Consignado do Auxílio Brasil: governo limita a 5% o desconto mensal do benefício
Consignado do Auxílio Brasil: governo limita a 5% o desconto mensal do benefício
Portaria também limita a 6 o número de parcelas do empréstimo e determina taxa de juros máxima de 2,5%.
Por Marta Cavallini, Matheus Moreira e Poliana Casemiro, g1 09/02/2023 07h13 - Atualizado há 42 minutos
O governo
federal limitou a 5% o desconto mensal de beneficiários do Auxílio Brasil que
contratarem empréstimo consignado a partir desta quinta-feira (8).
Assim, o
valor máximo que poderá ser contratado será aquele em que as parcelas
comprometam até 5% do valor mensal do benefício, segundo a portaria publicada
nesta quinta.
A portaria
também limitou o número de prestações do empréstimo a 6 parcelas mensais e
sucessivas. Antes, o número máximo de parcelas era de 24 mensais.
Além disso,
a taxa de juros não poderá exceder 2,5% ao mês a partir desta quinta-feira.
Antes, a
taxa de juros era de 3,5%, com cada instituição financeira podendo adotar uma
taxa diferente, respeitando esse teto. No caso da Caixa, o banco havia
estabelecido uma taxa de 3,45% ao mês.
Quando foi lançado, em outubro do ano passado, o valor máximo do consignado era limitado a 40% do valor mensal do Auxílio Brasil.
Para o
cálculo dos empréstimos já feitos, eram considerados R$ 400, e não o valor
mínimo mensal de R$ 600 pago para as famílias. Assim, o valor da parcela era de
no máximo de R$ 160.
O g1 entrou
em contato com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e
Combate à Fome para saber se o valor considerado para o consignado foi mantido
em R$ 400 e aguarda resposta. Em caso positivo, o valor da parcela será de R$
20.
Caixa
suspendeu empréstimo
Em 12 de
janeiro, a Caixa Econômica Federal suspendeu a concessão de novos empréstimos
consignados a beneficiários do Auxílio Brasil – a linha de crédito está
passando por uma revisão completa de parâmetros e critérios.
Para quem já
havia contratado, nada mudou. As parcelas estão sendo debitadas de maneira
regular e de acordo com cada contrato.
De acordo
com a presidente da Caixa, Rita Serrano, a suspensão se deu por duas razões: a
decisão do Ministério do Desenvolvimento Social de revisar o cadastro dos beneficiários
e reavaliação dos juros a ser aplicado.
O g1
questionou se a Caixa pretende retomar novos empréstimos e aguarda resposta.
A Caixa
Econômica Federal não é o único banco que oferece o crédito consignado para
beneficiários do Auxílio Brasil. Mas, segundo o antigo Ministério da Cidadania,
R$ 7,64 bilhões (80% do total) foram feitos via Caixa, segundo balanço até 1º
de novembro.
Há pelo
menos outras 15 instituições financeiras autorizadas pelo governo anterior a
realizar os empréstimos – veja aqui a lista.
Como
funciona
O empréstimo
consignado não é cancelado se o Auxílio Brasil for cancelado. Ou seja, mesmo se
deixar de receber o Auxílio Brasil, o beneficiário precisa se organizar para
pagar todos os meses o empréstimo até o final do prazo do contrato.
No
empréstimo consignado, o desconto é feito direto na fonte. Ou seja, durante o
prazo contratado, a parcela é descontada diretamente do valor mensal do
benefício.
No ato da
contratação, as instituições financeiras devem informar ao beneficiário as
seguintes condições:
Valor total
contratado com e sem juros;
Taxa efetiva
mensal e anual de juros;
Valor,
quantidade e periodicidade das prestações;
Soma do
total a pagar ao final do empréstimo;
Data do
início e fim do desconto;
Valor
líquido do benefício restante após a contratação
A oferta de
crédito consignado por meio do Auxílio Brasil foi criticada por especialistas e
entidades por ser danosa à população de baixa renda porque os recursos do
programa costumam ser utilizados para gastos básicos de sobrevivência.
Fazer um
empréstimo consignado ligado ao Auxílio Brasil pode valer a pena para quem tem
alguma necessidade urgente e inadiável – mas não para pagar as contas do dia a
dia ou para fazer compras desnecessárias. Isso porque o crédito pode
comprometer a renda disponível do beneficiário por um longo prazo. Assim, pode
faltar dinheiro por vários meses para fazer gastos essenciais, como
alimentação.
Números
do consignado
Até 1º de
novembro, uma em cada seis famílias beneficiárias do Auxílio Brasil solicitou o
empréstimo consignado. Ao todo, foram emprestados R$ 9,47 bilhões, com São
Paulo e Bahia superando a marca de R$ 1 bilhão.
O empréstimo
médio no país foi de R$ 2.718,24, ou seja, cerca de quatro vezes mais que o
valor mensal do benefício, de R$ 600. O estado com maior valor médio foi
Amazonas (R$ 2.891,49). Na outra ponta, o menor foi em Goiás (R$ 2.628,30).
Foram
realizados 3.484.354 empréstimos até o início do mês de novembro, número que
corresponde a cerca de 16,5% do total de beneficiários.
O Rio Grande
do Norte foi o estado com maior adesão: 23,25% das famílias beneficiárias no
estado recorreram ao crédito consignado, seguido por Rio Grande do Sul
(21,56%), Sergipe (19,1%), Paraná (18,64%) e Paraíba (18,38%). No outro
extremo, a menor adesão foi em Roraima (10,9%), Rondônia (13,5%), Maranhão
(13,62%) e Mato Grosso (13,79%).
Problemas
desde o início
Em 20 de
outubro, o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou, em parecer técnico,
que o empréstimo consignado do Auxílio Brasil fosse suspenso. A recomendação
foi devido ao possível uso para “interferir politicamente nas eleições
presidenciais”.
Já no dia 24
de outubro, a Caixa Econômica Federal informou que, atendendo a uma orientação
do TCU, congelou por 24 horas a liberação de empréstimos.
Ao mesmo
tempo, beneficiários do Auxílio Brasil que buscaram a Caixa Econômica Federal
para contratar o empréstimo consignado relataram problemas, como atraso no
depósito dos valores e cobranças inesperadas.
Em dezembro, reportagem do g1 mostrou o arrependimento de famílias com dificuldades para pagar as contas de casa após pegarem o consignado.