Joe Biden foca em assuntos domésticos em seu 2º discurso ao Estado da União
Joe Biden foca em assuntos domésticos em seu 2º discurso ao Estado da União
Ao falar sobre Seguridade Social, presidente dos Estados Unidos chegou a ser chamado de mentiroso por deputada do Partido Republicano.
Por Giuliana Viggiano, g1 07/02/2023 23h08 - Atualizado há 7 horas
Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, realizou na terça-feira (7) seu segundo discurso ao Estado da União, em um momento em que há muito em jogo politicamente. O líder norte-americano focou em assuntos internos, dedicando apenas os minutos finais de sua fala às relações dos EUA com outros países.
Logo no início do discurso, o democrata pediu aos membros do Partido Republicano que trabalhem com ele para “terminar o trabalho” de reconstruir a economia e unir a nação.
“Muitas vezes nos dizem que democratas e republicanos não podem trabalhar juntos. Mas nos últimos dois anos, provamos que os cínicos e os pessimistas estavam errados. Sim, nós discordamos bastante. (…) Mas, repetidamente, democratas e republicanos se uniram”, afirmou Biden.
Desentendimento com Republicanos
As tensões aumentaram quando Biden sugeriu que alguns republicanos apoiaram uma proposta de colocar a existência do Medicare (seguro de saúde do governo norte-americano) e na Seguridade Social em votação a cada cinco anos.
Em resposta, os alguns integrantes do Partido Republicano gritaram e vaiaram. Alguns até se levantaram para protestar.
“Mentiroso!” gritou a deputada republicana Marjorie Taylor Greene. “Nós nunca dissemos isso!” disse Byron Donalds, outro republicano da Câmara.
A proposta vem do senador da Flórida, Rick Scott, mas não foi endossada pela maioria do Partido Republicano. Em resposta, Biden disse: “Quem duvidar, entre em contato com meu escritório”.
E ele disse ao público: “Então, todos concordamos que a Seguridade Social e o Medicare estão fora de questão”. Isso foi aplaudido de pé por membros de ambos os partidos.
Violência policial
O líder norte-americano renovou seu apelo por uma reforma da polícia, dizendo que os policiais que “violam a confiança pública” devem ser responsabilizados e os agentes da lei devem receber o treinamento necessário.
“Eu sei que a maioria dos policiais e suas famílias são pessoas boas, decentes e honradas. E eles arriscam suas vidas toda vez que colocam esse escudo”, disse Biden.
“Mas o que aconteceu com Tire em Memphis acontece com muita frequência. Temos que fazer melhor”, acrescentou o presidente, referindo-se ao homem negro de 29 anos que foi morto por policiais em janeiro.
“A segurança pública depende da confiança do público, mas com muita frequência essa confiança é violada, afirmou. “Quando policiais ou departamentos de polícia violam a confiança pública, eles devem ser responsabilizados.”
Economia
Biden elogiou a resiliência e a força da economia dos EUA, com o desemprego caindo para o nível mais baixo em quase 54 anos em janeiro de 2023.
“Taxa de desemprego em 3,4%, uma baixa de 50 anos. Taxa de desemprego quase recorde para trabalhadores negros e hispânicos. Já criamos 800.000 empregos bem remunerados na indústria, o crescimento mais rápido em 40 anos”, destacou o presidente.
Ele também mencionou a inflação, um grande problema enfrentado por sua administração, que tem caído nos últimos seis meses.
“A inflação tem sido um problema global por causa da pandemia que interrompeu as cadeias de abastecimento e da guerra de Putin que interrompeu o fornecimento de energia e alimentos. Mas estamos melhor posicionados do que qualquer país da Terra. Temos mais o que fazer, mas aqui em casa a inflação está caindo”, disse.
Crítica às grandes corporações
Biden criticou as corporações por lucrar com a pandemia e percorreu uma lista de desejos de propostas econômicas. Eles incluem um imposto mínimo para bilionários e uma quadruplicação do imposto sobre recompra de ações corporativas.
“As grandes corporações não estão apenas tirando proveito do código tributário”, disse Biden. “Eles estão se aproveitando de você, o consumidor americano.”
Infraestrutura
Foram anunciados novos padrões federais que exigem que todos os materiais de construção usados em projetos federais de infraestrutura sejam feitos nos Estados Unidos. No discurso, Biden disse que comprar produtos americanos é lei desde 1933, mas os governos anteriores encontraram maneiras de contorná-la.
“Estradas americanas, pontes americanas e rodovias americanas serão feitas com produtos americanos”, afirmou Biden.
Ação pode ter grande impacto. Como parte da lei de infraestrutura bipartidária de US$ 1,2 trilhão aprovada no ano passado, o Congresso alocou US$ 550 bilhões para estradas, pontes, infraestrutura de água, internet de banda larga e outros projetos.
Sistema de saúde
Gritos de apoio foram ouvidos quando Biden citou os esforços liderados pelo Partido Democrata para limitar o custo da insulina a US$ 35 por mês para idosos que usam o Medicare. O presidente instou o Congresso a estender esse limite de preço a milhões de pessoas com seguro privado.
“Todos os dias, milhões precisam de insulina para controlar o diabetes para que possam permanecer vivos. A insulina existe há 100 anos. Custa às empresas farmacêuticas apenas US$ 10 o frasco”, afirmou ele.
Cerca de 8,4 milhões de americanos usam insulina, de acordo com a Associação Americana de Diabetes. Cerca de 1 milhão dessas pessoas, que têm diabetes tipo 1, podem morrer sem acesso à insulina.
Rússia e
Ucrânia
Se em 2022
grande parte do discurso ao Estado da União foi destinado à guerra na Ucrânia,
neste ano as menções foram muito mais tímidas. Biden parabenizou o Congresso
por apoiar os ucranianos em sua empreitada contra a invasão da Rússia — os
Estados Unidos já destinaram quase US$ 30 bilhões à Kiev desde o início do
conflito, em fevereiro do ano passado.
“Unimos
a Otan e construímos uma coalizão global. Nós nos posicionamos contra a
agressão de Putin. Ficamos com o povo ucraniano”, afirmou ele.
“Esta
noite, estamos mais uma vez acompanhados pela Embaixadora da Ucrânia nos
Estados Unidos. Ela representa não apenas sua nação, mas a coragem de seu
povo”, disse Biden, dirigindo-se a Oksana Markarova.
China
Fazendo uma referência a um balão espião da China que pairou sobre os EUA na semana passada, Biden garantiu que protegerá o país.
“Estou
comprometido em trabalhar com a China, onde podemos promover os interesses
americanos e beneficiar o mundo”, disse Biden. “Mas não se engane:
como deixamos claro na semana passada, se a China ameaçar nossa soberania, agiremos
para proteger nosso país. E foi o que fizemos.”
Um caça dos
EUA derrubou o balão sobre o Oceano Atlântico no sábado (4). Pequim negou que o
balão fosse um dispositivo de espionagem.
Biden também
elogiou a legislação aprovada no ano passado com forte apoio de seus colegas
democratas e republicanos que impulsionou a indústria de semicondutores dos EUA
e prometeu mais investimentos.
“Não
pedirei desculpas por estarmos investindo para tornar a América forte. Investir
na inovação americana, em indústrias que definirão o futuro, que a China
pretende dominar”, disse Biden.
Outros
Outros
assuntos abordados por Biden no discurso foram:
– Apoio à
legislação Equality Act (Lei da Igualdade), destinada à população LGBTQ+;
– Restauração
do direito ao aborto, revogado no ano passado pela Suprema Corte;
– Banimento
de armas semiautómaticas;
– Reforma de
imigração, proteção das fronteiras e cidadanias para Dreamers, imigrantes com
status temporário, trabalhadores rurais e trabalhadores essenciais;
– Assistência,
treinamento e colocação profissional para ex-militares;
– Foco no tratamento
de câncer e na diminuição de mortes pela doença;
– Ações
contra o tráfico de fentanil, droga que mata 70 mil norte-americanos por ano;
– Proibição
da publicidade direcionada a crianças;
– Imposição
de limites mais rígidos à coleta de dados pessoais pelas empresas de
tecnologia;
– Foco em
ações que auxiliem todos, principalmente jovens, a lidar com problemas de saúde
mental.
O que é o
Estado da União?
É o discurso do presidente que ocorre todos os anos em uma sessão conjunta do Congresso americano. Nele, o chefe de Estado e de governo presta esclarecimentos aos parlamentares, militares e integrantes da Suprema Corte sobre a atual situação dos EUA e os planos e prioridades do ano.
O primeiro
discurso sobre o Estado da União foi pronunciado por George Washington em 8 de
janeiro de 1790.
Tradicionalmente,
o presidente norte-americano pede esforços a deputados e senadores para aprovar
projetos que o chefe de governo acredita ser importante.