Dia Mundial da Água: Cerrado pode perder quase 34% da água até 2050
Dia Mundial da Água: Cerrado pode perder quase 34% da água até 2050
Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma.
Publicado em 22/03/2023 - 07:05 Por Letycia Bond - Repórter da Agência Brasil - São Paulo
O Cerrado
pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração
agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e
especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez
que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e
diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta
terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela
Organização das Nações Unidas (ONU).
Salmona
mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que
resultou em artigo publicado na revista científica internacional
Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População
e Natureza (ISPN).
Ao todo,
foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e
2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas
em virtude do avanço da agropecuária.
A pesquisa
indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm
influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso
do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está
associado a mudanças climáticas.
“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.
Quanto às
consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada
evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com
maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.
“O que
está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais
incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da
água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de
forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o
Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.
Chuvas
Outro fator
que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o
que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.
“A
gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O
que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume
de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com
isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo
e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.
Uma das
razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está
no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de
banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de
estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em
torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água
subterrânea.
Edição:
Heloisa Cristaldo