IPCC: ações urgentes contra mudanças climáticas ainda podem garantir ‘futuro habitável’ na Terra
IPCC: ações urgentes contra mudanças climáticas ainda podem garantir ‘futuro habitável’ na Terra
Em novo relatório publicado nesta segunda-feira (20), painel da ONU faz um resumo final do consenso científico dos últimos anos sobre o aquecimento do planeta, mas alerta que ritmo atual das ações globais é ‘insuficiente’.
Por Roberto Peixoto, g1 20/03/2023 10h00 - Atualizado há 8 minutos
Após uma
semana de negociações, o IPCC, Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas da ONU, divulgou nesta segunda-feira (20) o relatório síntese do seu
atual ciclo de avaliações sobre o aquecimento global provocado pelo homem.
O documento
não traz novos estudos, mas sim um resumo final do conteúdo dos seis últimos
relatórios elaborados pelo painel, reconhecido mundialmente como a fonte mais
confiável de informações sobre as mudanças do clima.
Nele, os
cientistas alertam que ainda há esperança para a ação global frente à
estabilização da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, embora muito
ainda precise ser feito para evitar o colapso climático do nosso planeta.
O que é o
IPCC e por que os alertas por eles emitidos são preocupantes?
“Este
Relatório Síntese ressalta a urgência de tomar medidas mais ambiciosas e mostra
que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável habitável
para todos”, disse o presidente do IPCC, Hoesung Lee.
“A integração de ações climáticas efetivas e equitativas não apenas reduzirá perdas e danos à natureza e às pessoas, mas também proporcionará benefícios mais amplos”.
Entre suas
principais conclusões, o relatório também pontua que existem várias opções viáveis
e eficazes para nos adaptarmos às mudanças climáticas e reduzirmos globalmente
as emissões de poluentes.
Apesar
disso, o IPCC também relembra que esse desafio continua cada vez maior, já que
as demandas vistas como fundamentais para que o aquecimento do planeta não
ultrapasse o limite de 1,5°C até o fim do século vêm sendo implementadas num
ritmo considerado “insuficiente” pelos membros do painel.
Para chegar
lá, segundo os atuais cálculos do IPCC, precisamos reduzir as emissões globais
pela metade até 2030 [48%] e até 99% até 2050.
“A
humanidade está num gelo fino – e esse gelo está derretendo rapidamente”, disse
o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres.
“Nosso mundo
precisa de ação climática em todas as frentes – tudo, em todos os lugares, ao
mesmo tempo”, acrescentou.
Principais
conclusões do relatório síntese
O uso de
combustíveis fósseis está impulsionando de forma esmagadora o aquecimento
global;
A
temperatura global da superfície aumentou mais rapidamente desde 1970 do que em
qualquer outro período de 50 anos durante os últimos 2000 anos;
Para manter
o aquecimento em 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, as emissões de
gases de efeito estufa devem ser reduzidas de forma profunda, rápida e
sustentável em todos os setores;
Para chegar
lá, segundo os atuais cálculos do IPCC, precisamos reduzir as emissões globais
pela metade até 2030 [48%] e até 99% até 2050;
Os atuais
níveis de financiamento para o clima são altamente inadequados, e ainda
pesadamente ofuscados pelos fluxos financeiros para as energias fósseis;
A mudança
climática reduziu a segurança alimentar e afetou a segurança da água, e os
eventos de calor extremo estão aumentando as taxas de mortalidade e doenças;
Apesar da
crescente conscientização e criação de políticas, o planejamento e a
implementação da adaptação estão ficando aquém do necessário;
Para que o
nosso mundo seja sustentável e igualitário, precisamos tomar as medidas certas
agora;
Um futuro
resiliente e habitável ainda está disponível para nós, mas as ações tomadas
nesta década para produzir cortes de emissões profundos, rápidos e sustentados
representam uma janela rapidamente estreita para a humanidade limitar o
aquecimento a 1,5°C com mínimo ou nenhum excesso.
Correndo
contra o tempo
Na última
conferência do clima da ONU, a COP27, o documento final assinado pelos mais de
200 países-membros contemplou pela primeira vez na história uma resolução sobre
um tipo de financiamento climático a países vulneráveis à crise do clima.
Chamado de
perdas e danos, esse fundo era uma das questões-chave da cúpula do ano passado
e uma demanda antiga de países em desenvolvimento.
Apesar de
essa ser uma grande conquista apontada por especialistas, a COP 27 de Sharm
El-Sheikh também foi tida como muito insuficiente em outros aspectos.
O texto
final da Conferência das Partes da ONU, por exemplo, não trouxe avanços sobre o
uso dos poluentes combustíveis fósseis nem colocou um limiar no pico de
emissões globais de gases de efeito estufa até 2025, duas demandas vistas como
fundamentais para que o aquecimento do planeta não ultrapasse o limite de
1,5°C.
Esse é o
limiar de aumento da taxa média de temperatura global que temos que atingir até
o final do século para evitar as consequências da crise climática. A taxa é
medida em referência aos níveis pré-industriais, a partir de quando as emissões
de poluentes passar a afetar significativamente o clima global.
Para chegar
lá, segundo os atuais cálculos do IPCC, precisamos reduzir as emissões globais
pela metade até 2030 [48%] e até 99% até 2050, algo que somente é possível se
atingirmos um pico antes de 2025.
Por isso,
diversas reivindicações permanecem em aberto e devem ser discutidas até a
próxima cúpula da ONU este ano, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
E o
relatório síntese terá um papel fundamental na cúpula, já que esta será a
primeira conferência a analisar os esforços globais para reduzir as emissões
desde o acordo de Paris, e incluirá petições de países mais pobres que pedem
por mais ajuda.