Inflação na Argentina fecha 2023 em 211,4%, maior nível em 33 anos
Inflação na Argentina fecha 2023 em 211,4%, maior nível em 33 anos
Alta em dezembro foi de 25,5%, divulgou o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) do país nesta quinta-feira (11).
Por André Catto, g1
A inflação
na Argentina foi de 211,4% em 2023, anunciou nesta quinta-feira (11) o
Instituto de Estatística e Censos do país (Indec). Essa é a maior taxa anual
desde a hiperinflação em 1990 — quando os argentinos enfrentaram uma alta
superior a 1.300%.
Os
resultados de dezembro mostram que os preços ao consumidor saltaram 25,5% no
mês, contra 12,8% em novembro. A disparada é consequência de uma série de
medidas do governo de Javier Milei, que tomou posse no mês passado.
Vale
lembrar, entretanto, que antes mesmo de Milei ser eleito presidente o país já
vinha enfrentando uma inflação altíssima. Em novembro, por exemplo, o índice acumulado
no ano chegou a 148,2%.
O cenário
enfrentado pelos argentinos é resultado de uma crise financeira e cambial — que
teve início, entre outros pontos, no desequilíbrio da balança de pagamentos.
Uma das
medidas de Milei que ajudou a potencializar a alta dos preços em dezembro é o
“Plano Motosserra”. O projeto prevê, entre outros pontos, a
desvalorização do peso, redução de subsídios e mudanças em licitações. (veja
mais abaixo)
Também entra
na conta o “decretaço”, que revoga ou modifica mais de 350 normas,
viabiliza a desregulamentação econômica do país e inclui uma reforma
trabalhista — ponto que foi suspenso pela Justiça.
Plano Motosserra
Em 12 de
dezembro, o novo ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo anunciou um
pacote fiscal com nove medidas para tentar conter a crise econômica que afeta o
país. (veja detalhes abaixo)
O ajuste foi
chamado na imprensa de “Plano Motosserra”, em referência à motosserra
que Milei exibiu na campanha para presidente e que simbolizava o que o, à época
candidato, queria fazer com os gastos públicos — cortá-los brutalmente.
As medidas
têm o objetivo de recompor as contas públicas argentinas.
Nesse
sentido, economistas afirmaram ao g1 que o ajuste fiscal de Milei deve
realmente seguir o caminho de piorar os índices de inflação e atividade, mas
fazem parte de um caminho para reduzir o déficit do país e acumular reservas
internacionais.
Como estão
previstos fim de subsídios públicos, uma desvalorização da cotação do peso em
relação ao dólar e descongelamento de preços de itens básicos, a tendência é
justamente uma alta na inflação.
Resumo do Plano Motoserra
Desvalorização
do peso: US$ 1 passa a valer 800 pesos; até a medida, cada dólar valia 365
pesos. Isso inclui um aumento provisório do imposto de importações (chamado de
“Pais”, que incide sobre a compra de dólares) e dos impostos retidos
na fonte sobre as exportações não agropecuárias.
Licitações:
suspender novos editais de obras públicas e cancelar licitações que ainda não
começaram.
Reduzir
subsídio à energia e aos transportes: na prática, as contas de luz e gás
aumentam, assim como as tarifas de trens e ônibus em toda a região
metropolitana de Buenos Aires.
Reduzir ao
mínimo transferências às províncias: o ministro da Economia justificou que
“é um recurso que lamentavelmente na nossa história recente foi usado como
moeda de troca para mediar favores políticos”.
Suspensão de
publicidade do governo por um ano: segundo Luis Caputo, “não há dinheiro
para despesas que não sejam estritamente necessárias”.
Cargos
públicos: não renovar contratos de trabalho com menos de um ano.
Corte na
estrutura do governo: reduzir 106 para 54 o número de secretarias, e os
ministérios de 18 para nove.
Social:
priorizar projetos sociais que não exigem intermediários e fortalecer programas
como o que paga um auxílio a mães com filhos.
Substituir o
sistema de importações: mudança para um modelo que não exige informações de
licença prévia.
‘Decretaço’
O novo
presidente da Argentina, Javier Milei, também anunciou em 20 de dezembro o
Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), medida para reformar ou revogar mais
de 350 normas.
Entre outros
pontos, o decreto desregulamentou o serviço de internet via satélite e a
medicina privada, flexibilizou o mercado de trabalho e revogou uma série de
leis nacionais.
As mudanças
incluem ainda a conversão de diversas empresas estatais em sociedades anônimas,
facilitando o processo de privatização dessas instituições.
Para
economistas ouvidos pelo g1 e pela GloboNews, a medida traz mudanças profundas
no mercado de trabalho argentino e nos preços — o que também ajuda a
impulsionar a inflação em um primeiro momento. A avaliação, no entanto, é de um
horizonte positivo, com maior segurança institucional e econômica no médio e no
longo prazo.
A medida foi
alvo de questionamentos. Na última quinta-feira (4), a Justiça do Trabalho da
Argentina concedeu medida cautelar para suspender a reforma trabalhista
anunciada por Milei.
Um dia
antes, o Judiciário já tinha suspendido a reforma com uma primeira medida
cautelar. As duas decisões foram tomadas pelos mesmos juízes, mas elas se
originaram de ações distintas, cada uma protocolada por uma central sindical
diferente.
A decisão
mais recente determina que é preciso dar uma ordem liminar até que haja uma
decisão definitiva do caso porque há um grande risco de conflito social e a
possibilidade de violência.
Entre as medidas anunciadas por
Milei, estão:
Revogação da
Lei do Aluguel.
Revogação da
Lei de Abastecimento.
Revogação da
Lei das Gôndolas.
Revogação da
Lei Nacional de Compras.
Revogação do
Observatório de Preços do Ministério da Economia.
Revogação da
Lei de Promoção Industrial.
Revogação da
Lei de Promoção Comercial.
Revogação da
regulamentação que impede a privatização de empresas públicas.
Revogação do
regime das empresas estatais.
Transformação
de todas as empresas do Estado em sociedades anônimas para sua subsequente
privatização.
Modernização
do regime de trabalho para facilitar o processo de geração de emprego.
Reforma do
Código Aduaneiro para facilitar o comércio internacional.
Revogação da
Lei de Terras.
Modificação
da Lei de Combate ao Fogo.
Revogação
das obrigações das usinas de açúcar quanto à produção.
Liberação do
regime jurídico aplicável ao setor vitivinícola.
Revogação do
sistema nacional de comércio mineiro e do Banco de Informação Mineiro.
Autorização
para transferência do pacote total ou parcial de ações das companhias aéreas
argentinas.
Implementação
da política de céu aberto.
Modificação
do Código Civil e Comercial para reforçar o princípio da liberdade contratual
entre as partes.
Modificação
do Código Civil e Comercial para garantir que as obrigações contratuais em
moeda estrangeira sejam pagas na moeda acordada.
Modificação
do marco regulatório de medicamentos pré-pagos e obras sociais.
Eliminação
de restrições de preços na indústria pré-paga.
Incorporação
de empresas de medicamentos pré-pagos ao regime de obras sociais.
Estabelecimento
das prescrições médicas eletrônicas.
Modificações
ao regime das empresas farmacêuticas para promover concorrência e reduzir
custos.
Modificação
da Lei das Sociedades por Ações para que os clubes de futebol possam se tornar
corporações.
Desregulamentação
dos serviços de Internet via satélite.
Desregulamentação
do setor de turismo.
Incorporação
de ferramentas digitais para procedimentos de registro automotivo.