Equipe econômica detalha pacote de medidas para destravar crédito e impulsionar investimentos
Equipe econômica detalha pacote de medidas para destravar crédito e impulsionar investimentos
Entre as medidas, está a que mudará o valor da quantia mínima da renda mensal que uma pessoa precisa para pagar suas despesas básicas. Também há medidas para proporcionar custos mais baixos no mercado de seguros.
Por Alexandro Martello, Jéssica Sant'Ana e Bianca Lima, g1 e TV Globo — Brasília 20/04/2023 09h14 - Atualizado há 26 segundos
O Ministério
da Fazenda detalhou nesta quinta-feira (19) o pacote para estimular
investimentos e tentar destravar o acesso ao crédito, que vem desacelerando há
anos por conta da alta dos juros básicos da economia.
“É uma
bateria de medidas de fomentar crédito e investimento, dando mais segurança
jurídica e financeira. Para criar condições para um país com mais investimento,
geração de emprego e renda”, disse o secretário do Tesouro Nacional,
Rogério Ceron.
As medidas
já haviam sido antecipadas pelo g1 e pela TV Globo. No pacote, estão:
– três
medidas relacionadas a projetos de lei já em tramitação no Congresso Nacional,
que passam a receber agora o apoio formal do governo;
– seis
medidas que serão viabilizadas com novos projetos de lei a serem enviados pelo
governo ao Congresso;
– quatro
medidas que dependem de alterações de decretos ou portarias, ou seja, não vão
precisar do aval dos parlamentares.
– O
secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Pinto,
observou que as medidas buscam focar no aumento de crédito não necessariamente
por meio das instituições financeiras, mas também pelo mercado de capitais e,
também, de seguros.
“O
setor bancário é a maior parte [do crédito], mas não a única parte no Brasil. O
mercado de crédito tem outros dois pilares muito importantes, o mercado de
capitais e o setor de seguros. Nos Estados Unidos, o volume de dívidas privadas
fora do setor bancário é quase cinco vezes maior que o setor bancário. No
Brasil, a gente vem notando tendência semelhante”, declarou.
Investimentos
O governo
anunciou um novo marco legal para alavancar as Parcerias Público-Privadas
(PPPs) nos estados e municípios, permitindo que as operações de crédito que vão
viabilizá-las sejam feitas tendo a garantia da União. Ou seja, a União vai
cobrir eventuais calotes de governadores e prefeitos. Esse modelo já existe,
mas ainda não é aplicado no caso das PPPs.
Pela
proposta de arcabouço, encaminhada ao Congresso Nacional, o investimento
federal passará a ter um piso a cada ano. Esse piso será o valor aprovado no
orçamento do ano anterior, corrigido, ao menos, pela inflação. Em 2024, por
exemplo, o piso será de R$ 71,1 bilhões — valor do orçamento para investimento
em 2023.
Nesta
quarta-feira (19), o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou
que, com o novo marco das PPPs, os investimentos públicos podem ultrapassar a
marca dos R$ 100 bilhões, beneficiando infraestrutura nas áreas de mobilidade e
rodovias, educacional, saúde, equipamentos culturais.
A equipe
econômica anunciou a alteração de um decreto de 2016 para ampliar as
possibilidades de emissão de debêntures incentivadas, que são títulos emitidos
por empresas e negociados no mercado de capitais que contam com uma tributação
reduzida de Imposto de Renda.
Com a
alteração, novos setores ficarão aptos a serem financiados por meio dessas
debêntures. São eles: educação, saúde, segurança pública e sistema prisional,
parques urbanos e unidades de conservação, equipamentos culturais e esportivos,
habitação social e requalificação urbana.
Medidas
de crédito
Entre as
medidas, está a mudança do valor do mínimo existencial, ou seja, da quantia
mínima da renda mensal que uma pessoa precisa para pagar suas despesas básicas.
Esse valor não pode ser comprometido com dívidas. Atualmente, o valor é de R$
303. O governo vai editar decreto para estabelecer que o mínimo existencial
suba para R$ 600. “Espera-se, com a adoção da medida, ampliar a proteção
aos superendividados no processo de concessão de crédito, sem ao mesmo tempo
afastar sobremaneira os consumidores de boa-fé do mercado formal de
crédito”, informou a área econômica.
– Projeto de
Lei (PL) em tramitação no Senado pretende aprimorar e uniformizar o processo de
utilização e de execução de garantias constituídas sobre bens móveis e imóveis.
Atualmente não é possível usar um mesmo bem em garantia em mais uma operação de
crédito. Com a medida, se o bem for avaliado em R$ 200 mil e minha dívida é de
R$ 50 mil, conseguirei usar os R$ 150 mil restantes para dar em garantia de
outros empréstimos no mesmo banco.
– Proposta
de Projeto de Lei que possibilita a utilização, como garantia de operações de
crédito junto a instituições financeiras, dos recursos de planos de previdência
complementar aberta, de seguros de pessoas, de Fundo de Aposentadoria
Programada Individual – FAPI e de títulos de capitalização. Com a proposta, as
pessoas poderão utilizar esses recursos para servir de garantia, contraindo
crédito com juros bem mais baratos.
– Projeto de
Lei para simplificar o procedimento de emissão de debêntures e reduzir
exigências burocráticas na concessão de crédito. Pretende-se reduzir a alçada
decisória para aprovação de emissão de debêntures e seu custo de emissão. A
ideia é que uma pessoa física que tenha renda igual ou inferior à máxima
permitida para enquadramento em empresas de pequeno porte ficará dispensada de
apresentar diversas certidões para obter crédito, pois será utilizada a
consulta ao Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público
Federal (CADIN), com validade de 180 dias.
– Portaria
da Receita Federal para simplificar a forma com que pessoas físicas e jurídicas
compartilham dados fiscais com instituições financeiras, tornando-a mais
eficiente. Empresários e pessoas físicas poderão autorizar o compartilhamento
de seus dados financeiros com credores de forma simplificada. A medida, segundo
o governo, facilitará o processo de obtenção de créditos, principalmente para
pequenos e médios empreendedores, permitindo que o comerciante possa ter acesso
ao crédito por um custo menor.
– Projeto de
Lei Complementar para estabelecer a base legal para a criação do Real Digital,
tema que vem sendo conduzido pelo Banco Central, além de simplificar o processo
de autorização e funcionamento de instituições financeiras e demais autorizadas
pelo Banco Central do Brasil. O objetivo é facilitar a abertura de novas
instituições financeiras, de menor tamanho, “permitindo às pessoas acessar
serviços financeiros mais competitivos”.
– Projeto de
lei para aprimorar mecanismos de proteção a investidores minoritários no
mercado de capitais contra danos causados por atos ilícitos de acionistas
controladores e administradores. As propostas são: aumentar a publicidade em
processos arbitrais; eliminar a exoneração automática de administradores na
aprovação de contas; e reequilibrar incentivos econômicos e riscos para as
partes em processos judiciais ou arbitrais.
– Projeto de
Lei para aprimorar a legislação que trata das infraestruturas do mercado
financeiro (IMF). Com a medida, o Banco Central e a Comissão de Valores
Mobiliários serão responsáveis pela regulamentação da organização e governança
das IMF, bem como do gerenciamento de riscos gerais do negócio e processamento
de operações para liquidação.
– Projeto de
Lei Complementar em tramitação na Câmara para simplificar e aprimorar os
– Projeto de
Lei Complementar em tramitação na Câmara para alterar os regimes de intervenção
em instituições financeiras. A medida prevê a criação de dois novos mecanismos,
o Regime de Estabilização (sem ter de liquidar os bancos) e o Regime de
Liquidação Compulsória, em substituição aos instrumentos atuais (intervenção
liquidação e Regime de Administração Especial Temporária – Raet).
– Projeto de
lei complementar que visa possibilitar que cooperativas de seguros possam
ampliar o leque de ramos de atuação em seguros além dos já permitidos: seguro
rural, saúde e acidentes de trabalho. O governo espera que ocorra crescimento
principalmente no seguro de danos massificados, como o seguro de caminhões,
além de proporcionar custos mais baixos para seguro de automóvel para
determinadas categorias.
– Projeto de Lei da Câmara em tramitação no
Senado para tratar sobre normas de seguro privado. Os impactos com a
implementação da medida são a maior proteção do consumidor de seguros e o
desenvolvimento do mercado de seguros, diz a área econômica.