Extrema pobreza bate recorde no Brasil em dois anos de pandemia, diz IBGE
Extrema pobreza bate recorde no Brasil em dois anos de pandemia, diz IBGE
Entre 2020 e 2021, número de pessoas vivendo em situação de miséria teve salto de quase 50% no país; No mesmo período, três entre cada dez brasileiros passaram a viver abaixo da linha da pobreza.
Por Daniel Silveira, g1 — Rio de Janeiro 02/12/2022 10h00 Atualizado há 16 minutos
A pandemia da covid-19 fez disparar a
pobreza no Brasil. Dados divulgados nesta sexta-feira (2) pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2021, o número de
brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza aumentou 22,7% na comparação com
2020. Já o número de pessoas em situação de extrema pobreza saltou 48,2% no
mesmo período.
Os dois aumentos foram recordes,
segundo o IBGE. Desde 2012, o país nunca havia registrado um avanço tão grande
da pobreza e, sobretudo, da extrema pobreza. Em números absolutos, 11,6 milhões
de brasileiros passaram a viver abaixo da linha da pobreza. Outros 5,8 milhões
passaram a viver em condições de extrema pobreza.
Com esse crescimento, o Brasil passou
a ter 62,5 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, dos quais 17,9
milhões eram extremamente pobres. Isso equivale a dizer que 29,4% da população
do Brasil estava pobre e 8,4%, extremamente pobre.
Ou seja, entre cada 10 brasileiros, aproximadamente três viviam abaixo da linha da pobreza e um em condição de extrema pobreza.
A pesquisa mostrou também que, em
2021:
Quase metade (46,2%) das crianças
menores de 14 anos de idade viviam abaixo da linha de pobreza – recorde da
série histórica iniciada em 2012;
O percentual de jovens de 15 a 29 anos
pobres (33,2%) é o triplo dos idosos (10,4%);
Cerca de 62,8% das pessoas que vivem
em domicílios chefiados por mulheres sem cônjuge e com filhos menores de 14
anos estavam abaixo da linha de pobreza;
A proporção de pretos e pardos abaixo
da linha de pobreza (37,7%) é praticamente o dobro da proporção de brancos
(18,6%).
O rendimento domiciliar per capita
caiu para R$1.353, o menor nível desde 2012.
Índice de Gini, que mede a
desigualdade, voltou a crescer e chegou a 0,544, segundo maior patamar da
série. O índice varia de 0 a 1 e, quanto mais perto de 1, maior a desigualdade.
Critérios
Pelos critérios do Banco Mundial, são
consideradas extremamente pobres as famílias que dispõem de menos de US$ 1,90
por dia para viver, valor que correspondia, em 2021, a uma renda per capita
mensal de R$ 168.
Já as famílias classificadas como
pobres são aquelas que têm menos de US$ 5,50 por dia para garantir a
sobrevivência de todos que vivem no mesmo domicílio, o que equivalia a uma
renda mensal per capita de R$ 486.
Nordeste lidera a
extrema pobreza
De acordo com o levantamento do IBGE,
foi nas regiões Norte e Nordeste que a pobreza teve o maior avanço. A situação
mais grave, no entanto, é a do Nordeste, que concentra mais da metade das
pessoas extremamente pobres do país.
Quase metade dos pobres do país também
vivia no Nordeste em 2021.
“Com exceção de Rondônia e
Tocantins, a incidência da pobreza nas regiões Norte e Nordeste atingiu mais de
40% de suas populações em 2021”, destacou o IBGE.
Rendimento
domiciliar cai ao menor nível histórico
O IBGE destacou que, em 2021, o
rendimento médio domiciliar per capita foi estimado em R$1.353, o menor nível
da série histórica, iniciada em 2012.
“A recuperação do mercado de trabalho
em 2021 não foi suficiente para reverter as perdas de 2020. Isso e a redução
dos valores do Auxílio-Emergencial, podem ajudar a explicar esse resultado”,
avaliou André Simões, analista da pesquisa.
O pesquisador enfatizou, ainda, que a
renda do trabalho tinha menor participação no rendimento dos mais pobres, sendo
mais relevante para estes a renda transferida pelos programas assistenciais do
governo.
No total da população, o rendimento do
trabalho representava 75,3% do total de rendimentos, enquanto os Benefícios de
programas sociais representavam 2,6%.
No entanto, entre os que recebiam até
¼ de salário-mínimo per capita, o rendimento do trabalho representava 53,8%,
enquanto a parcela proveniente de programas sociais chegava a 34,7%.
“São domicílios mais vulneráveis e com acesso limitado ao mercado de trabalho. Por isso, os programas sociais acabam tendo maior impacto”, avaliou Simões.