Em 5 anos, homicídios caem mais de 30% em seis estados e no DF
Em 5 anos, homicídios caem mais de 30% em seis estados e no DF
Em 2018 e 2019, houve queda mesmo com 45,5 mil registros.
Publicado por Léo Rodrigues - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
Entre 2016 e
2021, 12 das 27 unidades da federação registraram quedas nas taxas de homicídio
superiores a 30%. Em sete delas – Acre, Alagoas, Distrito Federal, Goiás, Minas
Gerais, Rio Grande do Sul e Sergipe – a redução foi de mais de 40%. É o que
mostra a nova edição do Atlas da Violência.
Considerando
apenas o período entre 2020 e 2021, houve quedas robustas no Acre (33,5%),
Sergipe (20,3%) e Goiás (18%). Já os maiores aumentos foram anotados no
Amazonas (34,9%), Amapá (17,1%) e Rondônia (16,2%). Além do levantamento sobre
homicídios, o Atlas da Violência inclui ainda uma série de informações
envolvendo violências contra populações específicas: mulheres, crianças,
idosos, LGBTQIAP+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer ou
Questionadores, Intersexuais e Assexuais), negros e indígenas.
A publicação
– divulgada anualmente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) –
tem como base principalmente dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade
(SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), ambos sob
gestão do Ministério da Saúde. Também são levados em conta os mapeamentos
demográficos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e levantamentos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A série
histórica de homicídios foi atualizada incluindo os dados de 2021, ano em que
houve 47.847 ocorrências segundo consta no SIM. Esse número corresponde a uma
taxa de 22,4 mortes por 100 mil habitantes. O índice caiu em relação a 2020,
mas ficou em patamar acima do anotado em 2019.
Considerando
a última década, o número de homicídios no país seguiu uma tendência
ininterrupta de crescimento de 2011 a 2017, ano em que houve 65,6 mil
ocorrências. A partir daí, houve queda em 2018 e em 2019, alcançando o patamar
de 45,5 mil casos. Uma nova alta foi observada em 2020, com 49,8 mil assassinatos.
Finalmente em 2021, foram 47,8 mil registros. Dessa forma, apesar da queda na
comparação com o ano anterior, os dados ainda mostram um patamar acima do
verificado em 2019.
A diminuição
das taxas de homicídio ocorreu em praticamente todas as regiões do país, com
exceção da região Norte. Cinco estados – Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso
do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – registraram índices abaixo de 19,9
por 100 mil habitantes. Já as maiores taxas – entre 35,5 e 52,6 por 100 mil
habitantes – foram observadas no Amazonas, Roraima, Amapá, Ceará e na Bahia.
Atlas da Violência
O Atlas da
Violência elenca fatores que contribuíram para essa dinâmica dos dados nos
últimos anos, entre eles, o envelhecimento da população. Isso porque homens
entre 15 e 29 anos são os que mais apresentam risco de serem vítimas de
homicídios. Dessa forma, a redução da população de jovens teria influência na
queda do número de casos desde 2017.
“A
violência é a principal causa de morte dos jovens. Em 2021, de cada 100 jovens
entre 15 e 29 anos que morreram no país por qualquer causa, 49 foram vítimas da
violência letal. Dos 47.847 homicídios ocorridos no Brasil em 2021, 50,6%
vitimaram jovens entre 15 e 29 anos. São 24.217 jovens que tiveram suas vidas
ceifadas prematuramente, com uma média de 66 jovens assassinados por dia no
país”, informa o levantamento.
O Atlas da
Violência também indica outros dois fatores de influência para a queda
observada. O primeiro é um armistício na guerra entre as maiores facções do
país pelo controle do corredor internacional de drogas nas regiões Norte e
Nordeste. O outro envolve os efeitos de programas qualificados de segurança
pública adotados em alguns estados, abrangendo políticas e ações inovadoras.
“Chama
atenção aí o estado da Paraíba, que vem reduzindo sucessivamente suas taxas de
homicídio desde 2011. Naquele ano foi inaugurado o programa Paraíba Unida pela
Paz, baseado em planejamento, apoiado em diagnóstico e orientado por
resultados, no qual o governador atua pessoalmente como o fiador e condutor da
política. É importante também salientar a importância da continuidade política
no processo, uma vez que não apenas os governadores nessas quatro últimas
gestões pertencem ao mesmo grupo político, bem como os gestores da segurança e defesa
social permanecem entre os profissionais que ajudaram na formulação e
introdução do programa naquele estado”, destaca o Atlas da Violência.
Conforme a publicação, as quedas observadas a partir de 2017 poderiam ter sido mais intensas. “A redução dos homicídios no país não foi mais robusta devido à política armamentista desencadeada no governo Bolsonaro”, revela a nova edição, que cita estudo do Fórum Brasil de Segurança Pública. Ele estima que, se não houvesse o aumento de armas de fogo em circulação a partir de 2019, teriam ocorrido 6.379 assassinatos a menos no Brasil em 2021.
Apesar da
queda nas taxas de homicídio, o Atlas da Violência levanta preocupação com o
uso letal da força pelas polícias no Brasil e indica que alguns eventos trazem
fortes indícios de execução, o que acende um alerta para um país democrático,
onde vigora o Estado de Direito.
Segundo o
Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública 2023, no ano de 2022 houve
6.429 mortes por intervenção policial, o que representa 13,5% do total das
mortes violentas intencionais no país. Em alguns estados como Bahia e Rio de
Janeiro, esses índices alcançaram patamar acima de 20%.
Crianças e adolescentes
Segundo
dados do Atlas da Violência, 2.166 crianças de zero a quatro anos e 7.396 de
cinco a 14 anos perderam suas vidas por agressão no Brasil entre 2011 e 2021. O
mesmo ocorreu com 97.894 adolescentes entre 15 e 19 anos. São vítimas que não
tiveram a chance sequer de iniciar ou concluir a vida escolar, nem de construir
um caminho profissional.
Na maioria
das vezes, as agressões ocorrem em casa e os agressores são pessoas próximas,
que gozam da confiança das vítimas. A Lei Menino Bernardo, aprovada em 2014,
incluiu no Estatuto da Criança e do Adolescente a proibição do castigo físico
como forma de educar os filhos. O Atlas da Violência aponta que essa é
“uma violência que foi normalizada por diversas décadas”.
Mas, além da
violência letal, o levantamento do Ipea chama também atenção para a violência
física, psicológica, sexual, patrimonial e institucional, além de casos
envolvendo negligência e trabalho infantil.
“A
proporção de estudantes do ensino fundamental que deixaram de ir à escola por
causa da sensação de insegurança é expressiva. No Brasil, saltou de 5,4% em
2009 para 11,4% em 2019”, informa a publicação.
Uma atenção
especial é dedicada ao bullying (intimidação sistemática), que estaria
crescendo no ambiente digital, por meio de celulares, computadores e outros
dispositivos usados para difundir mensagens e imagens. Dados do IBGE, reunidos
no Atlas da Violência, indicam que a proporção dos estudantes que foram objeto
de cyberbullying (práticas do bullying cometidas em espaços virtuais) é apenas
ligeiramente superior no ensino médio (13%) em comparação ao ensino fundamental
(12,6%).
“O
bullying é expressão de preconceito, intolerância e discriminação por modos
específicos de ser (etnia, raça, gênero, classe, estilos de comportamento,
maneiras e forma do corpo, posição política e ideológica, etc.), retrata-se na
forma de
agressão moral, psicológica e física e aparece em formas verbais (xingamento,
insultos, chacotas, difamação etc.) ou físicas (agressões, ameaças ou
intimidação)”, define o Ipea.
Idosos e LGBTQI+
Esta edição
do Atlas da Violência trouxe, também, de forma inédita, uma seção que trata da
violência contra idosos. “O tema ganha destaque porque o Brasil caminha a
passos largos no processo de transição demográfica, rumo ao envelhecimento da
população. Daí faz-se mister trazer à tona essa questão, que tende a crescer
nos próximos anos e décadas e representará mais um grande desafio para governos
e sociedade”, registra a publicação.
O Atlas da
Violência chama atenção para diferenças envolvendo raça. A mortalidade por
agressão é cerca de 41% mais elevada para negros do que para não negros em
2021, quando o país registrou uma taxa de 16,6 óbitos por agressão por 100 mil
habitantes para negros, e de nove por 100 mil para não negros.
No tópico em
que discute as violências contra a população LGBTQI+, o Atlas da Violência
destaca a necessidade de maior compromisso das instituições estatais com o
diagnóstico da situação.
“As
limitações na produção de dados constituem o principal desafio técnico à
implementação de políticas públicas destinadas a esta população”, acentua.
Além da insuficiência de dados, a publicação salienta que a institucionalização
de discursos LGBTfóbicos durante o governo de Jair Bolsonaro gerou uma falta de
confiança desta população no dispositivo de denúncia, que acusou queda no
número de ocorrências registradas.
Edição:
Kleber Sampaio