Empresas de Gusttavo Lima são suspeitas de ocultar valores e de receberem R$ 49,4 milhões de bets investigadas, aponta inquérito
Empresas de Gusttavo Lima são suspeitas de ocultar valores e de receberem R$ 49,4 milhões de bets investigadas, aponta inquérito
Cantor teve prisão decretada pela Justiça nesta segunda-feira (23). Investigação apura suposto esquema de lavagem de dinheiro envolvendo influenciadores e casas de apostas.
Por Artur Ferraz, Juliana Cavalcanti, Júlia Montenegro, g1 PE
No mandado
de prisão expedido contra Gusttavo Lima pela Justiça de Pernambuco nesta
segunda-feira (23), a juíza Andréa Calado da Cruz afirma que as empresas Balada
Eventos e Produções Ltda. e GSA Empreendimentos e Participações Ltda, de
propriedade do artista, são suspeitas de ocultar valores de casas de apostas
online. Conforme as investigações, os empreendimentos receberam, desde 2023,
cerca de R$ 49,4 milhões da Esportes da Sorte e da Vai de Bet, que são
investigadas na operação.
O g1 chegou
a esse número somando os valores recebidos pelas duas empresas entre os anos de
2023 e 2024, segundo as investigações. Nessa soma, não estão incluídos os
valores que a polícia encontrou no cofre de uma das empresas do cantor (entenda
mais abaixo).
Gusttavo
Lima é um dos alvos da Operação Integration, da Polícia Civil de Pernambuco,
que apura um suposto esquema de lavagem de dinheiro pelo qual também foi presa
a influenciadora e advogada Deolane Bezerra. Segundo as investigações, a ação
criminosa envolvia a contratação de influenciadores digitais por casas de
apostas esportivas na internet, as “bets”.
Procurada, a
defesa de Gusttavo Lima disse que a ordem de prisão é “injusta” e que
vai provar a inocência dele (veja a nota abaixo). O g1 tenta contato com as defesas
dos demais investigados.
Na noite da
segunda-feira (23), o desembargador Eduardo Guilliod Maranhão, relator do caso,
acatou um pedido de habeas corpus que beneficia 17 investigados pela Operação
Integration, incluindo Deolane, a mãe dela e outras cinco pessoas que não
tinham sido presas ainda. A decisão não trata do mandado de prisão do cantor
Gusttavo Lima, que permanece válido até a última atualização dessa reportagem.
Entre as
operações suspeitas realizadas pela empresa de Gusttavo Lima, segundo a
Justiça, está a ocultação de R$ 4,9 milhões da empresa HSF Entretenimento
Promoção de Eventos, que pertence a outro investigado pela Operação
Integration, o empresário Bóris Maciel Padilha. Os dois tiveram a prisão preventiva
decretada nesta segunda (23).
Além da
ocultação do dinheiro, a empresa é investigada por, supostamente, dissimular a
propriedade da aeronave Cessna Aircraft, modelo 560 XLS (matrícula PR-TEM), que
foi apreendida no dia 4 de setembro deste ano também em meio à Operação
Integration.
Conforme as
investigações, essa operação se deu nas negociações de venda do avião com a
empresa J.M.J Participações Ltda (Vai de Bet), cujo sócio proprietário é José
André da Rocha, que era considerado foragido, mas foi beneficiado com o habeas
corpus concedido na segunda-feira (23).
Segundo o
inquérito policial, para a realização da suposta transação, a empresa de
Gusttavo Lima recebeu uma série de depósitos em sequência nos seguintes
valores, totalizando R$ 22.232.235,53:
16 de
fevereiro de 2024 – R$ 16 milhões
13 de março
de 2024 – R$ 2 milhões
15 de março
de 2024 – R$ 2 milhões
19 de março
de 2024 – R$ 1,564 milhão
03 de junho
de 2024 – R$ 1.113.204,55
01 de julho
de 2024 – R$ 1.124.750,56, R$ 1.101.569,60 e R$ 11.327.778,58
A Balada
Eventos e Produções Ltda. também é suspeita de ocultar recursos ilegais das
empresas Sports Entretenimento Promoção de Eventos e Pix 365 Soluções
Tecnológicas, de Darwin Henrique da Silva Filho – dono da Esportes da Sorte.
Segundo a investigação, Gusttavo Lima guardou num cofre da empresa os seguintes
valores:
R$ 112.309
5.720 euros
5.925 libras
esterlinas
1.005
dólares norte-americanos
A
investigação policial também aponta que outra empresa de Gusttavo Lima, a GSA
Empreendimentos e Participações Ltda recebeu das empresas Zelu Brasil
Facilitadora de Pagamentos, de Thiago Lima Rocha e Rayssa Ferreira Santana
Rocha, e Pix 365 (Vai de Bet) – de José André da Rocha Neto e Aislla Sabrina
Truta Henriques Rocha – no ano de 2023, os seguintes valores:
R$ 5.750.000
em 14 transferências por PIX
R$ 200 mil
também por Pix
R$ 1.350.000
em 5 TEDs
A Zelu
Brasil é considerada na investigação a intermediadora de pagamentos tanto da
empresa Vai de Bet, quanto da Esportes da Sorte (Sports Entretenimento). O
inquérito aponta também que o mesmo formato de transferência de valores foi
constatado no caso de Deolane Bezerra e da Esportes da Sorte.
O processo
registra também que, ao todo, a GSA recebeu depósitos de R$ 18.727.813,40
durante o ano de 2023. Desse total, R$ 5,950 milhões foram repassados por duas
empresas investigadas na Operação Integration, o que representa 31,77% de todos
os depósitos recebidos pela empresa GSA, de Gustavo Lima. E R$ 1,350 milhão foi
transferido da GSA para a conta de pessoa física do artista.
Dessa forma,
o cantor é considerado pela investigação como participante no crime de lavagem
de dinheiro.
Mandado de prisão
O mandado de
prisão preventiva foi expedido pela juíza Andrea Calado da Cruz, da 12ª Vara
Criminal do Recife. Em trecho da decisão, à qual o g1 teve acesso, a magistrada
cita “a conivência” entre Gusttavo Lima e outros investigados.
“A
conivência de Nivaldo Batista Lima [nome de registro de Gusttavo Lima] com
foragidos não apenas compromete a integridade do sistema judicial, mas também
perpetua a impunidade em um contexto de grave criminalidade”, diz trecho
da decisão.
Para embasar
a justificativa, a decisão cita que Gusttavo Lima deu “guarida a
foragidos” e cita uma viagem que o cantor fez com o casal de investigados
na Operação Integration, José André da Rocha Neto e Aislla Sabrina Truta
Henriques da Rocha, sócios da Vai de Bet, de Goiânia para a Grécia.
“No dia
7 de setembro de 2024, o avião de matrícula PS-GSG retornou ao Brasil, após
fazer escalas em Kavala, Atenas e Ilhas Canárias, pousando na manhã do dia 8 de
setembro no Aeroporto Internacional de Santa Genoveva, em Goiânia.
Curiosamente, José André e Aislla não estavam a bordo, o que indica de maneira
contundente que optaram por permanecer na Europa para evitar a Justiça.”
A Operação
Integration foi deflagrada no dia 4 de setembro, resultando na prisão de
Deolane Bezerra e de outros investigados. Na mesma data, foi apreendido, pela
Polícia Civil de São Paulo, um avião que pertencia à Balada Eventos e
Produções, de Gusttavo Lima. A aeronave, prefixo PR-TEN, foi recolhida por
policiais enquanto passava por uma manutenção no aeroporto de Jundiaí, no
interior paulista.
Na ocasião,
o advogado da Balada Eventos e Produções, Cláudio Bessas, informou que a
aeronave foi vendida por meio de contrato de compra e venda, devidamente
registrado junto ao Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB-Anac), para a empresa
J.M.J Participações.
Procurada, a
Anac informou que havia uma negociação, porém a empresa de Gusttavo Lima ainda
constava como proprietária do avião.
No dia seguinte
à apreensão do avião, o cantor Gusttavo Lima usou as redes sociais para dizer
que não tinha nada a ver com o avião apreendido durante a Operação Integration.
“O bebê não
pode pegar uma semana de descanso! Estão dizendo aí que o meu avião foi preso,
gente… Eu não tenho nada a ver com isso, me tira fora disso. Esse avião foi
vendido no ano passado. Honra e honestidade foram as únicas coisas que sempre
tive na minha vida, e isso não se negocia”, afirmou o cantor, em suas redes.
O avião foi
fabricado em 2008 pela Cessna Aircraft e é homologado para transporte, com
capacidade para 11 pessoas, incluindo uma tripulação mínima de dois pilotos,
sem permissão para operação de táxi aéreo.
O que diz a defesa de Gusttavo Lima
“A
defesa do cantor GUSTTAVO LIMA recebeu na tarde desta segunda-feira (23/09),
por meio da mídia, a decisão da Juíza Dra. ANDRÉA CALADO DA CRUZ da 12ª Vara
Criminal de Recife/PE que decretou a prisão preventiva do cantor e de outras
pessoas e, esclarece que as medidas cabíveis já estão sendo adotadas.
Ressaltamos
que é uma decisão totalmente contrária aos fatos já esclarecidos pela defesa do
cantor e que não serão medidos esforços para combater juridicamente uma decisão
injusta e sem fundamentos legais.
A inocência
do artista será devidamente demonstrada, pois acreditamos na justiça
brasileira. O cantor GUSTTAVO LIMA jamais seria conivente com qualquer fato
contrário ao ordenamento de nosso país e não há qualquer envolvimento dele ou
de suas empresas com o objeto da operação deflagrada pela Polícia Pernambucana.
Por fim,
esclarecemos que os autos tramitam em segredo de justiça e que qualquer
violação ao referido instituto será objeto e reparação e responsabilização aos
infratores.”
Relembre a cronologia do caso:
Em julho
deste ano, Deolane Bezerra abriu uma empresa de apostas, Zeroumbet, com capital
de R$ 30 milhões.
Em 4 de
setembro, a empresária e influenciadora digital foi presa na Operação
Integration, deflagrada contra uma quadrilha suspeita de movimentar cerca de R$
3 bilhões num esquema de lavagem de dinheiro de jogos de azar.
A Justiça
determinou o bloqueio de R$ 20 milhões de Deolane e de R$ 14 milhões da empresa
dela por lavagem de dinheiro. Na delegacia, a influenciadora afirmou que sua
renda mensal é de R$ 1,5 milhão.
Além de
Deolane Bezerra, foram presas mais de 10 pessoas suspeitas de integrar o
esquema, incluindo o empresário Darwin Henrique da Silva Filho, dono da casa de
apostas Esportes da Sorte, e a esposa dele, Maria Eduarda Filizola.
Em depoimento
após ser presa, Deolane confirmou que comprou um carro de luxo de Darwin, um
Lamborghini Urus S, por R$ 3,85 milhões.
Segundo a
Polícia Civil, os pagamentos à vista pela compra e pela venda de carros de luxo
feitas pela empresa e pelo empresário geraram indícios de que houve
“lavagem de dinheiro proveniente do jogo do bicho e de apostas
esportivas”.
Ainda no dia
4, após a prisão, Deolane escreveu uma carta, publicada no Instagram, dizendo
que está sofrendo “uma grande injustiça”, que ela e a família são vítimas
de preconceito e lamentou a prisão da mãe.
Segundo a
Polícia Civil de Pernambuco, a Justiça decretou o sequestro de bens de vários
alvos, incluindo aeronaves e carros de luxo, e o bloqueio de ativos financeiros
no valor de R$ 2,1 bilhões. Ao todo, a polícia solicitou que R$ 3 bilhões
fossem bloqueados.
No dia 9 de
setembro, Deolane deixou a cadeia no Recife, após ser beneficiada com um habeas
corpus. Ela ficaria em prisão domiciliar e teria que usar tornozeleira
eletrônica.
Antes mesmo
de entrar no carro para ir embora, Deolane falou com a imprensa na frente do
presídio: “Foi uma prisão criminosa, cheia de abuso de autoridade por
parte do delegado. […] Eu não posso falar sobre o processo. Eu fui
calada”.
Na noite de
9 de setembro, uma nova carta escrita por Deolane foi publicada no Instagram.
“Agradeço imensamente o carinho e o apoio de todos, tenham certeza que não
irão se arrepender, afirmo com todo o respeito que tenho por vocês, sou
inocente e não há uma prova sequer”, disse no trecho final do manuscrito.
No dia 10 de
setembro, Deolane teve a prisão domiciliar revogada, após o descumprimento das
medidas cautelares para sua liberação, e seguiu para o presídio em Buíque, no
Agreste de Pernambuco.
No dia 11 de
setembro, o Tribunal de Justiça de Pernambuco negou outro pedido de habeas
corpus feito pela defesa de Deolane. O juiz alegou, entre outros motivos,
“financiamento de manifestantes [para protestar contra a prisão dela] por
iniciativa de familiares”.
No dia 18 de
setembro, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou mais um pedido de
liberdade da defesa de Deolane.
No mesmo
dia, a Polícia Civil informou que concluiu o inquérito da Operação Integration,
encaminhando o caso ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE);
Na
sexta-feira (20), sob a alegação de “esclarecer os fatos sob
investigação”, o MPPE pediu novas diligências à Polícia Civil e recomendou
substituir as prisões preventivas já decretadas por outras medidas cautelares.