Corrigido só pela inflação, como nos últimos anos, salário mínimo seria de R$ 1.285 em 2023; proposta de orçamento prevê R$ 1.302
Corrigido só pela inflação, como nos últimos anos, salário mínimo seria de R$ 1.285 em 2023; proposta de orçamento prevê R$ 1.302
Diferença acontece porque, ao elaborar orçamento, governo previa inflação maior que a registrada até aqui; Governo eleito prometeu alta real do mínimo já em 2023, mas ainda não anunciou valor.
Por Alexandro Martello, g1 — Brasília 19/11/2022 00h01 Atualizado há 9 horas
A redução
das expectativas oficiais de inflação para o ano de 2022, anunciada nesta
semana pelo Ministério da Economia, fez com que o reajuste do salário mínimo
para 2023 incluído no projeto de orçamento que já tramita no Congresso Nacional
ficasse acima das projeções do governo atual.
O texto foi
enviado ao Legislativo no fim de agosto prevendo um salário mínimo de R$ 1.302
– 7,41% maior que os R$ 1.212 atuais. Esse percentual correspondia à
expectativa de inflação para 2022 realizada naquele momento, ou seja,
reajustava o mínimo sem prever ganho real para os trabalhadores.
Esse
reajuste para corrigir o impacto da inflação é obrigatório porque está previsto
na Constituição. O orçamento de cada ano pode prever um reajuste maior, como
ocorria até 2019 (veja abaixo), mas nunca menor que a inflação oficial.
Quase três
meses depois, no entanto, a previsão do Ministério da Economia para a inflação
desse ano, medida pelo INPC, caiu dos 7,41% para 6%. Com isso, os R$ 1.302
previstos no projeto passaram a representar um ganho real no salário mínimo
para 2023.
Para manter
a intenção de apenas reajustar o mínimo pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor (INPC), o governo teria que refazer o cálculo. O valor seria de
quase R$ 1.285 – R$ 17 a menos que o salário inscrito no projeto de orçamento.
A correção
do salário mínimo apenas pela variação da inflação vem sendo adotada pelo
governo do presidente Jair Bolsonaro desde 2020. A última alta real, acima da
inflação, foi em 2019.
De acordo
com informações do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo serve de referência para 56,7
milhões de pessoas no Brasil, das quais 24,2 milhões de beneficiários do
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O g1 entrou
em contato com o Ministério da Economia e perguntou se será proposto, ainda
neste ano, o valor para o salário mínimo de 2023. O reajuste de 2022, por
exemplo, foi anunciado no dia 31 de dezembro do ano passado. A área econômica informou,
porém, que não irá se manifestar sobre o assunto.
Novo
governo promete alta real
O governo
eleito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já informou que haverá alta do
salário mínimo acima da inflação em 2023. A última informação é que a alta real
será de 1,3% a 1,4% no próximo ano (veja abaixo).
A reportagem
do g1 procurou o senador eleito Wellington Dias (PT), coordenador do orçamento
de 2023 na transição, e questionou qual o valor será proposto para o salário
mínimo no próximo ano. No entanto, também não obteve resposta.
Apesar de
estimar um reajuste com ganho real, o governo eleito ainda não disse claramente
qual seria esse valor para 2023.
A cada R$ 1
de aumento, acima dos R$ 1.302 que constam na proposta de orçamento do próximo
ano, o custo adicional é de R$ 370 milhões.
Isso porque
as aposentadorias e o seguro-desemprego, assim como o Benefício de Prestação
Continuada (BPC), não podem ser menores do que o mínimo.
Para abrir
espaço no orçamento para essa nova despesa, o governo encaminhou ao Congresso
Nacional a chamada “PEC da Transição” – proposta do governo eleito
que retira todo o Bolsa Família do teto de gastos.
A PEC, se
aprovada, permitirá remanejar os R$ 105 bilhões que, atualmente, estão
reservados para pagar o Auxílio Brasil de 2023 (com valor menor do que o
atual).
Além da alta real para o salário mínimo, a intenção é recompor recursos para a saúde e para a educação, entre outras áreas.