Grupos de defesa LGBTQ+ passam a ser considerados organizações extremistas na Rússia
Grupos de defesa LGBTQ+ passam a ser considerados organizações extremistas na Rússia
Supremo Tribunal deu aval a perseguição e criminalização de ativistas, validando a campanha repressora perpetrada por Putin contra esta comunidade.
Por Sandra Cohen
O Supremo
Tribunal da Rússia validou que o ativismo LGBTQ+ está no mesmo patamar de
organizações extremistas, como al-Qaeda ou Estado Islâmico. Numa decisão tomada
a portas fechadas, a corte especificou que quem milita no que chama de
“movimento internacional LGBT” incita a discórdia social religiosa e está
sujeito a penas longas de prisão.
A proibição
dirigida a estes grupos se insere num contexto crescente de repressão à comunidade
LGBTQ+ no país. Em março passado, o presidente Vladimir Putin sancionou uma lei
que criminaliza qualquer ato que promova “relações sexuais não tradicionais” em
filmes, programas de TV ou online e propagandas.
Nessa onda
discriminatória, cirurgias de mudança de sexo e tratamentos hormonais foram
proibidos. Pessoas trans devem se divorciar e são impedidos de adotar filhos.
A caçada
direcionada à comunidade já começou: no fim de semana, logo após a decisão do
Supremo Tribunal, houve batidas policiais em boates, bares e saunas gays de
Moscou, num indicativo de como as forças de segurança passarão a atuar,
legitimadas pela sentença judicial
Grupos de defesa da comunidade deverão partir para a clandestinidade. Símbolos de movimentos considerados extremistas pelas autoridades, como a bandeira do arco-íris, também passarão a ser vetados. Sua exibição poderá levar o autor a 15 dias de prisão ou quatro anos, se for reincidente.
Nas palavras
de Tanya Lokshina, diretora para Europa e Ásia Central da ONG Human Rights
Watch, há um duplo propósito na classificação do ativismo LGBTQ+ como
extremismo:
— usar a
comunidade como bode expiatório para mobilizar os partidários conservadores do
Kremlin antes das eleições presidenciais de março do ano que vem e
– paralisar
o trabalho dos grupos de direitos humanos que combatem a discriminação.
– Outro
agravante é que sequer existe o tal movimento internacional LGBTQ+ descrito na
sentença do Supremo Tribunal da Rússia, o que torna a medida draconiana.
“Esta
decisão expõe qualquer pessoa que defenda os direitos humanos das pessoas LGBT
a serem rotulados como extremistas, um termo que tem sérias ramificações
sociais e criminais na Rússia”, atestou o alto comissário da ONU para os
Direitos Humanos Volker Turk.
O presidente
russo declarou, por meio de uma ordem executiva, 2024 como o Ano da Família.
Seus detratores veem na discriminação de minorias uma forma de distração da
opinião pública antes das eleições presidenciais para os problemas concretos causados
pela invasão russa da Ucrânia.
Como bem
resumiu Ivan Zhdanov, ex-diretor da Fundação Anticorrupção e membro do partido
Rússia do Futuro, a classificação de LGBT como movimento extremista é o início
da campanha eleitoral de Putin — há 23 anos no poder — para concorrer a um novo
mandato.