Conselho de Segurança da ONU deve ter ‘pacifistas’, e não ‘atores que fomentam a guerra’, diz Lula
Conselho de Segurança da ONU deve ter 'pacifistas', e não 'atores que fomentam a guerra', diz Lula
Lula se reuniu com presidente do Egito, Abdul Al-Sisi, no Cairo – é a segunda viagem à África neste mandato. Egito é principal rota para levar ajuda e retirar vítimas do conflito em Gaza.
Por Guilherme Mazui, Mateus Rodrigues, g1 — Brasília
O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (15), em declaração
no Egito, que os países-membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas
devem defender a paz, e não fomentar a guerra.
“É
preciso que tenha uma nova geopolítica na ONU. É preciso acabar com o direito
de veto dos países. E é preciso que os membros do Conselho de Segurança sejam
atores pacifistas, e não atores que fomentam a guerra”, declarou Lula.
As últimas
guerras que nós tivemos, a invasão ao Iraque não passou pelo Conselho de
Segurança da ONU, a invasão à Líbia não passou pelo Conselho de Segurança da
ONU. A Rússia não passou pelo Conselho de Segurança para fazer a guerra na
Ucrânia. E o Conselho de Segurança não pode fazer nada na guerra entre Israel e
Faixa de Gaza”, enumerou.
“Ou
seja: a única coisa que se pode fazer é pedir paz pela imprensa, mas que me
parece que Israel tem a primazia de descumprir, ou melhor, de não cumprir
nenhuma decisão emanada da direção das Nações Unidas”, continuou.
Lula falou à imprensa após se reunir com o presidente do Egito, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, no Cairo.
O Egito faz
fronteira com a Faixa de Gaza – e foi, até o momento, a principal rota de
evacuação de estrangeiros atingidos pelo conflito, incluídos brasileiros. A
mesma rota é, também, a principal via de acesso terrestre para ajuda humanitária
às vítimas da guerra.
Desde o
primeiro mandato presidencial, Lula defende uma mudança na estrutura de órgãos
como o Conselho de Segurança da ONU, cuja composição permanente é a mesma desde
o pós-Segunda Guerra Mundial. As críticas se tornaram mais fortes em meio aos
conflitos Rússia-Ucrânia e Israel-Hamas.
No discurso, Lula também disse:
– que Brasil
e Egito apostam na “promoção do desenvolvimento econômico e social como
pilares para a paz e a segurança” e combatem “todas as manifestações
de racismo, xenofobia, islamofobia e antissemitismo”.
– que o
Brasil voltou a apoiar a iniciativa do Egito de criação de uma “zona livre
de armas no Oriente Médio” – similar à que já existe na América Latina.
“De qualquer ângulo que se olhe, a escala da violência cometida entre 2 milhões de palestinos em Gaza, não encontra justificativa. Sempre vimos o Egito como um ator essencial na busca de uma solução para o conflito entre Israel e Palestina”, afirmou Lula, ainda sobre a guerra.
Segundo
Lula, é “urgente” estabelecer um cessar-fogo definitivo para permitir
a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza de forma “sustentável e
desimpedida”.
O presidente
também repetiu que o Brasil é “terminantemente contrário à tentativa de
deslocamento forçado do povo palestino”.
“Não
haverá paz sem um Estado Palestino convivendo lado a lado com Israel, dentro de
fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”,
concluiu Lula.
Lula chega
ao Egito para agenda oficial de dois dias
Relações Brasil-Egito
Lula também
defendeu estreitar as parcerias com o Egito. Os dois países completam em 2024
cem anos de relações diplomáticas e firmaram, nesta quinta, novos acordos de cooperação
técnica e comercial.
O presidente
lembrou que o país africano passou a integrar o Brics, bloco que reúne
economias emergentes, entre as quais, Brasil, China, Rússia, Índia e África do
Sul.
“No
Brics, Vamos trabalhar juntos pela reforma da ordem global e da construção da
paz”, disse Lula.
O presidente
conta com o apoio do Egito nas prioridades da gestão brasileira à frente do
G20, grupo das principais economias do planeta. Lula deseja criar ações globais
contra a fome e as mudanças climáticas, além de rediscutir a atuação de
organismos financeiros, em especial no socorro aos países mais pobres.
Lula ainda
afirmou que Brasil e Egito precisam firmar uma parceria estratégica. Para o
presidente, o fluxo comercial atual fica aquém da capacidade dos dois países.
“Queremos
uma relação comercial de ganha-ganha”, disse.
Críticas a Israel e à Europa
Após as
agendas com Al-Sisi, Lula participou de uma reunião com representantes da Liga
Árabes que reúne nações da região.
No discurso,
o presidente voltou a criticar o Conselho de Segurança da ONU e repetiu o tom
dos comentários sobre a guerra entre Israel e o Hamas, defendendo o término do
conflito e o reconhecimento de um estado palestino.
“Vim
aqui para reafirmar aos países árabes: da mesma forma que nós somos contra o
Hamas, nós somos contra o comportamento de Israel, nós somos contra a guerra
porque o Brasil é um país que não tem contencioso com nenhum país do
mundo”, afirmou Lula.
Lula
criticou o plano israelense de realizar uma ofensiva terrestre em Rafah, cidade
no extremo sul da Faixa de Gaza, na fronteira com o Egito, que abriga no
momento mais de 1 milhão de pessoas deslocadas por conta da guerra.
O presidente
lembrou que o Brasil apoiou a ação apresentada pela África do Sul contra Israel
na Corte Internacional de Justiça. O tribunal decidiu que Israel deve tomar
medidas para evitar um genocídio de palestinos.
“Operações
terrestres na já superlotada região de Rafah prenunciam novas calamidades e
contrariam os espíritos das medidas cautelares da Corte. É urgente parar com a
matança”, declarou Lula.
O presidente
também anunciou que o Brasil doará dinheiro para financiar a agência das Nações
Unidas de assistência aos palestinos (UNRWA). Ele não informou o valor da
contribuição.
Países como
EUA, Canadá, Reino Unido e Itália anunciaram a suspensão de repasses à agência.
O órgão informou em janeiro que abriu investigação sobre funcionários suspeitos
de envolvimento nos ataques do Hamas em Israel.
“As
recentes denúncias contra os funcionários da agência [da ONU] precisam ser
devidamente investigadas, mas não podem paralisá-la. Refugiados palestinos na
Jordânia, Síria e Líbano também ficarão desamparados. Basta de punições
coletivas”, disse Lula.