Déficit zero só tem efeito simbólico, afirma professor da Unicamp
Déficit zero só tem efeito simbólico, afirma professor da Unicamp
Economista propõe novas agendas e diz que dívida está sob controle.
Publicado por Gilberto Costa – Repórter da Agência Brasil - Brasília
O Congresso
Nacional deverá votar nos últimos dias de novembro a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO), que estabelece as regras para a elaboração do orçamento
público de 2024. Entre diferentes normas e princípios para o futuro orçamento,
a LDO fixa o nível de equilíbrio fiscal entre receitas e despesas previstas.
Inicialmente,
o projeto da LDO previa que o volume de recursos disponíveis na administração
pública federal empataria com o total de gastos e investimentos no mesmo valor:
R$ 5,391 trilhões. Nesta semana, porém, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
admitiu que “há erosão de tributos”, por causa do abatimento sobre a base de
cálculo da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) e do Imposto sobre a
Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e em razão de as empresas estarem retirando
da da base de cálculo do PIS/Confins o Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços (ICMS).
Admitido o
problema, Haddad afirmou que o governo federal vai “buscar o equilíbrio fiscal
de todas as formas justas e necessárias para que se tenha um país melhor.” A
despeito das explicações dadas e de compromissos reafirmados pelo ministro, há
forte expectativa no mercado financeiro para saber se os gastos no ano que vem
de fato estarão cobertos pela arrecadação a ser apurada, ou se haverá déficit.
E, se houver déficit, qual será a proporção: 0,25% ou 0,5%.
Para o professor Pedro Linhares Rossi, do Instituto de Economia da Unicamp, que estuda efeitos da política fiscal nos direitos sociais, “há uma certa celeuma do mercado”, em torno da previsão. “O déficit ser zero ou ser 0,5% não faz diferença alguma em termos de variação da dívida [pública]. O impacto é muito pequeno. A dívida tem uma dinâmica que depende de vários fatores. “
“A narrativa
predominante, que aparece o tempo todo na mídia, vocalizada por economistas de
mercado, trata a questão fiscal como caminho para reformas mais profundas de
constrangimento do gasto público. Há uma ideia, desde 2015, de que é preciso
cortar gastos públicos, e o resultado fiscal é usado como instrumento para esse
constrangimento”, pondera Rossi.
Na avaliação
do professor, a economia do país não corre riscos e eventuais impactos serão
“simbólicos” e “restritos a situações de curto prazo”. Segundo Rossi, as
variáveis fiscais são fundamentais no médio e no longo prazos, mas não adianta
buscar estabilização da dívida ou redução do déficit gerando corte de gastos
que, por sua vez, geram desemprego e queda do crescimento. Há uma relação entre
gasto público e crescimento que deve ser considerada na hora da definição das
variáveis fiscais.”
Sem insolvência
De acordo
com Rossi, a dívida está sob controle, e o Estado seguirá remunerando
normalmente investimentos em títulos públicos. “A insolvência do setor público,
dos títulos públicos, está totalmente fora do horizonte. Não há nenhuma razão
nesse sentido para demandar déficit zero. O que fica no radar do mercado é uma
convenção de que as variáveis fiscais geram impacto no mercado de curto prazo.
Isso de fato se realiza quando a maioria dos agentes pensa dessa maneira.”
Para ele, o
país necessita de mais investimentos para ter maior crescimento econômico, que
inclusive potencializa a arrecadação e cria melhores condições para o
equilíbrio fiscal. “O que é preciso é definir o que se quer de mudança, o que
se quer em termos de gasto público e, a partir disso, definir quais são as
variáveis do lado fiscal, receita e despesa, e como construir resultados e
metas fiscais para viabilizar esse projeto de país.”
O economista
propõe a investidores, ao governo e à sociedade discutir novas agendas. “Em vez
de discutir a transição ecológica, as mudanças na economia brasileira, ou seja,
o desenvolvimento econômico, estamos discutindo uma variável fiscal cuja
importância é difícil discernir no debate público. Eu diria que essa
importância é superdimensionada no debate público.”
Dívida em queda
Como
reportado pela Agência Brasil, a Dívida Pública Federal (DPF) está em queda. De
acordo com o último resultado apresentado pelo Tesouro Nacional, o volume caiu
para R$ 6,028 trilhões em setembro, um recuo de 3,02% em relação ao mês
anterior
A dívida
pública é contraída pelo governo para financiar gastos não cobertos com a
arrecadação de tributos. Quando precisa de recursos, o Tesouro Nacional emite
papéis, promissórias, bônus rotativos, apólices para tomar empréstimos e
remunera os investidores, conforme prazo de pagamento e volume de dinheiro
levantado.
Edição:
Nádia Franco