Congresso analisará propostas para coibir ataques em escolas e creches do país
Congresso analisará propostas para coibir ataques em escolas e creches do país
Parlamentares avaliam que Legislativo pode criar mecanismos de prevenção a massacres. Instalação de detectores de metais, aumento de pena e combate ao ódio estão entre ideias apresentadas.
Por Kevin Lima, g1 — Brasília 06/04/2023 09h27 - Atualizado há uma hora
O Congresso
Nacional deve analisar nos próximos meses projetos que têm o objetivo de coibir
e prevenir ataques violentos em estabelecimentos de ensino do país.
Entre março
e abril deste ano, pelo menos nove propostas foram apresentadas sobre o tema na
Câmara dos Deputados. Outras medidas podem avançar no Senado.
Entre os
projetos, estão iniciativas para instalação de detectores de metais, aumento de
pena para homicídios em instituições de ensino e medidas de combate ao ódio nas
redes sociais
Em um
intervalo de nove dias, o Brasil assistiu a dois atentados a unidades de ensino
básico. No último dia 27 de março, a Escola Estadual Thomazia Montoro, em São
Paulo, foi alvo de um adolescente. A professora Elisabete Tenreiro foi morta, e
outras quatro pessoas ficaram feridas.
Nesta quarta-feira (5), um homem invadiu uma creche particular em Blumenau (SC) e matou quatro crianças.
O governo
federal anunciou, ainda na quarta, a criação de um grupo de trabalho
interministerial para discutir a adoção de iniciativas para coibir ataques
contra escolas. O coordenador será o ministro da Educação, Camilo Santana.
Parlamentares
aliados ao governo e à oposição avaliaram ao g1 que o Congresso também pode
tomar medidas para barrar o avanço desse tipo de crime.
Detectores
de metais e batalhões especializados
Coordenador
da Frente Parlamentar da Segurança Pública, popularmente conhecida como
“bancada da bala”, o deputado Alberto Fraga (PL-DF) defende o avanço de um
projeto que obriga a instalação de aparelhos detectores de metais nas entradas
de unidades de ensino do país. Além da proposta de Fraga, outras cinco com textos
semelhantes foram apresentadas à Câmara.
“Isso é
importante porque, pelo menos, evita que um aluno entre armado até mesmo com
uma faca. Material cortante ou arma de fogo será detectado por esse aparelho”,
afirmou Alberto Fraga.
O deputado
Kim Kataguiri (União Brasil-SP), que também registrou projeto para obrigar a
instalação de detectores de metais, defende ainda que o Congresso passe a
discutir mecanismos que permitam a revista em mochilas de estudantes e regras
para a divulgação desse tipo de ataque na mídia.
Fraga também
defende o aumento do aparato de segurança nas escolas. O deputado menciona
ainda um projeto de lei, paralisado na Comissão de Educação da Câmara, que
prevê a implantação em todos os estados de batalhões de polícia para atender unidades
de ensino públicas e privadas.
Deputados
mais aliados à bancada da bala defendem propostas que destinem recursos para a
instalação de sistemas de monitoramento por vídeo e que obriguem a contratação
de segurança armada para estabelecimentos de ensino.
Pena mais
rigorosa e saúde mental
Há ainda
projetos que endurecem a pena para homicídio qualificado cometido contra
menores em instituições de ensino. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
disse apoiar iniciativas semelhantes.
“No que for
preciso, a sociedade terá o meu apoio para endurecer as medidas punitivas aos
que atentam contra a vida”, escreveu em uma rede social.
Coordenadora
da Frente Parlamentar Mista da Educação, a deputada Tabata Amaral (PSB-SP)
afirma que o grupo vai criar uma coordenação permanente para tratar do tema.
Segundo ela, a frente planeja discutir a criação de uma Política Nacional de Saúde Mental nas Escolas, com protocolos de segurança e um monitoramento de discurso de ódio nas unidades de ensino.
O
vice-coordenador do grupo, senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), afirma que,
além de aproximar as unidades de ensino à segurança pública, o Congresso e o
governo federal precisam discutir iniciativas para o apoio psicossocial de
alunos.
“Também [é
necessário] investigar e combater as ondas de ódio em redes sociais”,
acrescenta.
Combate
ao ódio nas redes
Para o líder
do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), medidas de enfrentamento à violência
contra escolas precisam ser incluídas nos debates de propostas que atualizam as
legislações penais do Brasil. Ele é relator de um projeto que renova o Código
Penal brasileiro.
Segundo
Contarato, os congressistas precisam avaliar a influência das redes sociais na
escalada de ataques. Nesta quarta, ele solicitou que quatro comissões da Casa
façam uma série de audiências públicas com especialistas para debater
iniciativas contra esses episódios.
“Sabe-se que
a prevenção e a repressão desse tipo de atentado devem ocorrer em diversas
frentes, como o cuidado à saúde mental dos estudantes, a prevenção contra o
bullying, a restrição ao acesso de armas, a restrição a jogos e sites que
promovam violência e discursos de ódio, a diminuição da desigualdade, a fim de
possibilitar que crianças e adolescentes vivam em ambientes sadios”, afirma.
Na mesma
linha, a deputada Luciene Cavalcante (PSOL-SP) passou a colher assinaturas para
a abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara para
“investigar as causas por trás dos recorrentes ataques violentos às escolas
brasileiras”. Segundo ela, a coleta iniciou nesta quarta e ainda não atingiu o
mínimo necessário – 171 deputados – para seguir na Casa.
Luciene
afirma que as medidas governamentais não têm sido suficientes para combater o
avanço desses ataques. “É imprescindível ações de prevenção, investigação e
reparação para evitar casos futuros”, afirma.
Em relatório
enviado ao gabinete de transição do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no
último ano, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação indicou que o uso de
imagens dos ataques e dos criminosos podem servir como uma espécie de
“propaganda” para atrair e incentivar novos crimes.