CCJ do Senado aprova reforma tributária
CCJ do Senado aprova reforma tributária
Relator acolheu mais benefícios e incluiu gás de cozinha no cashback.
Publicado por Wellton Máximo e Pedro Peduzzi – Repórteres da Agência Brasil
Por 20 votos
a 6, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, nesta
terça-feira (7), o texto da reforma tributária sobre o consumo. Após a votação
do texto-base, os senadores passaram a apreciar os destaques, mas um acordo com
o governo fez com que todos fossem rejeitados.
A
expectativa é que a proposta de emenda à Constituição vá a votação no plenário
do Senado nesta quarta-feira (8). Horas antes da votação da CCJ, o relator da
reforma tributária, senador Eduardo Braga (MDB-AM) acolheu novos pedidos para incluir exceções
no texto. Entre as mudanças, estão benefícios a clubes de futebol, taxistas e a
ampliação de uma contribuição para a região Centro-Oeste. O relator também
aceitou incluir o gás de cozinha no mecanismo de cashback (devolução de
dinheiro) para a população de baixa renda.
Das 777
emendas apresentadas ao relator, 247 foram acatadas. Entre as mudanças aceitas
de última hora, está a emenda do senador Mecias de Jesus (Republicanos-MA), que
estende ao gás de cozinha o cashback. A versão anterior do parecer tinha
incluído a energia elétrica no mecanismo de ressarcimento de tributos às
pessoas mais pobres.
Outra
mudança está no tratamento diferenciado a clubes de futebol. Proposta pelo
senador Carlos Portinho (PL-RJ), a emenda mantém o recolhimento unificado de
tributos pelas Sociedades Anônimas do Futebol. Segundo Braga, esse mecanismo
jurídico tem ajudado a recuperar a saúde financeira dos clubes. O relatório já
previa que as atividades esportivas pagariam alíquota reduzida em 60% da futura
Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e do futuro Imposto sobre Bens e
Serviços (IBS).
O novo parecer incluiu benefícios para taxistas comprarem veículos. Braga acolheu emenda da senadora Mara Gabrilli (PSD-SP), que manterá a isenção na compra de automóveis por taxistas e por pessoas com deficiência ou consideradas dentro do espectro autista. O relatório anterior extinguiria o benefício, com a unificação de tributos.
Braga acatou
ainda uma emenda do senador Marcelo Castro (MDB-PI) para restaurar a alíquota
reduzida para atividades de restauração urbana de zonas históricas. O benefício
estava no texto aprovado pela Câmara dos Deputados, mas havia sido excluído na
primeira versão do parecer do relator.
Outros
benefícios incluídos no relatório são a alíquota zero para medicamentos e
dispositivos médicos comprados pelo governo e por entidades de assistência
social sem fins lucrativos, de autoria do senador Fabiano Contarato (PT-ES).
Braga também acolheu emendas dos senadores Espiridião Amin (Progressistas-SC) e
Izalci Lucas (PSDB-DF) para zerar a alíquota de IBS, tributo administrado pelos
estados e municípios, para serviços prestados por instituições científicas,
tecnológicas e de inovação sem fins lucrativos. Na versão anterior, apenas a
CBS, tributo federal, teria a alíquota zerada.
Contribuição regional
Em relação
ao Centro-Oeste, Braga atendeu a uma demanda dos governadores da região para
ampliar, até 2043, a contribuição sobre exportações de grãos, produtos
primários e semielaborados, que financiará investimentos locais em
infraestrutura. Na versão anterior do relatório, o benefício seria cobrado até
2032, quando o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)
deixasse de existir.
Diante de
novas alterações feitas no texto do relatório da reforma tributária apresentado
nesta terça-feira à Comissão de Constituição e Justiça, o relator da matéria,
senador Eduardo Braga (MDB-AM) informou, durante a leitura do documento, que,
se aprovada pelo Senado, pedirá novo estudo do Ministério da Fazenda sobre os
impactos que ela poderá ter, em especial com relação à alíquota sobre o Imposto
sobre o Valor Agregado (IVA) – que substituirá os cinco tributos que incidem
sobre o consumo.
Braga chegou
à sessão da CCJ otimista de que o relatório seja aprovado ainda hoje pela
comissão, para que seja votada já na quarta-feira pelo plenário da casa. “Esta
é a primeira reforma tributária a ser executada em regime de democracia neste
país”, lembrou o senador.
Trava
Entre os
pontos descritos no relatório, ele destacou a inclusão de uma trava para
limitar a carga tributária no país e a simplificação de todo o sistema
tributário. O teto para a carga tributária havia sido anunciado no fim de
outubro.
“Com a trava
que estamos oferecendo, garantimos a neutralidade tributária. Se o PIB [Produto
Interno Bruto, que é a soma de todas riquezas produzidas no país] não cresce,
nós não podemos aumentar a carga tributária. É na realidade uma engenharia
reversa da reforma administrativa, de corte de gasto e de despesa”, explicou o
relator.
Ele destacou também o possível aumento de 0,5 ponto percentual previsto por Haddad para o IVA. Segundo Braga, esse aumento teve por base a análise feita no relatório preliminar apresentado no dia 25 de outubro.
“O texto
apresentado representa a imensa maioria da vontade dos senadores, tanto na CCJ
quanto no plenário do Senado”, disse o senador ao comentar as alterações feitas
pela relatoria. Ele acrescentou que “temas e pontos levantados foram amplamente
discutidos para encontrarmos um texto que fosse a média da demanda do
colegiado”.
Avanços
Na avaliação
do relator, o atual sistema tributário é um “manicômio”. Já a proposta em
discussão representa grande avanço. “Se não é a ideal, é muito melhor do que o
que temos hoje”, resumiu.
“Esperamos
que a reforma tributária seja equilibrada para todos os brasileiros e, assim,
todos eles estejam engajados neste esforço de restabelecer a credibilidade, a
confiança e a simplificação do sistema tributário. E assim, possamos reduzir o
custo Brasil do ponto de vista tributário, para que a economia volte a crescer,
que a base tributária seja ampliada e, olhando para o médio prazo, haja uma
queda da carga tributária”, disse Braga no Senado.
Sobre as
exceções previstas no texto, para setores que teriam alíquotas privilegiadas,
Braga disse que “para cada concessão feita no relatório do dia 25, houve uma
redução de concessão. A questão do transporte, por exemplo, nós tiramos alguns
modais da alíquota reduzida para o regime diferenciado, para podermos fazer o
equilíbrio”.
“Em relação
a cesta básica, reduzimos a que teria alíquota zero e criamos a cesta básica
estendida com alíquota reduzida e cashback. Resolvemos a equação da conta de
energia, criando cash back, sem impacto de déficit fiscal, e também a equação
do saneamento, sem criar uma alíquota reduzida, resolvendo a questão dos bens
de capital e a equação do equilíbrio econômico financeiro dos seus contratos.
Para cada uma das questões, nós fomos milimetricamente fazendo as
compensações”, acrescentou.
Braga se
reuniu na noite desta segunda-feira (6) para discutir os detalhes finais do
texto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva; com os ministros da Fazenda,
Fernando Haddad; da Casa Civil, Rui Costa; com o secretário de Relações
Institucionais,Alexandre Padilha e com o presidente da CCJ, Davi Alcolumbre
(União Brasil-AP).
Edição:
Valéria Aguiar