Guerra entre Israel e Hamas: preço do petróleo dispara e mercado teme impactos sobre a inflação
Guerra entre Israel e Hamas: preço do petróleo dispara e mercado teme impactos sobre a inflação
Nesta segunda-feira, o barril de petróleo avançou mais de 4% nas primeiras horas do dia, próximo ao patamar de US$ 90.
Por Bruna Miato, g1
No primeiro
dia útil após o início da guerra entre Israel e Hamas, que teve início na
madrugada de sábado (7), quando o grupo islâmico iniciou uma série de ataques
contra o território israelense, o preço do petróleo subiu em todo o mundo, enquanto
os mercados globais operam com grande volatilidade.
Embora o
Brasil não tenha nenhuma relação direta com o conflito, a economia do país
também pode ser impactada, justamente pela disparada da commodity. Nesta
segunda-feira, o barril de petróleo avançou mais de 4% nas primeiras horas do
dia, próximo ao patamar de US$ 90.
Especialistas
ouvidos pelo g1 explicam que, no curto prazo, os impactos sobre o Brasil são
menores, limitados às oscilações do dólar e da bolsa de valores. No entanto,
caso a guerra se agrave ainda mais e persista por muito tempo, haveria impactos
mais diretos por conta das travas na produção e distribuição do combustível.
Uma alta
forte do petróleo tem como consequência direta a elevação do preço dos produtos
derivados, como gasolina e diesel. Por sua vez, combustíveis mais caros afetam
diretamente a inflação, já que são parte essencial de diversas cadeias
produtivas e de distribuição.
Como a guerra afeta o preço do
petróleo?
Apesar do
surto no mercado de petróleo nesta manhã, o internacionalista do Instituto
Global Attitude Rodrigo Reis destaca que a região composta por Israel e
Palestina não é uma grande produtora de petróleo. Assim, os impactos no preço
do combustível têm motivações indiretas.
A grande
dúvida que paira nos mercados é o ganho de escala do conflito e o possível
envolvimento de aliados, atingindo a política de outros países do Oriente
Médio. O maior risco está numa possível participação do Irã.
Por ora, não
há nenhum sinal de que o país se envolverá, mas o governo iraniano é um
importante apoiador do grupo Hamas. Assim, no caso de a comunidade
internacional impor sanções ao território palestino, “o Irã poderá exercer
sua influência junto aos demais países da Opep para cortar a produção e elevar
o preço do petróleo”, comenta o assessor de investimentos Danilo Paske, da
Criteria Investimentos.
O
especialista pontua ainda que a oferta da commodity no mundo já é menor em
quase um século, devido aos poucos investimentos feitos no setor e as ameaças
de recessão global, que costumam diminuir a demanda pelo produto.
Alexandre
Espirito Santo, economista-chefe da Órama, afirma, também, que além de ser uma
região que produz boa parte do petróleo mundial, o Oriente Médio também é um
importante ponto de passagem da commodity até chegar aos seus destinos.
“Se o
conflito perdurar e transbordar, afetando outros países da região, pode fazer
(o petróleo) subir acima de US$ 100, pois estamos falando de uma região que
tradicionalmente tem perfil bélico”, diz o economista.
Combustíveis mais caros e inflação
Sempre que o
preço do petróleo sobe de forma significativa, a tendência é que os preços dos
combustíveis e derivados no Brasil também sofram um aumento.
Segundo João
Daronco, analista da Suno Research, três pontos entram na conta para saber o
real impacto sobre os preços:
– a extensão
do conflito;
– a duração
do conflito;
– como a
direção da Petrobras vai se comportar frente às oscilações de preços.
1️⃣ Daronco e os demais especialistas
ouvidos pela reportagem ressaltam que os impactos sobre o preço do petróleo vão
depender de se e quais países se envolveriam com o conflito.
Consequentemente,
o mesmo vale para os preços dos combustíveis no Brasil: com um maior
envolvimento de importantes produtores, como o Irã, a expectativa é que os
preços subam com mais força, gerando mais pressão para um aumento dos
combustíveis internamente.
2️⃣ Também entra na conta a questão da
duração da guerra. Quanto mais tempo, maiores podem ser os impactos sobre a
produção e oferta de petróleo, e maiores também as possibilidades de os
combustíveis ficarem mais caros no Brasil.
3️⃣ Por fim, o último elemento da
equação é a própria Petrobras. No primeiro semestre deste ano, a petroleira
anunciou o fim da sua política de paridade internacional, que fazia com que os
combustíveis acompanhassem o preço do petróleo nos mercados globais.
Agora, com a
nova política, os preços internos são determinados, também, com base em fatores
domésticos. Assim, a perspectiva é que haja uma intensificação da pressão do
governo para que a Petrobras segure aumentos nos preços dos combustíveis, mesmo
com a alta no petróleo.
A Petrobras
já atua no fio da navalha em comparação com os preços internacionais. Os
relatórios de paridade divulgados pela Associação Brasileira dos Importadores
de Combustíveis (Abicom) mostram que a gasolina está parelha com o exterior,
mas o diesel chega a ser vendido com preço 10% abaixo do que é praticado fora
do país.
Os
especialistas pontuam que chega um momento em que fica inviável para a própria
companhia continuar segurando os repasses e, se o conflito se estender por mais
regiões e tempo, reajustes na gasolina e diesel serão inevitáveis.
Neste
contexto, a inflação também sente os efeitos. A gasolina, por exemplo, é o
subitem com maior peso e maior alta na inflação oficial do país em 2023. Os
números do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto
mostram que a alta no combustível foi de 13,02% em 2023.
A gasolina
contribui sozinha com participação total de 0,60 p.p. no índice geral, que teve
alta de 3,23% no ano. Os novos números do IPCA saem nesta semana. Não será
possível captar qualquer efeito da guerra, mas é importante monitorar como já
estão os itens que podem ser impactados nos próximos meses.
Além disso,
o petróleo é matéria-prima para o diesel (que impacta os fretes) e fonte de
energia para diversas indústrias. Uma elevação dos preços torna mais caro o
processo produtivo como um todo, o que deve ser repassado ao longo da cadeia
até chegar ao consumidor final.