Equipe de Lula deve propor salário mínimo de R$ 1.320 em 2023, diz coordenador do Orçamento
Equipe de Lula deve propor salário mínimo de R$ 1.320 em 2023, diz coordenador do Orçamento
Salário mínimo atual é de R$ 1.212, e governo Bolsonaro propôs R$ 1.302; Senador Wellington Dias afirma ser possível elevar valor se PEC da Transição for aprovada.
Por Alexandro Martello, g1 — Brasília 02/12/2022 09h55 Atualizado há 2 horas
O senador
eleito Wellington Dias (PT-PI), coordenador do núcleo de Orçamento da equipe de
transição de governo, informou ao g1 que a equipe do presidente eleito Lula
(PT) irá propor salário mínimo de R$ 1.320,00 no ano que vem.
Se aprovado
pelo Congresso Nacional, o novo valor ficará acima dos R$ 1.302,00 propostos
pelo governo Jair Bolsonaro. O salário mínimo atual é de R$ 1.212,00.
Durante a
campanha eleitoral, Lula disse que, se eleito, iria reajustar o salário mínimo
acima da inflação. No governo Bolsonaro, o salário foi reajustado conforme a
inflação em 2020, 2021 e 2022, ou seja, sem aumento real.
Portanto, se
confirmada e aprovada a proposta do governo eleito, o salário mínimo voltará a
ter aumento real após três anos.
De acordo
com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese), o salário mínimo serve de referência para 56,7 milhões de pessoas no
Brasil, das quais 24,2 milhões de beneficiários do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS).
Centrais
sindicais e PEC da Transição
A decisão da
equipe de transição de propor salário mínimo de R$ 1.320,00 em 2023 acontece
após Lula ter recebido no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em
Brasília, representantes de centrais sindicais. O reajuste do salário mínimo
foi um dos temas discutidos no encontro.
Junto com a
manutenção do auxílio para a população carente em R$ 600 no próximo ano, o
valor do salário mínimo do próximo ano é um dos temas prioritários da equipe de
transição.
Para que a
proposta de aumento do salário mínimo para R$ 1.320 seja implementada, porém,
Wellington Dias afirmou ao g1 que é necessária a aprovação da proposta de
emenda à Constituição conhecida como PEC da Transição.
Cada R$ 1 de
aumento adicional no salário mínimo representa despesa adicional de R$ 370 milhões
por ano – segundo cálculos do Ministério da Economia. Assim, se confirmados os
R$ 18 a mais de aumento (na comparação entre as propostas de Bolsonaro e da
equipe Lula) equivalem a R$ 6,66 bilhões em novas despesas em 2023.
Entre outros
pontos, a proposta permite ao governo estourar o teto de gastos em R$ 198
bilhões no ano que vem para, por exemplo, pagar os R$ 600 mensais do Auxílio
Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família).
O colunista
do g1 Valdo Cruz informou que, para analistas do mercado financeiro, o teto não
pode ser estourado em mais de R$ 140 bilhões no ano que vem. Caso contrário, a
PEC pode elevar a dívida pública e gerar incertezas sobre as contas públicas e
sobre a economia.
Além disso,
outra ala de analistas avalia que a PEC precisa ser mais “enxuta”
porque o estouro do teto não pode ultrapassar R$ 96 bilhões (leia detalhes mais
abaixo).
Paralelamente
às negociações da PEC da Transição, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE)
apresentou uma proposta que prevê elevar o teto de gastos em R$ 80 bilhões em
2023 e, assim, permitir a manutenção do pagamento de R$ 600 do Auxílio Brasil
no ano que vem e abrir e espaço para recompor o Orçamento.
Economistas
temem desequilíbrio fiscal
O mercado
financeiro teme alta da dívida pública e pede que o aumento de gastos por meio
da PEC da transição sejam compensados.
Analistas
argumentam que, em 76,8% do PIB em outubro, ou R$ 7,3 trilhões, o patamar já
está elevado na comparação com os países emergentes – cuja média é de cerca de
65% para o endividamento.
Neste mês, o
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro
para comandar a instituição até 2024, alertou que é preciso ter um olhar para
os gastos sociais, mas também avaliou que o equilíbrio fiscal não pode ser negligenciado.
Campos Neto
argumenta que mais gastos geram maior inflação, o que obriga o BC a ter uma
política de juros diferente (subindo mais a taxa Selic, ou mantendo-a elevada
por mais tempo), com impacto no crescimento, nos investimentos e no emprego.
“A
gente volta para um mundo de incerteza, onde a expectativa de inflação sobe,
você desorganiza o setor produtivo, em termos de investimentos e, no final,
quem sofre mais com isso é justamente a população que você quer ajudar, porque
você machuca a geração de empregos”, declarou Campos Neto, na ocasião.
Recentemente,
Campos Neto afirmou que, no caso de a situação das contas públicas piorar, o BC
pode reagir. Isso significa que a instituição pode elevar os juros da economia,
instrumento que o Banco Central tem para controlar efeitos adversos de uma
expansão fiscal, como o aumento da inflação.
E
acrescentou que, por conta da expansão de gastos indicada por meio da PEC da
transição, economistas do mercado financeiro já acreditam que o Banco Central
terá de subir o juro básico da economia, atualmente em 13,75% ao ano (maior
nível em seis anos), nos próximos seis meses.