Campos Neto cita diretores indicados por Lula e diz que, se necessário, BC elevará juros para conter inflação
Campos Neto cita diretores indicados por Lula e diz que, se necessário, BC elevará juros para conter inflação
Roberto Campos Neto participou de audiência na Câmara. Recentemente, Gabriel Galípolo, diretor indicado por petista, não descartou aumento de juros para atingimento de metas.
Por Alexandro Martello, g1 — Brasília
O presidente
do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (13) que o
Comitê de Política Monetária (Copom) pode subir a taxa de juros para combater
as pressões inflacionárias.
A
possibilidade já havia sido divulgada na semana passada, por meio da ata da
última reunião do Copom, quando a instituição informou que “não hesitará
em elevar a taxa de juros” se julgar apropriado.
“Em
relação à possibilidade de subir os juros, ontem teve duas falas de diretores
apontados por esse governo [do presidente Lula] que vão fazer o que tiver que
fazer para a inflação atingir a meta. E, se tiver de subir os juros, é isso que
vai ser feito”, declarou Campos Neto, durante audiência na Comissão de
Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados.
Atualmente,
o juro básico da economia está em 10,5% ao ano, após duas manutenções pelo BC,
no menor nível em dois anos e meio. Mesmo assim, trata-se da terceira maior
taxa, em termos reais, do mundo.
O atual
nível da taxa Selic foi criticado várias vezes pelo presidente Luiz Inácio Lula
da Silva nos últimos meses, que questiona seu impacto no crescimento da
economia e na geração de emprego, assim como por integrantes do PT.
Na última quinta-feira
(8), o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo,
afirmou que “todos diretores [do BC, com voto na definição da taxa de
juros] estão dispostos a fazer o que for necessário para cumprir a meta [de
inflação]”.
Galípolo foi
indicado ao cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e é cotado
para ser o próximo presidente da instituição a partir de 2025.
“Se por
acaso, o poder democraticamente eleito [governo federal] conviver com uma
economia onde seja necessário um esforço de política monetária inferior [juro
menor] ao esforço necessário para persecução de uma meta de 3% há uma maneira
institucional legal, objetiva e simples para que o poder democraticamente
eleito transfira esse comando ou orientação para a autoridade monetária, que é
o decreto da meta de inflação. Você altera a meta de inflação”, afirmou
Galípolo, na ocasião.
Comparação histórica
Durante
audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados,
o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que a taxa de juros brasileira
está baixa em termos históricos. Ele citou o período dos últimos cinco anos.
“De
2019 a 2024, o Brasil teve a menor inflação no período com a menor taxa de
juros. Não é possível afirmar que temos juros exorbitantes com inflação baixa.
Olhando a história, temos juros e inflação menor do que a média, mesmo passando
por um período de inflação global grande”, declarou Campos Neto.
Segundo ele,
o Banco Central tem atuado de forma técnica na definição da taxa de juros. Ele
lembrou que, mesmo com diretores indicados pelo presidente Lula, as últimas
decisões e avaliações do Copom têm sido “unânimes”.
“A
Selic não faz o crédito subir, necessariamente. Em alguns períodos, baixou a
Selic sem credibilidade e o crédito [bancário] caiu. Há períodos em que baixa a
Selic e o juro longo [do mercado futuro] sobe, até em períodos recentes. Não é
só a Selic que faz o crédito subir. É só um elemento, mas precisa ser feito com
credibilidade para que se tenha um impacto efetivo”, afirmou o presidente
do BC.
Campos Neto
avaliou que a taxa de juros é alta no Brasil, na comparação com outros países,
por questões estruturais da economia brasileira. Ele citou os seguintes
fatores:
– Taxa de
recuperação de crédito no Brasil é muito baixa;
– Dívida no
Brasil, comparado com emergentes, é mais elevada;
– Taxa de
poupança é mais baixa no Brasil;
– Crédito
direcionado [com subsídios] é mais alto no brasil do que em outros países;
– Brasil, em
risco de mercado, tem taxas maiores do que outros países.
Como as decisões do BC são tomadas
Para definir
a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas
de inflação, o Banco Central olha para o futuro, e não para a inflação corrente,
ou seja, dos últimos meses.
Isso ocorre
porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto
pleno na economia. Neste momento, a instituição já está mirando na meta deste
ano, e também para o segundo semestre de 2025 (em doze meses).
A meta de
inflação deste ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e
será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%;
A partir de
2025, o governo mudou o regime de metas de inflação, e a meta passou a ser
contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida;
Na semana
passada, os economistas do mercado financeiro estimaram que a inflação de 2024 somará
4,2% e, a de 2025, 3,97%. Ou seja, acima da meta central nos dois anos.
O BC
informou já estar olhando para seis trimestres adiante, tendo por base o
sistema de meta contínua de inflação de 3%, ou seja, para o período de doze
meses até março de 2026;
Nesse caso,
a inflação estimada está em 3,4% (com juros recuando ano que vem) e de 3,2%
(com Selic estável durante todo período).
“Olhando
para expectativas de inflação, temos tido ‘desancoragem’ [das projeções do
mercado e do BC em relação às metas], algo que preocupa o BC. A fnflação
implícita começou a subir, mais recentemente parece que está se
estabilizando”, concluiu Campos Neto.