Em meio a debate sobre juros, Banco Central deve manter Selic em 13,75% ao ano nesta quarta
Em meio a debate sobre juros, Banco Central deve manter Selic em 13,75% ao ano nesta quarta
Se confirmada, essa será a sexta reunião seguida com manutenção do juro básico da economia. É o maior patamar da Selic desde novembro de 2016.
Por Alexandro Martello, g1 — Brasília 03/05/2023 00h01 - Atualizado há 11 horas
O Comitê de
Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (3) e
deve manter a taxa básica de juros da economia estável em 13,75% ao ano. Essa é
a projeção de analistas do mercado financeiro.
Se
confirmada, será a sexta manutenção da taxa Selic nesse nível. Esse é o maior
patamar dos juros desde novembro de 2016, ou seja, em seis anos e meio. A
decisão do Banco Central será anunciada por volta das 18h30.
A
expectativa da maior parte dos analistas do mercado financeiro, consultados
pelo Banco Central na semana passada, é de que a taxa comece a recuar somente
em meados do mês de setembro.
Debate
sobre juros
A reunião do
Copom desta semana será realizada em meio a um intenso debate sobre o nível da
taxa básica de juros da economia. O juro brasileiro é a maior taxa real do
mundo.
Na semana passada, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, debateram o tema no Senado Federal. O chefe do BC também participou de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado na última semana.
E o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuou disparando fortes críticas ao
patamar da taxa básica da economia, por conta do impacto no nível de atividade
e de emprego.
Chefiado por
Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, o Banco
Central possui autonomia operacional para definir a política monetária com
objetivo de controlar a inflação.
No Senado, o
ministro Fernando Haddad mostrou preocupação com a desaceleração da economia,
por conta também da alta dos juros, e disse que isso pode gerar problema nas
contas públicas, por conta do impacto na arrecadação.
“Se a
economia continuar desacelerando, por razões ligadas à política monetária [taxa
de juros alta, fixada pelo Banco Central], vamos ter problemas fiscais, porque
a arrecadação vai ser impactada. Não tem como separar. Se desacelero a
economia, vou ter impactos fiscais”, afirmou Haddad, na ocasião.
Já o
presidente do Banco central disse que o Copom, colegiado que define a taxa de
juros, atua de forma técnica e avaliou que a inflação continua alta no país.
“A
inflação de curto prazo tem caído, mas muito lentamente, e os núcleos [que
desconsideram fatores temporários] continuam altos. Esse ultimo número que
saiu, ficou um pouco acima”, afirmou.
Segundo ele,
o aumento da inflação prejudica, principalmente, os mais pobres. Campos Neto
afirmou, ainda, que o combate à inflação é a melhor política social que existe,
e destacou que o desequilíbrio das contas públicas contribui para a alta dos
juros.
Em sua
visão, a taxa de juros é alta no Brasil por conta do atual nível de
endividamento – considerado elevado para o padrão de países emergentes.
Como o BC
define os juros
A taxa de
juros é o principal instrumento do Banco Central para tentar conter as pressões
inflacionárias no país. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic.
Quando as
estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o Banco Central pode
reduzir o juro básico da economia.
Neste
momento, o BC já está ajustando a taxa Selic para tentar atingir a meta de
inflação do próximo ano, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a
18 meses para terem impacto pleno na economia.
Para 2023, a
meta de inflação foi fixada em 3,25%, e será considerada formalmente cumprida
se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
A meta de inflação do próximo ano é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Em doze
meses, até março, a inflação oficial somou 4,65%. O grande destaque foi aumento
da gasolina, que subiu 8,33% no mês passado. Para os anos de 2023 e 2024, o
mercado estima que o IPCA somará 6,05% e 4,18%.
Consequências
de juros altos
De acordo
com especialistas, juros elevados têm vários reflexos na economia, entre os
quais:
– Aumento
das taxas bancárias: a tendência é que novos aumentos também sejam repassados
aos clientes. Em 2022, os juros bancários subiram 8,2 pontos percentuais, mais
do que o aumento registrado na Selic.
– Redução do
consumo da população e nos investimentos produtivos, impactando negativamente o
Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Em 2022, o PIB cresceu 2,9%,
abaixo da expansão de 5% registrada no ano anterior.
– Despesa
adicional com juros da dívida pública: em 2022, a despesa com juros somou R$
586 bilhões. Na porcentagem do PIB (5,96%), é o maior patamar desde 2017. Juros
altos pressionam a dívida pública que, se muito elevada, pode interferir nos
investimentos.
– Aplicações
em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, passam a render mais: em
2022, as vendas de títulos públicos por meio do Tesouro Direto bateu novo
recorde.