Com renda em alta, brasileiro que ganha menos que um salário mínimo deixará de ser a maior parcela dos trabalhadores
Com renda em alta, brasileiro que ganha menos que um salário mínimo deixará de ser a maior parcela dos trabalhadores
Recuperação recente do mercado de trabalho fez diminuir parcela de quem não chega ao mínimo e aumentar, a nível recorde, população que ganha mais que dois salários mínimos.
Por Raphael Martins, g1 07/03/2023 05h03 - Atualizado há um dia
Com a taxa
de desemprego na casa dos 7,9% em dezembro, o país fechou o ano de 2022 com o
menor nível de desempregados desde o início de 2015. Ainda assim, um terço dos
trabalhadores brasileiros vivem com rendimento menor do que um salário mínimo.
Em números
absolutos, são mais de 33,2 milhões de pessoas vivendo com menos do que o
mínimo. Trata-se de uma realidade que vem desde o baque no mercado de trabalho,
causado pela pandemia de Covid-19 e retratado à época pelo g1.
A boa notícia é que, agora, a tendência é de melhora dos números: desde junho, a quantidade de trabalhadores que recebem entre meio e um salário mínimo está em queda. De lá para cá, são quase 2 milhões a menos nesta faixa de renda.
E não é só:
no trimestre final de 2022, o número de trabalhadores que recebem mais que dois
salários mínimos bateu recorde da série histórica, chegando a 32,9 milhões de
pessoas. A expectativa é que esse grupo se torne a maior parcela dos
trabalhadores já no próximo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Segundo
Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores e autor do levantamento com base
nos dados da PNAD, a trajetória do mercado de trabalho deve manter a tendência
de queda entre os que recebem menos que um salário mínimo, mesmo sem um aumento
expressivo do número de empregados.
Isso
reflete, em parte, as trocas de emprego dentro do mercado de trabalho, conforme
trabalhadores qualificados retornam para empregos com remuneração mais alta, ou
à medida que fica mais previsível a formação de empregos em setores mais
afetados pela pandemia — como no setor de serviços.
“O ano de
2022 foi um ano forte do ponto de vista de ocupação, mas nem tanto pelo lado da
renda. Já 2023 deve ser o contrário: um aumento de renda sem tanta criação de
vagas”, diz o economista.
Desaceleração
da economia
Enquanto os
números do mercado de trabalho trazem algum alento, a perspectiva de
crescimento da atividade faz o contraponto de preocupação para os economistas.
Na semana
passada, os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) mostram que o 4º
trimestre de 2022 foi o primeiro a registrar queda em relação aos três meses
anteriores desde o 2º trimestre de 2021. O recuo foi de 0,2% contra a janela
passada.
Trata-se do
desfecho de um processo de perda de força da atividade econômica, visto
trimestre a trimestre. Sem espaço de estímulos à economia, o governo de Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) terá desafios para garantir a atividade econômica e
manter o nível de emprego no médio prazo.
A
economista-chefe da A.C. Pastore, Paula Magalhães, acredita que será muito
difícil não acontecer uma desaceleração brusca, contando que o país tem um
patamar de juros altos e que há uma falta de motor para o consumo com o alto
endividamento da população.
“A
desaceleração da economia já se mostra com os dados de crédito, inadimplência
subindo, e isso vai impactar o consumo. Por enquanto, o mercado de trabalho vai
bem, mas os dados são muito defasados e ele responde por último entre os
termômetros que temos”, diz a economista.
Segundo o
blog do Valdo Cruz, o presidente Lula conta justamente com as medidas que seu
governo está adotando neste início de ano, como aumento real do salário mínimo
e novo Bolsa Família, para reverter a desaceleração do crescimento da economia
brasileira.