Governo anula leilão e cancela compra de arroz importado
Governo anula leilão e cancela compra de arroz importado
Secretário pediu demissão após suspeitas de conflito de interesses.
Publicado por Andreia Verdélio - Repórter da Agência Brasil - Brasília
O governo
federal decidiu anular o leilão realizado pela Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab) no último dia 6 de maio e cancelou a compra das 263,3 mil
toneladas de arroz que seriam importadas para o país. A informação é do
presidente da Conab, Edegar Pretto, e dos ministros da Agricultura, Carlos
Fávaro, e do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, após reunião com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta terça-feira (11), no Palácio do
Planalto.
Segundo
Fávaro, a avaliação do governo é que, do conjunto das empresas vencedoras do
leilão, uma maioria tem “fragilidades”, ou seja, “não tem capacidade financeira
de operar um volume financeiro desse tamanho”. As mais de 260 mil toneladas de
arroz arrematadas correspondem a 87% das 300 mil toneladas autorizadas pelo
governo nesta primeira operação. No total, mais de R$ 7 bilhões foram liberados
para a compra de até 1 milhão de toneladas.
“A gente tem
que conhecer a capacidade [das empresas], é dinheiro público e que tem que ser
tratado com a maior responsabilidade”, disse Fávaro, explicando que nenhum
recurso chegou a ser transferido na operação.
As empresas
participam do leilão representadas por corretoras em Bolsas de Mercadorias e
Cereais e só são conhecidas após o certame. Um novo edital será publicado, com
mudanças nos mecanismos de transparência e segurança jurídica, mas ainda não há
data para o novo leilão.
Conflito
Também nesta
terça-feira, o secretário de Política Agrícola do Mapa, Neri Geller, pediu
demissão após suspeitas de conflito de interesse. Matéria do site Estadão
informa que o diretor de Abastecimento da Conab, Thiago dos Santos, responsável
pelo leilão, é uma indicação direta do secretário. Além disso, a FOCO Corretora
de Grãos, principal corretora do leilão, é do empresário Robson Almeida de
França, que foi assessor parlamentar de Geller na Câmara e é sócio de Marcello
Geller, filho do secretário, em outras empresas.
O ministro
Fávaro confirmou que aceitou a demissão do secretário. “Ele [Geller] fez uma
ponderação que, quando o filho dele estabeleceu a sociedade com esta corretora
lá de Mato Grosso, ele não era a secretário de Política Agrícola, portanto, não
tinha conflito ali. E que essa empresa não está operando, não participou do
leilão, não fez nenhuma operação, isto é fato. Também não há nenhum fato que
desabone e que gere qualquer tipo de suspeita, mas que, de fato, isso gerou um
transtorno e, por isso, ele colocou hoje de manhã o cargo à disposição”,
explicou Fávaro.
Preço do
arroz
O objetivo
da importação do arroz é garantir o abastecimento e estabilizar os preços do
produto no mercado interno, que tiveram uma alta média de 14%, chegando em
alguns lugares a 100%, após as inundações no Rio Grande do Sul em abril e maio
deste ano. O estado é responsável por cerca de 70% do arroz consumido no país.
A produção local foi atingida tanto na lavoura como em armazéns, além de ter a
distribuição afetada por questões logísticas no estado.
De acordo
com Fávaro, a diferença entre o que é produzido e o que é consumido no Brasil é
muito apertada. “Ninguém disse que não tem arroz no Brasil, mas é muito justo.
Ontem saíram dados da Serasa que preveem uma quebra de 500 mil toneladas [na
produção]. Para aquilo que é justo, já ficar faltando. E é determinação do
presidente que isso não reflita na mesa dos mais humildes é um alimento básico
da população brasileira”, disse o ministro da Agricultura.
Novo
leilão
A Conab
chegou a convocar a Bolsa de Cereais e Mercadorias de Londrina e a Bolsa de
Mercadorias do Mato Grosso para apresentarem as comprovações das empresas, após
dúvidas e repercussões com o resultado do leilão. Os documentos exigidos são
capacidade técnica dos arrematantes; capacidade financeira, com as
demonstrações financeiras dos exercícios de 2022 e 2023; regularidade legal
para enquadramento nas regras do leilão da Bolsa e dos arrematantes e
participação dos sócios da Bolsa e dos arrematantes dos lotes em outras
sociedades.
O governo
vai, agora, construir um novo edital, com a participação da Controladoria-Geral
da União (CGU) e da Advocacia-Geral da União (AGU) para que essa análise das
empresas participantes ocorra antes da operação.
“O presidente Lula participou dessa decisão de anular esse leilão e proceder um novo leilão, mas aperfeiçoado do ponto de vista de suas regras, por isso que a CGU e AGU participarão, e a Receita Federal também, da elaboração desse novo leilão, juntamente com a Conab para garantir que ele esteja em outras bases”, disse o ministro Paulo Teixeira. “Nós vamos proceder um novo leilão, não haverá recuo dessa decisão tendo em vista que é necessário que o arroz chegue na mesa do povo brasileiro a um preço justo”, acrescentou.
Segundo o
ministro do Desenvolvimento Agrário, algumas empresas que também venceram o
leilão são consistentes, entendem que a anulação é necessária e participarão do
certame quando ele acontecer novamente. “Todas as medidas serão adotadas, de
modernização desse processo, de cautelas que esse leilão deva adotar e,
rapidamente, a Conab vai anunciar um novo leilão”, destacou.
O presidente
da Conab contou que a companhia não fazia esse modelo de importação via leilão
de arroz desde 1987 e que ela foi adotada, exclusivamente, em razão da
emergência no Rio Grande do Sul.
“A partir da
revelação de quem são as empresas vencedoras começaram os questionamentos se,
verdadeiramente, elas teriam capacidade técnica e financeira para honrar os
compromissos de um volume expressivo de dinheiro público. Com todas as
informações que nós reunimos […] decidimos anular esse leilão e vamos revisitar
os mecanismos que são estabelecidos”, reafirmou Pretto.
“A gente não
pode, de forma alguma, colocar dinheiro público se tiver qualquer fragilidade
ou dúvida de um processo como esse. Nós queremos ter mecanismos que a gente
possa dizer com clareza: as empresas que participaram, que deram lance,, que
venceram, elas têm capacidade de honrar esse compromisso”, completou o
presidente da Conab.
Matéria
ampliada às 16h08
Edição:
Aline Leal