Governo trabalha para expandir mercado livre de energia a consumidores residenciais até 2030
Governo trabalha para expandir mercado livre de energia a consumidores residenciais até 2030
Hoje, apenas grandes consumidores podem aderir à modalidade e escolher de quem comprar energia.
Por Luísa Doyle, Lais Carregosa, Ana Paula Castro, g1 e TV Globo — Brasília
O consumidor
residencial de energia pode ter acesso ao mercado livre – em que escolhe o seu
fornecedor – até 2030. A afirmação é do ministro de Minas e Energia, Alexandre
Silveira, em entrevista à TV Globo.
Segundo
Silveira, o governo trabalha para garantir o acesso das classes média e baixa
ao mercado livre de energia. Hoje, só grandes consumidores, como indústrias,
podem negociar preços e escolher fornecedores, enquanto o consumidor
residencial fica restrito à distribuidora local.
“Nós estamos
trabalhando para que a gente possa ampliar a condição da classe média e do
pobre, do menos favorecido, entrar no mercado livre. Eu quero acreditar que a
gente tem condições de fazer isso até 2030”, declarou Silveira.
De acordo
com o ministro, essa seria uma forma de baratear a conta de luz para esse
público, que hoje está no mercado regulado – ambiente em que os consumidores
compram apenas da distribuidora local.
“Ao mesmo
tempo em que nós somos o grande protagonista de energias limpas e renováveis,
temos a melhor matriz do mundo, do planeta e continuamos avançando nesse
caminho, temos uma energia para o consumidor regulado que não é nada barata”,
afirmou.
Para a
Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), o
desenho de como vai funcionar essa migração é o principal ponto de alerta. Isso
porque há muitos contratos de geração de energia pagos pelo mercado regulado, e
a depender de como a migração for feita, quem continuar comprando das
distribuidoras vai arcar com essas despesas.
“É
importante a abertura do mercado, mas tem que ser precedida de alguns ajustes
para que possa impedir que o mercado regulado continue sendo onerado pela
migração de consumidores para o mercado livre”, afirmou Marcos Madureira,
presidente da entidade.
Madureira
explica que o impacto na conta de luz do mercado regulado se dá porque fontes
de energia mais caras, como as usinas térmicas – que, apesar de mais poluentes,
garantem a produção de energia em momentos de escassez hídrica – são cobertas
pelo mercado regulado.
Além disso,
o aumento de consumidores migrando para o mercado livre leva a uma alta na
sobrecontratação das distribuidoras, ou seja, na sobra de contratos acima da
demanda. E, se a demanda do mercado regulado diminui, por exemplo, as empresas
não conseguem se adaptar rapidamente, porque já têm energia contratada, por
meio dos leilões, para atender a um consumo já determinado.
A discussão
sobre como fazer essa migração é travada no Congresso por meio do projeto de
lei 414 de 2021. O texto tramita em uma comissão especial na Câmara dos
Deputados.
Entenda o mercado livre
O mercado
livre existe no Brasil desde 1996, mas só grandes consumidores podiam comprar
energia nessa modalidade por causa das regras de migração, que exigiam padrões
altos de consumo.
Em setembro
de 2022, o governo publicou uma portaria que permitiu a migração de todos os
consumidores em alta tensão a partir de 1º de janeiro de 2024.
Ou seja,
pequenas empresas e indústrias que antes não estavam qualificadas para o
mercado livre passaram a ter acesso a ele. Segundo estimativas da Associação
Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), são, geralmente,
empreendimentos de grande e médio porte, em que a conta de luz média é superior
a R$ 10 mil mensais.
Contudo, a
baixa tensão – consumidores residenciais e rurais, por exemplo – segue sem
acesso ao mercado livre. Em 2022, o governo chegou a abrir uma consulta pública
para abrir o mercado a essa parcela dos consumidores até 2028, mas o texto
nunca foi publicado.