Congresso promulga PEC que amplia teto de gastos por 1 ano
Congresso promulga PEC que amplia teto de gastos por 1 ano
Texto libera orçamento para governo eleito pagar R$600 do Bolsa Família no ano que vem. Votação da proposta foi concluída na Câmara e no Senado nesta quarta-feira (21).
Por Vinicius Cassela e Beatriz Borges, g1 — Brasília 21/12/2022 23h16 Atualizado há 59 minutos
O Congresso
Nacional promulgou, em sessão solene, nesta quarta-feira (21) a Proposta de
Emenda Constitucional (PEC) chamada de PEC da Transição. A promulgação foi
publicada na edição desta quinta (22) do “Diário Oficial da União
(DOU)”.
O texto
eleva o teto de gastos para que o próximo governo possa manter a parcela de R$
600 do Bolsa Família (atual Auxílio Brasil) e financiar outros programas
sociais a partir de janeiro (veja mais abaixo).
Para ir à
promulgação pelo Congresso, uma PEC precisa ser aprovada em dois turnos, na
Câmara dos Deputados e no Senado, com apoio de, no mínimo, 308 deputados e 49
senadores.
A votação da
proposta foi concluída na Câmara e no Senado nesta quarta-feira (21).
Tramitação
A PEC já
tinha sido aprovada pelo Senado no começo de dezembro, mas retornou para
análise dos senadores após ter sido modificada pelos deputados.
A votação na
Câmara começou nesta terça-feira (20), quando o texto-base da proposta foi
apreciado em primeiro turno, na ocasião, os deputados também iniciaram a
análise dos destaques (sugestões de alteração no texto).
Após a aprovação de um destaque e rejeição de outro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decidiu suspender a sessão.
Nesta
quarta-feira (21), a análise da PEC foi retomada na Câmara e os deputados
finalizaram a análise das sugestões de alteração ao texto e aprovaram a
proposta em segundo turno de votação.
Logo depois,
os senadores analisaram e aprovaram a PEC em dois turnos. Pelo regimento
interno do Congresso, os senadores deveriam votar apenas as alterações no texto
que tinha sido enviado para a Câmara dos Deputados, mas o presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pediu para Lira que o texto completo fosse devolvido
para apreciação no Senado, que o aprovou sem alterações.
No mesmo
dia, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG),
convocou uma sessão solene do Congresso para esta quarta-feira (21) para
promulgar a proposta.
O que diz
a PEC
Bolsa
Família
O texto
promulgado amplia o teto de gastos em R$ 145 bilhões por um ano para o governo
manter o pagamento do Bolsa Família em R$ 600 e permitir o adicional de R$ 150
por família com criança de até 6 anos.
O teto de
gastos é uma barreira fiscal que proíbe o governo de aumentar despesas acima do
que foi gasto no ano anterior acrescido da inflação.
Neste
domingo (18), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes
decidiu que os recursos para bancar o Bolsa Família devem ficar fora do teto de
gastos – regra fiscal que limita as despesas públicas. Mesmo assim, para
assegurar recursos para outras despesas, a equipe do governo eleito trabalhou
pela aprovação da PEC da Transição.
A PEC também
abre espaço fiscal para o governo recompor o Orçamento de programas sociais,
como o Farmácia Popular, e conceder reajuste real — acima da inflação — ao
salário mínimo.
‘Orçamento
Secreto’
Conforme a
proposta promulgada, metade dos R$ 19,4 bilhões previstos para as emendas de
relator em 2023, que ficaram popularmente conhecidas como “orçamento
secreto”, serão remanejados para emendas individuais dos parlamentares.
As emendas
individuais dos parlamentares são impositivas, ou seja, os projetos para onde
forem destinadas precisarão ser obrigatoriamente executados.
Essa divisão
foi viabilizada no texto com o aumento do percentual da receita corrente
líquida vinculada às emendas individuais.
Atualmente,
esse limite é de 1,2%. O projeto aumenta para 2%. Deste percentual, 1,55%
caberá às emendas de deputados e 0,55% caberá aos senadores.
Outros R$
9,85 bilhões serão destinados ao orçamento do governo, a quem caberá definir as
áreas que receberão a verba.
A
redistribuição do dinheiro se deu depois que o STF decidiu tornar
inconstitucional as emendas de relator, que ficaram conhecidas como
“orçamento secreto” pela falta de transparência e pela disparidade na
distribuição dos recursos.
Em um ato, o
relator-geral do Orçamento de cada ano podia encaminhar recursos para atender a
demandas de senadores e deputados sem que os nomes dos parlamentares fossem
públicos.
Outros
pontos
A PEC também
estabelece:
prazo até o
fim de agosto para o governo Lula enviar ao Congresso um novo regime fiscal em
substituição ao teto de gastos. A mudança poderá ser sugerida via projeto de
lei complementar, que exige quórum menor do que uma PEC para aprovação;
permissão do
uso de até R$ 23 bilhões em investimentos já neste ano fora do teto de gastos.
Os recursos virão do excesso de receita, se a União arrecadar mais dinheiro de
um imposto do que previa;
autorização
para o novo governo usar o dinheiro esquecido por trabalhadores nas cotas do
PIS/Pasep sem que essa despesa seja contabilizada no teto de gastos. De acordo
com a Caixa Econômica, R$ 24 bilhões em cotas do PIS/Pasep estão disponíveis
para mais de 10 milhões de pessoas. Esse dinheiro poderia ser usado pelo
governo para investimentos, conforme a PEC.
A proposta
também retira das limitações do teto de gastos:
as doações
para projetos socioambientais e relacionados às mudanças climáticas;
as doações
recebidas por universidades federais;
a
transferência de recursos dos estados para a União executar obras e serviços de
engenharia;
os valores
referentes ao auxílio Gás, apenas para o próximo ano.
O texto garante ainda, até 2026, o limite de pagamento anual dos precatórios – dívidas da União reconhecidas pela Justiça em decisões das quais não cabem mais recursos. E muda o cálculo do valor que deverá ser pago.