Goleiro do Sevilla brilha nos pênaltis e Marrocos elimina Espanha
Goleiro do Sevilla brilha nos pênaltis e Marrocos elimina Espanha
Bounou pega 2 cobranças e põe Leões do Atlas nas quartas pela 1ª vez
Publicado em 06/12/2022 - 15:24 Por Lincoln Chaves - Repórter da TV Brasil e Rádio Nacional - São Paulo
Os Leões –
ou seriam zebras? – do Atlas estão nas quartas de final da Copa do Mundo pela
primeira vez. Nesta terça-feira (6), a seleção de Marrocos foi responsável pela
maior surpresa das oitavas de final do Mundial do Catar, ao eliminar a favorita
Espanha nos pênaltis, por 3 a 0, após empate sem gols no tempo normal, no
Estádio Cidade da Educação, em Doha.
O goleiro
Yassine Bounou foi o herói da classificação histórica, defendendo dois
pênaltis. Ironicamente, o camisa 1 defende um time espanhol, o Sevilla.
Curiosamente,
dois dos 26 jogadores do elenco marroquino são nativos da Espanha, mas
escolheram defender o país africano, que foi um protetorado espanhol entre 1912
e 1956. Um deles é o lateral Achraf Hakimi, nascido em Madri, justamente quem
bateu o pênalti decisivo. O outro é o goleiro reserva Munir El-Kajoui, natural
de Melilla, cidade no território de Marrocos, próximo ao Estreito de Gibraltar,
mas que pertence à nação ibérica e possui, inclusive, um muro erguido na região
de fronteira.
A
classificação garante o melhor resultado marroquino em uma Copa, superando 1986
(México), quando a equipe parou na Alemanha Ocidental, nas oitavas. De quebra,
a seleção do norte-africana igualou o desempenho mais positivo do continente em
um Mundial, repetindo Camarões (1990, na Itália), Senegal (2002, em Japão e
Coreia do Sul) e Gana (2010, na África do Sul).
Para ser o
primeiro país da África em uma semifinal de Copa, Marrocos terá que superar o
ganhador do confronto entre Suíça e Portugal, que se enfrentam ainda nesta
terça, a partir das 16h (horário de Brasília), no Estádio de Lusail. O duelo
pelas quartas será no próximo sábado (10), a partir das 12h, no Estádio Al
Thumama, em Doha.
A Espanha,
pelo terceiro Mundial seguido, fica pelo caminho antes das quartas. Em 2014
(Brasil), a La Roja (A Vermelha, na tradução do espanhol) sequer passou da
primeira fase. Há quatro anos, na Rússia, a Fúria (outro apelido da seleção
ibérica) também caiu nos pênaltis e nas oitavas de final, só que para os
anfitriões. Apesar de terem a equipe com a quarta menor média de idade da Copa
e de serem um time em formação para a edição de 2026 (Estados Unidos, México e
Canadá), os campeões de 2010 deixam o Catar frustrados, após a empolgação de
iniciarem a competição com um 7 a 0 sobre a Costa Rica.
A formação
daquela goleada, aliás, foi a base do time que Luís Enrique mandou a campo em
Doha, com uma surpreendente novidade: o meia Marcos Llorente como
lateral-direito, ao invés de Dani Carvajal e de Cesar Azpilicueta, que era
dúvida, com dores na panturrilha. Poupados na derrota por 2 a 1 para o Japão, o
zagueiro Aymeric Laporte, o lateral Jordi Alba e os atacantes Ferran Torres e
Marco Asensio retornaram à equipe. O último acabou vencendo a concorrência com
Álvaro Morata (artilheiro da Fúria no Mundial do Catar com três gols) pelo
comando do ataque.
Na seleção marroquina,
Walid Regragui repetiu a escalação das duas primeiras rodadas, quando os Leões
do Atlas empataram sem gols com a Croácia e venceram a Bélgica por 2 a 0. O
treinador fez somente uma mudança em relação ao time que superou o Canadá por 2
a 1, com a saída de Abdelhamid Sabiri e o retorno do também meia Selim Amallah.
As formações
deixaram claras as ideias das equipes. Com as peças adiantadas e compactada, a
Espanha trocava passes em profusão (foram 383 no primeiro tempo, com 362
acertos, conforme a estatística da Fifa), buscando espaços para quebrar as
linhas de marcação de Marrocos, concentradas no campo de defesa. É verdade que
a Fúria, na primeira vez que conseguiu furar o bloqueio, chegou perto do gol.
Aos 25 minutos, Asensio recebeu na área pela esquerda, às costas do zagueiro
Nayef Aguerd, mas o chute foi na rede pelo lado de fora.
Ao longo da
etapa inicial, porém, a estratégia dos Leões do Atlas, de aguardar
pacientemente o momento ideal para o desarme e sair em velocidade, funcionou
melhor, especialmente pela esquerda, com Sofiane Boufal praticamente ignorando
a presença de Llorente. Aos 41, o atacante driblou o lateral improvisado com
facilidade e cruzou na área para Aguerd, de cabeça, quase abrir o placar.
O cenário se
manteve no segundo tempo, obrigando Luís Enrique a buscar alternativas, como a
entrada de Morata para ser a referência na área, substituindo Asensio. Pouco
adiantou, entretanto. Aos 35, o camisa 7 recebeu entre linhas dos pés do também
atacante Nico Willians, pela direita. O chute, sem ângulo, quase na linha de
fundo, virou um cruzamento rasteiro, sem ninguém (que, em tese, deveria ser o
próprio Morata) para concluir.
Para
resistir à pressão espanhola e não perder intensidade, Walid Regragui refrescou
o contra-ataque marroquino, tirando Amallah, Boufal e Youssef En-Nesyri para
colocar Sabiri, Abde Ezzalzouli e Walid Cheddira. Aos 40 minutos, os dois
últimos ficaram no quase em jogada iniciada por Hakim Ziyech. O meia abriu para
Hakimi cruzar pela direita, na cabeça de Ezzalzouli, que escorou na pequena
área para Cheddira. O atacante, de costas, conseguiu girar, mas o chute saiu
prensado.
O duelo,
truncado, foi à prorrogação. O maior desgaste físico, apesar de as equipes
manterem as respectivas estratégias, provocou os dois lances mais perigosos da
partida. Aos quatro minutos do primeiro tempo extra, Cheddira recebeu do meia
Azzedine Ounahi, entre os zagueiros Rodri e Laporte, mas bateu em cima do
goleiro Unai Simon. Já no último lance da segunda etapa, o atacante Pablo
Sarabia foi lançado às costas da zaga e chutou de primeira, cruzado, na pequena
área, acertando a trave.
Quis o
destino que Sarabia, que entrou em campo no fim da prorrogação, justamente para
a disputa de pênaltis, parasse novamente no poste, na primeira cobrança
espanhola. O meia Carlos Soler e o volante Sérgio Busquets, por sua vez,
tiveram as batidas salvas por Bounou. O zagueiro Badr Banoun, mais um que
entrou nos instantes finais, desperdiçou a oportunidade que teve, defendida por
Simon, mas não fez falta: Sabiri, Ziyech e Hakimi, de cavadinha, levaram os
Leões do Atlas às quartas de final.
Edição:
Fábio Lisboa