de hábitos de vida e, inclusive,
intervenções medicamentosas que podem motivar e ajudar as mulheres a pararem de
fumar.
Recuperação
O
pneumologista da Fundação São Francisco Xavier, Marcos de Abreu, explica que um
dos principais males associados ao tabagismo é a doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC), caracterizada pela presença de enfisema pulmonar e bronquite
crônica. Entre os sintomas, estão falta de ar, tosse e chiado no peito. Além da
DPOC, mais de 50 doenças estão associadas ao tabagismo. A nicotina aumenta a
pressão arterial e a frequência cardíaca, danifica os vasos sanguíneos e
promove a formação de coágulos. Esses efeitos combinados podem resultar em
obstruções das artérias e eventos cardiovasculares graves.
Marcos Abreu
assegura, porém, que sempre é tempo para largar o vício e que os resultados
positivos no corpo podem ser vistos com rapidez, mesmo em pacientes que fumam
há longo tempo. Ao parar de fumar, a função pulmonar do paciente melhora,
diminui a progressão de danos aos pulmões e o risco de desenvolver doenças
respiratórias e câncer cai de forma gradativa. Para o médico, o Dia Mundial sem
Tabaco visa alertar a população sobre os males à saúde do tabagista e promover
a conscientização sobre os benefícios trazidos em largar o hábito de fumar.
Doença
causada pela dependência química da nicotina, substância viciante presente no
tabaco, o tabagismo mata mais de 8 milhões de pessoas anualmente no mundo, de
acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desse total, 7
milhões são fumantes ativos e cerca de 1,2 milhão são pessoas expostas à fumaça
do cigarro, os chamados fumantes passivos.
Fumicultores
Procurado
pela Agência Brasil, o presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil
(Afubra), Benício Albano Werner, assegurou que as afirmações da OMS sobre o
impacto do plantio do tabaco na natureza são “levianas, de quem desconhece a
realidade do produtor de tabaco no Brasil”. Esclareceu que desde 1980, quando
foi celebrado convênio com o então Instituto Brasileiro do Desenvolvimento
Florestal (IBDF), a cadeia produtiva do tabaco se comprometeu a não utilizar
floresta nativa para a cura do tabaco. “O compromisso está sendo cumprido. O
produtor, desde então, ciente e consciente da necessidade de preservação da
mata nativa, utiliza tão-somente floresta energética na secagem de seu
produto”.
Do mesmo
modo, qualificou de inverídica a afirmação de que o tabaco está envenenando o
planeta. “Na cultura, são utilizados defensivos com somente 1,01 kg de ingrediente
ativo por hectare, enquanto outras culturas, inclusive alimentícias, chegam a
usar até 46,87 kg de ingrediente ativo por hectare”. Werner entende que o tema
é polêmico. Afirmou, porém, que o produtor de tabaco precisa dessa atividade
para garantir a sustentabilidade de sua propriedade, o conforto de sua família,
o estudo dos filhos e a sua sucessão familiar.
Benefícios
Entre os
benefícios do plantio de tabaco, o presidente da Afubra citou que na safra
2021/2022, a propriedade fumicultora alcançou receita bruta de R$ 18,5 bilhões.
A participação do tabaco foi de R$ 9,5 bilhões; a produção animal, de R$ 5,5
bilhões; e a vegetal, de R$ 3,4 bilhões. “Assim, podemos afirmar que o produtor
de tabaco é o que mais diversifica sua produção e apresenta a melhor
distribuição de renda nas pequenas propriedades”.
Em 2022, o
setor gerou tributos no montante de R$ 14,8 bilhões para os governos
municipais, estaduais e federal. “Não fosse o mercado ilegal de cigarros, esse
valor seria bem superior, próximo ao dobro, somente no Brasil”, estimou.
Completou que o produtor de tabaco, além de gerar empregos na produção, também
aumentar mão de obra nas indústrias de insumos agrícolas, nas empresas que
produzem máquinas e equipamentos, no transporte, no comércio dos municípios
onde é produzido. Mencionou, ainda, os empregos gerados nas próprias indústrias
de processamento e de fabricação e distribuição de cigarros. “A cadeia
produtiva do tabaco gera tributos aos governos, renda e empregos para muitas
outras atividades”.
Para
garantir o desenvolvimento sustentável e proteção ao meio ambiente, Benício
Werner destacou que a cadeia produtiva do tabaco já faz inúmeras ações nesse
sentido. “É pioneira em várias atividades”. Entre elas, apontou o recolhimento
das embalagens vazias de defensivos agrícolas, não somente dos aplicados na
cultura do tabaco, mas também dos utilizados em outras culturas; realização de
campanhas de preservação de florestas e de fontes de água, entre as quais o
Conheça o Verde é Vida.
Citou também
a promoção de programas voltados à sustentabilidade e à sucessão nas
propriedades, ao combate do trabalho infantil e ao incentivo à frequência de
crianças e jovens nas escolas. Um
exemplo dessas ações é o Instituto Crescer Legal, citou. Em benefício da saúde,
o presidente mencionou que a Afubra orienta sobre cuidados para garantir a
saúde e segurança dos produtores e trabalhadores. As ações são realizadas
através do Sistema Integrado de Produção.
Edição:
Valéria Aguiar