Hacker da Vaza Jato volta a prestar depoimento à Polícia Federal
Hacker da Vaza Jato volta a prestar depoimento à Polícia Federal
Delgatti foi transferido de Araraquara, onde estava preso, a Brasília.
Publicado em 16/08/2023 - 15:00 Por Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil - Brasília
Suspeito de
invadir os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserir falsos
documentos e alvarás de soltura no Banco Nacional de Mandados de Prisão em
janeiro deste ano, o hacker Walter Delgatti presta depoimento à Polícia Federal
(PF) na tarde desta quarta-feira (16).
Delgatti,
que estava preso em Araraquara (SP) desde o último dia 2, foi transferido a
Brasília (DF) e conduzido à sede da PF, na região central da capital federal,
onde será ouvido sobre suposta participação no ataque ao Poder Judiciário.
Ao chegar à
PF para acompanhar seu cliente, o advogado Ariovaldo Moreira disse à Agência
Brasil que já solicitou que Delgatti retorne a Araraquara após ser ouvido. O
pedido se deve à possibilidade de o hacker ser mantido na capital federal, à
disposição da Justiça. Além disso, Delgatti foi convocado a prestar depoimento
à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, nesta
quinta-feira (17). Moreira não respondeu se seu cliente responderá às perguntas
ou se permanecerá em silêncio durante o depoimento.
O hacker foi
preso em caráter preventivo, no âmbito da Operação 3FA, que apura a suposta
invasão aos sistemas do (CNJ). Entre os alvos da ação policial autorizada pelo
ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), também estava
a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Invasão
Em um
primeiro depoimento, Delgatti admitiu ter invadido o sistema do CNJ e de
tribunais regionais de Justiça e inserido no banco nacional um falso mandado de
prisão contra o ministro Alexandre de Moraes e ao menos 11 alvarás de soltura
de presos.
Delgatti
afirma ter agido a pedido da deputada Carla Zambelli, com o intuito de
desacreditar o Poder Judiciário. A deputada, por sua vez, nega ter pedido ou
pago o hacker para que fizesse isso.
No mesmo dia
em que policiais federais estiveram na casa e no gabinete da parlamentar,
cumprindo mandados judiciais de busca e apreensão de documentos que pudessem
contribuir para as investigações, Zambelli convocou a imprensa para esclarecer
sua relação com Delgatti. A deputada admitiu ter pago R$ 3 mil para que o hacker
fizesse melhorias no site e redes sociais dela.
Aos
jornalistas, Zambelli contou que conheceu o hacker saindo de um hotel, e
confirmou que apresentou Delgatti ao presidente do Partido Liberal, Valdemar
Costa Neto, e ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro. Segundo Zambelli, o
hacker queria oferecer os serviços dele ao PL, participando de uma eventual
auditoria nas urnas eleitorais eletrônicas. Porém, Zambelli disse que o negócio
não foi fechado.
Sobre o
encontro com Bolsonaro, Zambelli disse que o ex-presidente apenas queria saber
a opinião sobre a segurança da urna eletrônica devido ao conhecimento de
Delgatti sobre tecnologia da informação. “Por certo, o presidente deve ter
ficado com receio de contratar alguém assim”, especulou a parlamentar, que acrescentou
que não houve mais contato entre Bolsonaro e Delgatti após essa reunião.
STF
O inquérito
policial que apura os supostos crimes de invasão do sistema do CNJ tramita no
STF devido à inclusão da deputada federal Carla Zambelli, que, como parlamentar,
tem foro privilegiado. Delgatti responde a outro processo, no âmbito da
Operação Spoofing, que investiga a invasão dos celulares do ex-ministro da
Justiça e Segurança Pública e hoje senador, Sergio Moro (União Brasil – PR), e
de outras autoridades.
Esta é
terceira vez que o hacker é preso preventivamente desde julho de 2019. A
segunda detenção foi decretada em junho deste ano, por descumprimento de
medidas judiciais, e só em julho a Justiça voltou a autorizar a soltura de
Delgatti, mediante o uso de tornozeleira eletrônica.
A divulgação das informações extraídas ilegalmente dos aparelhos telefônicos, como a troca de mensagens entre Moro e o ex-procurador da República e o então coordenador da força-tarefa Lava Jato, atual deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), deu origem à chamada Operação Vaza Jato, expondo os bastidores da Operação Lava Jato e reforçando os argumentos dos críticos que acusavam o Poder Judiciário de vazar informações sigilosas de forma seletiva, com objetivos políticos; violar o devido processo legal e o princípio da imparcialidade e abusar das prisões preventivas a fim de forçar os investigados a fazerem acordos de delação premiada.
Edição:
Aline Leal