Inteligência militar não alertou sobre tentativa de golpe, diz Lula
Inteligência militar não alertou sobre tentativa de golpe, diz Lula
Presidente deu entrevista exclusiva à canal de TV.
Publicado em 18/01/2023 - 22:45 Por Agência Brasil - Brasília
O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista ao canal de notícias
Globonews, que houve uma falha dos serviços de inteligência do governo que não
alertaram sobre os atos golpistas em Brasília no dia 8 de janeiro.
“Aqui
nós temos inteligência do Exército, nós temos inteligência do GSI [Gabinete de
Seguraça Institucional], nós temos inteligência da Marinha, nós temos
inteligência da Aeronáutica, ou seja, a verdade é que nenhuma dessas inteligências
serviu para avisar ao presidente da República que poderia ter acontecido
isso”, afirmou. A entrevista exclusiva, primeira do tipo desde que Lula
assumiu seu terceiro mandato, foi veiculada nesta quarta-feira (18).
“Se eu
soubesse, na sexta-feira (6), que viriam 8 mil pessoas aqui, eu não teria saído
de Brasília. Eu não teria. Eu saí porque estava tudo muito tranquilo, até
porque a gente estava vivendo ainda a alegria da posse”, acrescentou.
Tentativa
de golpe
O presidente
também relembrou os momentos de tensão com a invasão do Palácio do Planalto,
das sedes do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele disse
que tinha a impressão de estar havendo uma tentativa efetiva de golpe de Estado
no país. No dia, ele estava em Araraquara (SP) e assistiu aos desdobramentos
dos fatos da cidade paulista. Para o presidente, houve conivência de gente das
Forças Armadas na ação dos vândalos.
“Eu fui
ficando irritado porque não era possível a facilidade com que as pessoas
invadiram o Palácio do Presidente da República, e, na verdade, eles não
quebraram para entrar, eles entraram porque a porta estava aberta, alguém de
dentro do Palácio abriu a porta para eles, só pode ter sido, houve conivência
de alguém que estava aqui dentro”, afirmou.
União
democrática
O fracasso
do intento golpista, para Lula, ocorreu porque houve reação democrata forte.
“Eles perceberam que houve uma reação, imediatamente eu sou agradecido aos
governadores que vieram a Brasília prestar solidariedade, imediatamente a gente
se juntou e a gente percebeu que tínhamos que trabalhar juntos, Legislativo,
Executivo e Judiciário. E nós, então, nos juntamos para garantir a democracia
brasileira”.
Lula disse
que todas as pessoas que estiverem envolvidas nos atos golpistas serão
investigadas. Ele pediu punição a quem tiver participação nas ações criminosas.
“Essa gente tem que ser condenada, senão a gente não garante a existência
e a sobrevivência da democracia”, assegurou.
O presidente
também acusou a Segurança Pública de Brasília, especialmente a Polícia Militar
do Distrito Federal, pelo que chamou de “negligência” na garantia de
proteção aos prédios da República.
Comandantes
militares
Durante a
entrevista, Lula confirmou que terá um encontro na sexta-feira (20) com os
comandantes das três forças: Exército, Força Aérea e Marinha, no Palácio do
Planalto. O principal ponto de pauta é a modernização e compra de equipamentos
para os militares. O presidente também falou que vai conversar com os
comandantes para despolitizar o ambiente nas Forças Armadas.
“É
preciso que os comandantes assumam a responsabilidade de dizer: o soldado, o
coronel, o sargento, o tenente, o general, ele tem direito de voto, ele tem
direito de escolher quem ele quiser para votar. Agora, como ele é um cargo de
carreira, ele defende o Estado brasileiro, ele não é exército do Lula, não é do
Bolsonaro, não foi do Collor, não foi do Fernando Henrique Cardoso, a Suprema
Corte não é do Lula, sabe? Essas instituições que dão garantia a esse país não
precisam ter partido e não precisam ter candidato. Eles têm que defender o
estado brasileiro e defender a Constituição”, disse.
Viagens
Lula
confirmou que viajará aos Estados Unidos, a convite do presidente Joe Biden, no
dia 18 de fevereiro. Antes disso, ele irá a Argentina e ao Uruguai na próxima
semana. Em março, ele embarca para a China. Além disso, o chanceler alemão Olaf
Scholz visitará o Brasil no dia 30 de janeiro.
“Eu vou
tirar o Brasil do isolamento e vou fazer com que esse país volte a ser
respeitado no mundo e seja protagonista internacional”.
Reformas
Na área econômica, o presidente voltou a defender uma regulação que garanta seguridade social a trabalhadores de aplicativo e aqueles empreendedores não formalizados. Segundo Lula, não é uma volta ao passado, mas uma nova relação capital e trabalho.
“Para
isso, nós vamos criar uma comissão com sindicalistas, com empresários e com o
governo para ver se a gente cria uma estrutura sindical em que as pessoas se
sintam representadas e a gente possa garantir que as pessoas tenham direito. Ou
seja, porque esse trabalhador que trabalha em aplicativo, ele pensa que ele é
microempreendedor, ele não é microempreendedor, porque ele não tem nenhum
programa de seguridade social. Quem tem que garantir isso é o Estado
brasileiro”
Sobre
reforma tributária, Lula defendeu mudança na regra do Imposto de Renda para
desonerar pessoas de renda mais baixa e média do pagamento desse tributo, que
deve ser mais progressivo do que o modelo atual. “Não sei se você sabe que
60% das pessoas que pagam Imposto de Renda ganham R$ 6 mil por mês. Essas
pessoas são consideradas ricas”, disse. “Vamos tentar colocar em
prática na proposta de reforma tributária, que até R$ 5 mil a pessoa não pague
Imposto de Renda. Sabe? Não é possível que a gente não faça”.
Edição:
Fábio Massalli