Governo prepara pacote para multiplicar crédito imobiliário no país, diz Haddad
Governo prepara pacote para multiplicar crédito imobiliário no país, diz Haddad
Ideia é permitir que bancos vendam contratos de financiamento de imóveis, considerados 'recebíveis'. Ao vender, eles abrem espaço em seus balanços para liberar mais crédito.
Por Alexandro Martello, g1 — Brasília
O ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta quarta-feira (27) que o governo
prepara um pacote de medidas para destravar o crédito imobiliário ofertado
pelos bancos no país.
As medidas,
segundo Haddad, devem ser anunciadas no começo de abril. O ministro avaliou que
esse mercado é mais desenvolvido em outras nações.
“Nós
vamos tomar medidas a semana que vem que vão destravar esse mercado
imobiliário. Nós vamos criar um mercado secundário de títulos imobiliários
muito robusto para fazer com que o crédito imobiliário rode no Brasil e possa
ser multiplicado por muitas vezes. Chega a ser dez vezes mais o crédito
imobiliário em alguns países do que é no Brasil. Então imagina você o potencial
de crescimento da economia brasileira a partir da construção civil”, disse
Haddad, em entrevista à rádio Itatiaia.
De acordo com o ministro da Fazenda, a ideia é permitir que os bancos vendam a terceiros os contratos de financiamento imobiliário que estão em sua carteira, classificados como “recebíveis”.
Ao repassar
esses contratos a outras instituições, os bancos abrem espaço em seus balanços
para liberar novos financiamentos imobiliários.
Segundo ele,
esse tipo de mecanismo é comum em todo o mundo, mas raro no Brasil.
“Então, nós vamos fazer isso e isso vai alavancar muito a construção civil
no Brasil”, declarou.
“É uma
questão técnica um pouco chata de abordar porque ela é muito específica, mas no
Brasil você não tem um mercado de crédito tão robusto quanto você tem no mundo
desenvolvido. No mundo desenvolvido, o recebível com garantia de imóvel é um
recebível que é vendido no mercado com muita naturalidade”, explicou ele.
“Vamos
supor que o banco vendeu uma casa parcelada com garantia do imóvel para quem
quer que seja. Esse ativo do banco, esse recebível do banco, tem um mercado
secundário muito robusto no mundo desenvolvido. Não fica na carteira do banco.
O banco logo revende e abre espaço no seu balanço para financiar outro
imóvel”, disse.
Venda de
imóveis novos cresce no Brasil; boa parte impulsionada pelos apartamentos
menores
Demanda do setor
O ministro
Haddad afirmou, ainda, que se reuniu recentemente com representantes do setor
imobiliário para desenvolver esse produto, e afirmou que a proposta foi
recebida com um “entusiasmo muito grande”.
“Então
eu penso que a classe média, a classe trabalhadora, vão ter novidades, boas
novidades a comemorar no futuro próximo com a edição dessa medida ainda,
possivelmente no começo de abril, a partir da semana que vem”, concluiu.
O ministro
da Fazenda não detalhou como será feita a regulamentação dessa transferência de
ativos (recebíveis) entre instituições financeiras e se será permitida
“alavancagem” desses ativos no mercado futuro (derivativos).
Nos Estados
Unidos, antes de 2008, a concessão desenfreada do crédito imobiliário – que deu
origem à uma “alavancagem” elevada no jargão financeiro, ou seja, sua
multiplicação no mercado futuro (derivativos) – culminou na crise do
“subprime”.
Como
consequência do subprime norte-americano, houve a quebra do banco Lehman
Brothers, e vários bancos de peso dos Estados Unidos tiveram fundir, ou ser
salvos pelo Tesouro daquele país.
A crise se
espalhou fortemente naquele momento não só pela economia norte-americana, mas
pelo resto do mundo (por conta dos ativos detidos por instituições financeiras
de outros países), gerando recessão e aumento da pobreza.