Contas externas devem ter déficit de US$ 36 bilhões
Contas externas devem ter déficit de US$ 36 bilhões
Banco Central conta com cenário econômico mais favorável.
Publicado por Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil - Brasília
A projeção
do Banco Central (BC) para o saldo das contas externas deste ano teve melhora.
A previsão de déficit para as transações correntes, que são as compras e vendas
de mercadorias e serviços e transferências de renda do Brasil com outros
países, passou de US$ 45 bilhões para US$ 36 bilhões.
As
informações são do Relatório de Inflação, publicação trimestral do BC,
divulgado nesta quinta-feira (28). “Espera-se, tanto para o ano corrente como
para o seguinte, um cenário favorável, caracterizado por robustos superávits na
balança comercial, déficits baixos na conta de transações correntes e entradas
líquidas de investimento direto no país (IDP) em valor superior ao déficit em
conta corrente”.
A redução do
déficit projetado vem, principalmente, da melhora do saldo comercial, de R$ 54
bilhões para R$ 68 bilhões, com aumento do valor das exportações, de US$ 335
bilhões para US$ 341 bilhões, e redução do valor das importações de US$ 281
bilhões para US$ 273 bilhões.
A revisão na
projeção de valor exportado no ano reflete principalmente o maior volume
embarcado de produtos básicos, especialmente petróleo e minério de ferro. Os
embarques esperados para o ano de commodities agrícolas, como soja e milho,
também subiram diante da safra recorde de grãos. “A projeção considera ainda
volume exportado ligeiramente menor do que anteriormente esperado para o ano no
tocante aos produtos manufaturados e semimanufaturados, incorporando dados mais
recentes da balança comercial”, explicou o BC.
Já nas
importações, a revisão incorpora recuo mais acentuado dos preços,
principalmente para bens intermediários e bens de consumo duráveis. O volume
importado, também revisado negativamente, incorpora a desaceleração da recuperação
em bens intermediários, além de moderação nas importações de combustíveis,
resultando em maior retração das importações totais em relação ao ano anterior.
O déficit
esperado da conta de serviços foi mantido em US$ 36 bilhões, abaixo do
registrado em 2022, de US$ 40 bilhões. “A ligeira redução nos déficits das
subcontas de transporte e viagens tem sido compensada pelo aumento dos gastos
com outros serviços, como aluguel de equipamentos. Além disso, a inclusão das
despesas com jogos e apostas favorece o aumento do déficit dessa conta”, diz o
relatório.
Para a conta
de renda primária, a projeção de déficit foi revisada para cima, com maiores
despesas líquidas com juros e, principalmente, lucros e dividendos, que devem
igualar a marca do ano anterior, a maior em 10 anos.
“A nova
projeção incorpora desempenho mais forte que o esperado de setores como
agropecuária e indústria extrativa, além de queda nas receitas com
investimentos no exterior. A projeção de gastos líquidos com juros, também
majorada, reflete perspectiva de aumento em comparação a 2022 em razão dos
maiores patamares das taxas básicas de juros nos países desenvolvidos”,
explicou o BC.
Assim, a
previsão no déficit em renda primária passou de US$ 63 bilhões para US$ 69
bilhões. Normalmente, essa conta é deficitária, já que há mais investimentos de
estrangeiros no Brasil – e eles remetem os lucros para fora do país – do que de
brasileiros no exterior.
Investimento estrangeiro
Na conta
financeira, segundo o BC, apesar do início de ano forte, continuando a
tendência do ano passado, dados mais recentes incorporados à projeção ficaram
abaixo do esperado. Assim, a estimativa de IDP em 2023 foi reduzida de US$ 75
bilhões para US$ 65 bilhões, equivalente a 3% do Produto Interno Bruto (PIB, a
soma dos bens e serviços produzidos no país).
“No entanto,
espera-se redução nas amortizações de empréstimos intercompanhia, que podem ter
sido favorecidas pelas receitas advindas do comércio internacional de bens no
primeiro semestre”, acrescentou o BC.
Quando o
país registra saldo negativo em transações correntes, precisa cobrir o déficit
com investimentos ou empréstimos no exterior. A melhor forma de financiamento
do saldo negativo é o IDP, porque os recursos são aplicados no setor produtivo
e costumam ser investimentos de longo prazo.
Para os
investimentos em carteira, a projeção foi revisada de neutralidade para
entradas líquidas de US$ 10 bilhões. “Além do saldo positivo concentrado em
títulos, observado no ano até julho, a revisão em relação ao relatório anterior
[de junho] reflete melhora no ambiente para emissões de títulos no exterior,
com redução da incerteza fiscal, resiliência maior que a esperada da atividade
doméstica e estoque reduzido de títulos emitidos em moeda estrangeira, em
relação ao pré-pandemia”, explicou o BC.
Previsão para 2024
Pela primeira vez, o BC apresentou a previsão para 2024 para as contas externas do país, de US$ 37 bilhões.
As projeções
consideram avanço nas exportações maior do que nas importações em relação a
este ano, com perspectiva de estabelecimento novo recorde de saldo comercial,
US$ 71 bilhões.
“A redução
correspondente no déficit em transações correntes, no entanto, deve ser
compensada por aumento no déficit de serviços [US$ 40 bilhões], enquanto as
despesas de renda primária devem ser ligeiramente menores [US$ 68 bilhões]”,
explicou o BC.
O IDP deve
atingir US$ 75 bilhões, equivalente a 3,2% do PIB, “convergindo para patamar
compatível com o pré-pandemia, em termos percentuais do PIB”. Para os
investimentos em carteira, esperam-se novas entradas líquidas, em magnitude
semelhante a deste ano, de US$ 10 bilhões.
Edição:
Fernando Fraga