Em meio a turbulências no sistema bancário global, BC deve manter juro em 13,75% ao ano nesta quarta

Em meio a turbulências no sistema bancário global, BC deve manter juro em 13,75% ao ano nesta quarta

Mesmo com taxa estável, mercado aguarda comunicado e ata do Copom em busca de possível sinalização de cortes futuros de juros. Tensões no sistema financeiro mundial ampliam ansiedade.





Por Alexandro Martello, g1 — Brasília 22/03/2023 00h01 - Atualizado há 3 horas

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (22) e deve manter a taxa básica de juros da economia estável em 13,75% ao ano, segundo a projeção de economistas do mercado financeiro.

Esse é o maior patamar desde novembro de 2016, ou seja, em pouco mais de seis anos. Se confirmada, essa será a quinta manutenção da taxa Selic nesse nível. A decisão será anunciada por volta das 18h30.

A reunião do Copom desta semana acontece em meio a tensões no sistema financeiro global, com a quebra de bancos, e de pressões por parte do governo federal para redução dos juros (veja mais abaixo nessa reportagem).

 

Como o BC define os juros

Para definir o nível dos juros, o Banco Central se baseia no sistema de metas de inflação. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o Banco Central pode reduzir o juro básico da economia.

Neste momento, o BC já está ajustando a taxa Selic para tentar atingir a meta de inflação do próximo ano, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.

Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.

A meta de inflação do próximo ano é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.

Em doze meses até fevereiro, a inflação oficial somou 5,60%, ainda acima das metas. O grande peso para o resultado do IPCA do mês passado foi o grupo de Educação.

Para os anos de 2023 e 2024, o mercado estima que o IPCA somará 5,95% e 4,11%.

Em análise divulgada, a XP avaliou que as perspectivas para a inflação continuam desafiadoras.

“As leituras recentes do IPCA mostraram núcleos de inflação ainda elevados e resistentes; o mercado de trabalho continua apertado, apesar de alguma acomodação recente; e as expectativas de inflação de médio prazo estão em alta, se afastando das metas”, informou.

A expectativa do mercado financeiro é de que a taxa de juros comece a recuar somente em novembro deste ano, quando passaria para 13,25% ao ano. A projeção é de que a Selic termine 2023 em 12,75% ao ano.

Nesta quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, ou banco central dos Estados Unidos) também definirá a taxa de juros norte-americana.

 

Cenário

A reunião do Copom dessa semana acontece em meio a tensões no sistema financeiro global, com a quebra de bancos nos Estados Unidos, como o SVB e o Signature Bank, além da forte crise com o Credit Suisse — que foi comprado pelo grupo suíço UBS Group por US$ 3,2 bilhões.

A turbulência no mercado financeiro, com risco de que a crise se espalhe pelo mundo, gerou uma discussão nos bancos centrais sobre os recentes aumentos nas taxas de juros. A avaliação é que juros altos estão gerando problemas de liquidez nas instituições financeiras.

Segundo o jornalista Valdo Cruz, da GloboNews e colunista do g1, a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acredita que, além da nova regra para as contas públicas, que está em fase final, a crise no mercado financeiro mundial pode antecipar a queda da taxa de juros no Brasil.

Além da crise bancária, o encontro do Copom ocorre novamente diante da pressão por parte do governo federal para que a autarquia, responsável por conter a inflação, comece a baixar a taxa de juros.

O BC autônomo, comandado por Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, foi novamente alvo de ataques nesta semana do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele também foi acompanhado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.

 

O que dizem analistas

Em meio a esse cenário, o mercado financeiro acredita em manutenção dos juros, mas a expectativa maior é pelo comunicado que será divulgado no dia da decisão e, também, pela ata da reunião dessa semana – que sairá na próxima terça-feira (28).

A ansiedade é sobre as indicações que o BC dará sobre os próximos passos da taxa básica de juros, ou seja, se haverá sinalização de que poderá cortar a taxa Selic nos próximos meses.

Até então, o BC tem informado em documentos oficiais que se manterá “vigilante”, indicando que deve manter os juros elevados por um “período suficientemente prolongado” de tempo para conter a inflação. E não afastou, até o momento, a possibilidade de voltar a subir a taxa Selic.

Segundo o economista André Perfeito, o BC não deve sinalizar corte de juros “em breve” mesmo com a crise bancária, o que pode indicar aumento das tensões com o governo.

“Não precisa ser um grande estrategista político para saber o que o Planalto e o PT irão colocar toda sua artilharia sobre o BCB e aqui temos o grande problema”, avaliou, em comunicado.

Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, avalia que a inflação segue pressionada, com os núcleos do IPCA (que excluem choques temporários) oscilando ao redor de 8%, acima dos EUA e Europa, por conta principalmente do aumento de gastos públicos da gestão petista.

Ele lembrou que, em 2022, houve um superávit primário nas contas do governo (receitas menos despesas, sem contar juros da dívida) de R$ 54 bilhões, ou cerca de 0,5% do PIB. E que, para este ano, deve ser registrado um déficit ao redor de 1,5% do PIB, equivalente a R$ 150 bilhões. Ou seja, um aumento de recursos na economia de cerca de R$ 200 bilhões de um ano para o outro.

“A gente está com inflação na casa de 8% ao ano [núcleos de inflação], está com a economia rodando próxima ao pleno emprego. Em cima disso tudo jogam um caminhão de demanda de politica fiscal [aumento de gastos]. Quer que a política monetária [definição dos juros pelo BC para conter a inflação] faça o que”, questionou Alexandre Schwartsman.

 

Consequências de juros altos

De acordo com especialistas, juros elevados têm vários reflexos na economia, entre os quais:

– Aumento das taxas bancárias: a tendência é que novos aumentos também sejam repassados aos clientes. Em 2022, os juros bancários subiram 8,2 pontos percentuais, mais do que o aumento registrado na Selic.

– Redução do consumo da população e afeta os investimentos produtivos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Em 2022, o PIB cresceu 2,9%, abaixo da expansão de 5% registrada no ano anterior.

– Despesa adicional com juros da dívida pública: em 2022, a despesa com juros somou R$ 586 bilhões. Na porcentagem do PIB (5,96%), é o maior patamar desde 2017. Juros altos pressionam a dívida pública que, se muito elevada, pode interferir nos investimentos.

– Aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, passam a render mais: em 2022, as vendas de títulos públicos por meio do Tesouro Direto bateu novo recorde.

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