Conselho Eleitoral chama de ‘ilegal’ relatório da ONU que critica eleição na Venezuela
Conselho Eleitoral chama de 'ilegal' relatório da ONU que critica eleição na Venezuela
Relatório feito por observadores da ONU na eleição venezuelana divulgado nesta terça (13) apontou falta de transparência no pleito.
Por g1
O Conselho
Nacional Eleitoral venezuelano, alinhado ao presidente Nicolás Maduro, repudiou
nesta quarta-feira (14) e chamou de “ilegal” o relatório da ONU que
aponta falta de transparência na eleição do país.
O comunicado
divulgado pelo CNE também chamou de “panfletário” e
“infame” o relatório da ONU, que era “confidencial” e foi
tornado público pela organização nesta terça (13). Minutos depois da
publicação, o CNE apagou o comunicado, que também chamava o relatório de
“fraudulento” e que continha “um monte de mentiras”.
“O
Poder Eleitoral da República Bolivariana da Venezuela repudia a publicação do
denominado “Relatório Preliminar” do Painel de Peritos da Organização das
Nações Unidas (ONU) sobre a Eleição Presidencial realizada na Venezuela em 28
de julho de 2024. Esse relatório é ilegal, contrário aos princípios da própria
ONU, violando os Termos de Referência acordados com este Poder Constitucional
e, sobretudo, está repleto de mentiras e contradições”, disse o comunicado
do CNE.
O documento
é assinado por autoridades do CNE e pelo presidente do órgão, Elvis Amoroso,
que é um aliado de Maduro. O presidente venezuelano foi declarado pelo CNE
vencedor da eleição na Venezuela no final de julho com 51,95% dos votos, contra
43,18% do candidato de oposição Edmundo González, com 96,87% das atas apuradas.
A oposição e a comunidade internacional contestam o resultado e exigem a publicação das atas eleitorais. Segundo contagem paralela da oposição, González, venceu as eleições com 67% dos votos, contra 30% de Maduro. Alguns países como os EUA e a União Europeia já anunciaram que consideram González como vencedor da eleição.
O relatório
da ONU sobre a eleição na Venezuela indica falta de transparência do órgão
eleitoral venezuelano. O documento, elaborado por especialistas da ONU que
observaram o pleito no país durante um mês, também constatou haver segurança
nas atas com resultados divulgados pela oposição.
A porta-voz
da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse nesta quarta (14) que “o CNE não
publica os resultados completos e detalhados porque mostrariam que Edmundo
González venceu. (…) Maduro deve reconhecer isso e iniciar um diálogo
construtivo, inclusivo e de boa-fé com a oposição.”
Segundo o
CNE, o relatório demonstraria uma “agenda política contra o povo
venezuelano”, e coloca em dúvida a credibilidade e confiabilidade da ONU.
A ONU não
foi o primeiro órgão observador independente a emitir um relatório citando
falta de transparência na eleição venezuelana. O Centro Carter, organização que
observa processos eleitorais pelo mundo, afirmou que o pleito na Venezuela não
pode ser considerado democrático e fez uma série de ressalvas.
O CNE disse
também que a publicação do relatório pela ONU não estaria dentro das funções no
painel de observadores independentes e “demonstra a intenção política
perversa dessa divulgação, composta por argumentos falaciosos e
distorcidos”.
O órgão
eleitoral venezuelano também disse que a publicação viola um dos termos que
teriam sido acordados entre a ONU e o CNE em 29 de junho de 2024 para a
observação da eleição. “(…) também violou as regras estabelecidas pela
própria ONU, uma vez que ‘ao contrário das missões de observação eleitoral da
ONU, que requerem um mandato específico do Conselho de Segurança ou da
Assembleia Geral, (…) os Painéis de Peritos Eleitorais não emitem declarações
públicas avaliando a condução geral de um processo eleitoral ou seus
resultados'”, disse o comunicado.
Relatório da ONU
A ONU
divulgou nesta terça-feira (13) um relatório “confidencial” sobre as
eleições na Venezuela. O documento indica falta de transparência do órgão
eleitoral venezuelano e afirma haver segurança em atas com resultados
divulgados pela oposição.
As eleições
presidenciais na Venezuela terminaram com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE)
proclamando Nicolás Maduro vitorioso. No entanto, a oposição garante que atas
das urnas colhidas após o pleito dão vitória a Edmundo González, por ampla
vantagem.
O relatório
da ONU foi produzido por especialistas que compõem um painel eleitoral
independente. Membros da equipe viajaram para a Venezuela no fim de junho,
cerca de um mês antes das eleições, e acompanharam o pleito.
Segundo o documento, o anúncio do resultado que consagrou a reeleição de Maduro ocorreu sem detalhes da votação. De acordo com os especialistas, isso configurou uma ação sem precedentes em eleições democráticas contemporâneas, com impacto negativo na confiança do resultado.
O Painel da
ONU afirma ainda que o CNE não seguiu as disposições legais e regulamentares
nacionais. Além disso, o órgão eleitoral perdeu todos os prazos estipulados.
“O
processo de gestão dos resultados do CNE ficou aquém das medidas básicas de
transparência e integridade que são essenciais para a realização de eleições
credíveis”, afirma o documento.
Em relação
às atas publicadas pela oposição, que dão vitória a Edmundo González, o
documento afirmou que os dados exibem características de segurança.
“O
Painel revisou uma pequena amostra dos documentos que estão atualmente no domínio
público (incluindo aqueles postados online pela oposição) e que são relatados
como sendo protocolos de resultados de várias urnas. Todos os documentos
revisados exibem todos os recursos de segurança dos protocolos de resultados
originais”, diz o relatório.
O documento
reforçou ainda que, de modo geral, o sistema de votação da Venezuela foi
projetado para ser confiável, com várias camadas de proteção. Por outro lado,
as autoridades eleitorais não publicaram os relatórios oficiais com os
resultados, que garantiriam segurança aos dados.
“O CNE
não publicou, e ainda não divulgou, nenhum resultado (ou resultados detalhados
por urna), para apoiar seus anúncios orais conforme previsto no marco legal das
eleições”, cita o documento.
Além disso,
o Painel da ONU afirmou que recebeu vários relatos de que agentes da oposição
foram impedidos de receber cópias dos dados oficiais das urnas eleitorais. O
documento também destacou restrições a opositores durante o período
pré-eleitoral.
O relatório
publicado nesta terça-feira é provisório e foi entregue ao secretário-geral da
ONU, António Guterres, e ao Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela.
Documento confidencial
Em uma nota
publicada em junho, a ONU informou que o Painel Eleitoral foi criado após um
pedido do CNE da Venezuela. À época, a organização afirmou que os especialistas
produziriam um relatório confidencial sobre o andamento das eleições no país.
O objetivo
do relatório seria sugerir recomendações e melhorias para futuros pleitos na
Venezuela. A nota indicou ainda que o documento seria “independente e
interno”, direcionado ao secretário-geral e autoridades venezuelanas.
No entanto,
nesta terça-feira, um porta-voz da ONU disse que o relatório preliminar
produzido pela equipe de especialistas seria disponibilizado no site da organização
para acesso público.
“O
painel continua acompanhando os aspectos técnicos das próximas fases restantes
do processo eleitoral, de acordo com seus termos de referência, e fornecerá um
relatório final ao Secretário-Geral”, afirmou Haq.
O anúncio da
ONU foi criticado pelo presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge
Rodríguez. Ele chamou o painel de especialistas de “lixo” e propôs
uma reforma nas leis eleitorais do país para evitar observadores estrangeiros.
Análise do Centro Carter
Logo após a
eleição de 28 de julho, na qual Nicolás Maduro foi proclamado reeleito
presidente pelas autoridades eleitorais, o Centro Carter afirmou que o pleito
não poderia ser considerado democrático.
Ao todo, 17
observadores do Centro Carter acompanharam as eleições venezuelanas. O órgão já
acompanhou 124 eleições em 43 países.
A entidade
informou que a Venezuela “violou inúmeras disposições de suas próprias
leis nacionais” e que não pôde verificar os resultados declarados pelo
Conselho Nacional Eleitoral.
Além disso,
o Centro Carter elencou outros problemas, como:
– registro
de eleitores prejudicados por prazos curtos;
– requisitos
excessivos, e alguns arbitrários, para cidadãos votarem no exterior, o que
resultou em um número baixo de votantes fora da Venezuela;
– condições
desiguais de competição entre Maduro e Edmundo González, da oposição;
– tentativas
de restrição da campanha da oposição durante a corrida eleitoral;
– falta de
transparência do CNE no anúncio dos resultados.
– Na mesma linha, a Organização dos Estados Americanos (OEA) produziu um relatório afirmando haver indícios de que o governo Maduro distorceu o resultado.