Em primeiro discurso como ministro, Haddad fala em reduzir déficit bilionário e diz que ‘não existe mágica nem malabarismos’
Em primeiro discurso como ministro, Haddad fala em reduzir déficit bilionário e diz que 'não existe mágica nem malabarismos'
Novo ministro da Fazenda tomou posse neste domingo e fez cerimônia nesta segunda para assumir o cargo. Primeiras MPs na área econômica ainda não foram publicadas no 'Diário Oficial'.
Por Alexandro Martello, g1 — Brasília 02/01/2023 09h40 Atualizado há 14 minutos
O ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, declarou nesta segunda-feira (2) que o governo
“não aceitará” o déficit previsto para a economia brasileira em 2023
e trabalhará para reduzir o impacto negativo nas contas públicas.
“Não
aceitaremos um resultado primário que não seja melhor do que os absurdos R$ 220
bilhões de déficit previstos no Orçamento para 2023”, declarou.
Haddad fez
nesta segunda seu primeiro discurso como ministro da Fazenda. Ele e os outros
36 ministros foram empossados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
neste domingo (1º).
O orçamento de 2022, aprovado pelo Congresso Nacional, elevou de R$ 63,7 bilhões para R$ 231,5 bilhões a previsão para o rombo das contas do governo em 2023.
O aumento
incorpora os efeitos da PEC da transição, que abriu espaço no orçamento para
essas despesas por meio da alteração da regra do teto de gastos (que limita a
maior parte dos gastos à inflação do ano anterior).
A PEC
liberou R$ 145 bilhões em despesas dos ministérios no ano que vem, além de mais
recursos para investimentos.
O déficit
orçamentário acontece quando o governo gasta mais do que consegue arrecadar no
período. Para custear essa diferença, o Estado se endivida – e os juros dessa
dívida corroem o orçamento nos anos seguintes.
Além dos
efeitos da PEC da transição, Haddad afirmou que o aumento do rombo fiscal em
2023 também estaria relacionado com medidas eleitoreiras adotadas pela gestão
Jair Bolsonaro.
“Com
objetivo exclusivamente eleitoreiro, acabaram com filtros de seleção de
beneficiários dos programas de transferência de renda, comprometendo a
austeridade desses programas. Recentemente, aliás, confessaram o ato, nos
pedindo a retirada de dois milhões e meio de pessoas que eles incluíram
indevidamente no cadastro do Bolsa Família”, afirmou.
Posto
Ipiranga
Haddad
também fez uma referência ao antigo ocupante da pasta, Paulo Guedes, que
concentrava poderes e era chamado de “posto Ipiranga” na Economia.
Ele juntou, sob seu comando, os Ministérios da Fazenda, Planejamento e
Indústria e Comércio.
Na gestão
petista, as pastas foram desmembradas e foi criado, ainda, o Ministério da
Gestão.
“Éramos
o posto Ipiranga, agora somos uma rede de postos. É muito ruim concentrar todos
os ovos numa cesta, o que foi feito. Queremos agir colegiadamente”, disse.
Diálogo
sem ‘mágica ou malabarismos’
Durante seu
discurso, o novo ministro também deu recados ao mercado financeiro e
investidores.
Ele defendeu
o diálogo, afirmou que não existe “mágica nem malabarismos
financeiros” e afirmou que buscará uma “harmonização” entre a política
fiscal (contas públicas) e monetária (definição de juros pelo Banco Central).
“Não
existe mágica nem malabarismos financeiros. O que existe para garantir um
Estado fortalecido é a previsibilidade econômica, confiança dos investidores e
transparência com as contas públicas”, disse.
Disse também
acreditar que o “diálogo é a maior ferramenta da política, e o melhor
caminho para encontrar o denominador comum dos anseios da população brasileira
e do mercado”.
O novo ministro da Fazenda afirmou que sua equipe não está aqui para “aventuras”, e que também não há uma “bala de prata”, ou seja, algo que resolva todos os problemas.
“Estamos
aqui para assegurar que o país volte a crescer para suprir as necessidades da
população em saúde, educação, no âmbito social e, ao mesmo tempo, para garantir
equilíbrio e sustentabilidade fiscal”, declarou.
Nova
regra para as contas públicas
Fernando
Haddad também afirmou que o Ministério da Economia enviará, no primeiro
semestre deste ano ao Congresso Nacional, uma proposta de uma nova âncora
fiscal (para as contas públicas).
Atualmente,
a principal regra das contas públicas é o teto de gastos, que limita a maior
parte das despesas à inflação do ano anterior. Na PEC da transição, há um prazo
até agosto de 2023 para que o governo eleito envie uma proposta para uma nova
regra, que poderá ser aprovada por maioria simples.
Ele disse
que a buscará uma norma que “organize as contas públicas, que seja
confiável, e, principalmente, respeitada e cumprida”.
“O
arcabouço fiscal que pretendemos encaminhar precisa ter a premissa de ser
confiável e demonstrar tecnicamente a sustentabilidade das finanças públicas.
Um arcabouço que abrace o financiamento do guarda-chuva de programas
prioritários do governo, ao mesmo tempo que garanta a sustentabilidade da
dívida pública”, acrescentou.
Harmonização
entre gastos e juros
Durante seu
discurso, o ministro da Fazenda também afirmou que buscará uma
“harmonização” entre a política fiscal (relacionada com os gastos
públicos, chefiada pelo Ministério da Fazenda) e a chamada política monetária
(definição dos juros pelo BC para atingir as metas de inflação).
“Recentemente
eu afirmei em entrevista que não existe política fiscal ou monetária
isoladamente. O que existe é política econômica, que precisa estar harmonizada
ou o Brasil não se recuperará da tragédia do governo Bolsonaro”, declarou.
Com
autonomia operacional aprovada, o BC será comandado até 2024 por Roberto Campos
Neto, nomeado pelo governo Jair Bolsonaro. A instituição é responsável por
fixar o juro básico da economia, atualmente em 13,75% ao ano (maior nível em
seis anos).
Diante do
aumento de gastos discutido e aprovado nas últimas semanas por meio da PEC da
transição, o mercado financeiro tem reagido negativamente. O receio é o impacto
na dívida pública, considerada elevada para o padrão de países emergentes.
Desoneração
dos combustíveis
Ainda segundo Haddad, a decisão final sobre a prorrogação do tributo federal zero sobre combustíveis será tomada somente quando a nova diretoria da Petrobras tomar posse.
Nesta
segunda-feira (2), o governo prorrogou a isenção para gasolina somente por 60
dias, e para diesel e gás de cozinha até o final do ano.
“Veja bem, o
que eu falei é que o presidente iria decidir isso. Pediu a suspensão da medida
para que ele tomasse a decisão. E a decisão dele foi que, enquanto a nova
diretoria da Petrobras não tomar posse, ele quer tomar essa decisão quando a
diretoria tomar posse”, declarou.