Delator executado pelo PCC se recusou a entrar em programa de proteção para não abrir mão do estilo de vida, diz promotor
Delator executado pelo PCC se recusou a entrar em programa de proteção para não abrir mão do estilo de vida, diz promotor
Vinicius Gritzbach respondia a processos por homicídio e lavagem de dinheiro do PCC, segundo o promotor de Justiça Lincoln Gakiya.
Por Léo Arcoverde, GloboNews e g1 SP — São Paulo
O delator do
PCC executado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, se recusou
a entrar no programa de proteção, segundo o promotor de Justiça Lincoln Gakiya,
do Ministério Público de São Paulo. Ele havia fechado um acordo de delação
premiada em março.
Em
entrevista ao Em Ponto, da GloboNews, Gakiya disse nesta segunda-feira (11) que
Antonio Vinicius Lopes Gritzbach alegava que podia bancar a própria segurança e
não queria abrir mão do estilo de vida que levava. Ao entrar no programa, ele
precisaria mudar de casa e deixar de conviver com a família e amigos
O Ministério
Público ofereceu a todo momento a inserção do Vinicius no programa de proteção
de réu colaborador. Ele, na presença de seus advogados, se negou a ingressar
nesse programa. Embora soubesse que corria risco, dizia que podia custear a
própria segurança.
— Lincoln
Gakiya, promotor de Justiça
Ao
Fantástico, a defesa de Gritzbach confirmou que foi opção dele de não aceitar a
entrada no programa de proteção.
“Ele
precisa romper todos os laços com a sua vida, inclusive com o envolvimento com
o crime. Ele deixa sua moradia, seu trabalho, os laços familiares e vai para o
programa, mas ele se recusou a ir para esse programa”, afirmou o promotor, que
é do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo
(Gaeco).
De acordo
com o promotor, que há décadas investiga os tentáculos do PCC no estado de São
Paulo, Gritzbach lavava dinheiro para o crime organizado havia mais de dez
anos, através da venda de imóveis, bitcoins, joias, postos de gasolina e
fintechs – empresas financeiras digitais. “Ele era um arquivo vivo muito
perigoso”, afirmou.
Gritzbach
respondia a um processo criminal por duplo homicídio, ao mandar matar um
ex-chefe do PCC chamado “Cara Preta’” e o motorista dele em dezembro
de 2022, além de vários processos por lavagem de dinheiro. Ele estava em
liberdade graças a um habeas corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Execução e mala com joias
Gritzbach
foi executado na sexta-feira (9) ao desembarcar no aeroporto em Guarulhos vindo
de Maceió. Na bagagem, ele levava mais de R$ 1 milhão em joias e objetos de
valor. Segundo fontes da polícia, ele tinha ido à capital alagoana cobrar uma
dívida.
Nenhum dos
quatro policiais militares contratados como seguranças particulares estava com
ele no momento do assassinato. Segundo depoimento deles à polícia, um dos
carros que iriam buscá-lo no aeroporto teve um problema na ignição e o outro
teve de fazer meia volta para deixar um dos ocupantes em um posto de
combustível.
Investigadores
desconfiam dessa versão (leia mais). Uma das linhas de investigação é que os
seguranças teriam falhado de forma proposital.
Para Gakiya,
a morte de Gritzbach em plena luz do dia, dentro do aeroporto mais movimentado
do país, foi uma “audácia muito grande” e um “recado” do
crime organizado à sociedade.
Foi um
recado. Podiam ter atingido o Vinícius em outro local, mas quiseram deixar bem
claro que quem se envolve com o crime organizado e, principalmente com o
dinheiro do crime, pode estar sujeito a esse tipo de execução à luz do dia. É
uma audácia muito grande. É um ponto de inflexão, sim. É preciso que as
autoridades percebam que estamos entrando em outro estágio de crime organizado
no país.