Governo tem que incluir Pé-de-meia e auxílio gás no Orçamento: ‘Recado está dado’, diz presidente do TCU
Governo tem que incluir Pé-de-meia e auxílio gás no Orçamento: 'Recado está dado', diz presidente do TCU
Em entrevista ao g1 e à TV Globo, ministro Vital do Rego afirma que, caso governo demore, terá que bloquear mais recursos no final do ano para encaixar programa.
Por Lais Carregosa, Alexandro Martello, Thiago Resende, g1 e TV Globo — Brasília
O governo
federal vai ter que incluir o Pé-de-meia no Orçamento de 2025, mesmo que o
Congresso não aprove projeto de lei para abrir crédito para o programa.
A afirmação
é do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Vital do Rego,
em entrevista ao g1 e à TV Globo.
“Quando
chegar no fim do ano e o congresso não tiver nenhuma iniciativa, o governo vai
colocar esses recursos no orçamento porque é uma coisa que ficou pacificada”,
disse.
A situação
do programa, que é a principal bandeira social do governo Lula, passou por uma
reviravolta no TCU.
Em janeiro,
o Tribunal havia bloqueado R$ 6 bilhões dos recursos do Pé-de-meia por não
constarem na proposta de Orçamento de 2025 –que ainda não foi aprovada pelo
Congresso.
Na prática,
o bloqueio inviabilizaria o pagamento das parcelas aos estudantes já em
fevereiro.
Em meio a
apelos do governo e do Congresso, o TCU voltou atrás, desfez o bloqueio e
determinou que o governo envie, em até 120 dias, um projeto para incluir o
programa no Orçamento.
Caso o
governo não envie em 120 dias, outra medida cautelar será editada, afirma
Vital. Contudo, o Congresso não tem prazo para aprovar o projeto.
Segundo o
presidente do TCU, o Pé-de-meia precisa ser incluído nesse ano. E, se o
Congresso atrasar a aprovação, o governo pode ter que bloquear recursos do
Orçamento para encaixar o programa.
“Eu acho que
eles têm que fazer uma força-tarefa, e me parece que o Congresso está sensível
a isso, oposição e governo, para resolver logo. Já colocar no orçamento de uma
vez”, declarou.
Auxílio
gás
O auxílio
gás é outra política pública do governo que prevê a utilização de recursos fora
do Orçamento, numa operação intermediada pela Caixa Econômica Federal. Ainda se
trata de um projeto, que precisa ser aprovado pelo Congresso –diferente do
Pé-de-meia, que já foi sancionado.
O presidente
do TCU disse ao g1 e à TV Globo que esse tema ainda não chegou ao Tribunal.
“Eu acho que
o a posição do TCU foi muito clara. […] Eles [os projetos] podem ser
meritórios, mas eles têm que ser legais sob o ponto de vista orçamentário. Eles
não podem fugir da norma. Está dado o recado, está dada a mensagem. O TCU
entendeu que esses recursos serão orçamentados”, declarou.
Hoje, há uma
fiscalização em andamento no TCU para investigar o uso de fundos privados como
fontes de financiamento de políticas públicas –como é o caso do Pé-de-meia.
A auditoria foi proposta pelo ministro Vital do Rego e, depois que assumiu a presidência do TCU, passou para a relatoria do ministro Bruno Dantas.
“Talvez seja
essa grande oportunidade que a gente possa ter para analisar o aspecto legal
esses fundos, sob ponto de vista de lei ordinária”, declarou o presidente do
TCU.
Gabriel
Barros, economista-chefe da ARX Investimentos, avaliou, em artigo publicado no
blog da Conjuntura Econômica, da FGV IBRE, que a opacidade e o tamanho do uso
de fundos garantidores para executar despesas sem passar pelo orçamento é
grande, e que a “tentativa de estimar sua magnitude aponta para algo em
torno de R$ 100 bilhões”.
Corte de
outras despesas
No orçamento
de 2025, há R$ 1 bilhão reservado para o programa pé de meia e outros R$ 600
milhões programados para o vale gás.
O custo
total do pé de meia, entretanto, pode chegar a cerca de R$ 15 bilhões neste
ano, enquanto o auxílio gás deve consumir outros R$ 3,4 bilhões.
A diferença
entre o que consta, até então, no orçamento e os valores das dotações previstas
para 2025 terão de ser incluídos em algum momento na peça orçamentária.
Por conta do
limite para despesas existente, que consta no arcabouço fiscal, aprovado em
2023, outros gastos terão de ser reduzidos em igual proporção. Esse é um dos
desafios do orçamento deste ano, segundo especialistas.
Como o
orçamento ainda não foi aprovado, com expectativa de que isso ocorra em março,
o Congresso Nacional pode fazer os ajustes necessários.
Caso o Legislativo não realize o bloqueio de outras despesas, para abrir espaço para o pé de meia e auxílio gás, a equipe econômica terá de fazê-los posteriormente.