Juros altos e exterior negativo pesam e podem trazer piora no desempenho do PIB em 2023
Juros altos e exterior negativo pesam e podem trazer piora no desempenho do PIB em 2023
Economistas projetam investimentos e consumo menores e citam cautela com aumento de Covid-19 na China.
Por André Catto e Isabela Bolzani, g1 02/12/2022 07h00 Atualizado há 5 horas
O Produto
Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 0,3% no 3º trimestre deste ano na
comparação com os três meses imediatamente anteriores, segundo dados
divulgadoss nesta quinta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
O resultado
confirma os sinais de desaceleração da economia brasileira, e a expectativa do
mercado é que a atividade tenha um crescimento mais tímido no ano que vem.
Segundo o último relatório “Focus”, divulgado na segunda-feira (28) pelo Banco
Central do Brasil(BC), a estimativa é que o PIB cresça apenas 0,70% em 2023.
Mas o que
justifica a queda no crescimento?
Para o economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, André Galhardo, a principal causa dessa desaceleração é a restrição ao crédito, limitado por uma Selic (taxa básica de juros) a 13,75% ao ano.
“O Brasil
tem a taxa real de juros mais alta do mundo, que deve ficar ainda mais elevada
com o processo de desinflação em curso. Isso inibe os investimentos em
produção, o consumo e impacta a economia de forma negativa”, explica.
Os
indicadores de confiança de setores produtivos também reforçam essa
preocupação, com sondagens mostrando queda no otimismo dos empresários e dos
consumidores, diz Galhardo. Ele lembra que isso ocorre mesmo em um cenário em
que o país ainda registra crescimento – reflexo, entre outros pontos, da
injeção de recursos por meio de auxílios concedidos pelo governo.
“O ciclo
virtuoso promovido pela melhora do mercado de trabalho e o consequente consumo
de serviços também deve se esvaziar, principalmente, a partir do primeiro
semestre do ano que vem”, projeta. “O comércio varejista deve ser impactado
negativamente pela taxa básica de juros, enfraquecido diretamente pela
concessão de crédito mais caro.”
Entre os
efeitos tardios das últimas elevações de juros feitas pelo Banco Central, os
economistas também destacam a provável piora da Formação Bruta de Capital Fixo
(FBCF), indicador que mede o quanto as empresas aumentaram os seus bens de
capital (como máquinas, equipamentos e materiais de construção) em um
determinado período.
Para a
economista da Neo Investimentos Laura Moraes, qualquer avanço que tenha sido
impulsionado pela reabertura da economia no país já deve ter acabado no segundo
semestre de 2023 e a política monetária local estará no momento com maior
impacto sobre atividade.
“Mesmo que o
Banco Central corte juros no próximo ano, como é esperado por alguns
economistas, não vai ser a tempo suficiente para estimular a atividade ainda em
2023, pois, como sabemos, a transmissão da política monetária para a atividade
econômica é defasada”, afirma.
As
incertezas sobre as contas públicas também influenciam?
Outro fator
que também pode influenciar na atividade econômica do próximo ano são as contas
do governo, tema que agora está no centro das atenções do mercado. Até o
momento, a principal espera é pelo texto final da Proposta de Emenda á
Constituição (PEC) da Transição. A PEC, que prevê um estouro de cerca de R$ 198
bilhões fora do teto de gastos em 2023, já aguarda pela análise da Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
“O volume de
gastos permitidos pela PEC da Transição traz um risco, em nossa visão, caso
ocorra uma piora na percepção de risco fiscal por parte dos investidores. Isso
elevaria as taxas de juros locais e depreciaria o câmbio, o que resultaria em
maior inflação, juros altos por mais tempo e, consequentemente, um menor
crescimento”, explica o economista-chefe da nova Futura Investimentos, Nicolas
Borsoi.
Por outro
lado, ele destaca que caso o texto final da PEC preveja um estouro menor do
teto de gastos, há chances de que o Banco Central consiga cortar a Selic,
abrindo espaço para uma possível melhora nas perspectivas de juros. “A
interação entre as políticas fiscal e monetária será o principal fator para a
performance da economia em 2023”, acrescenta Borsoi.
E o
cenário externo?
Não é apenas
o ambiente interno que pode influenciar a economia brasileira. Segundo os
economistas consultados pelo g1, apesar de indícios de arrefecimento da
inflação nos Estados Unidos e na Europa, a China ainda preocupa. A economia do
país segue desacelerando, em meio ao avanço da Covid-19 em território chinês.
Segundo
Galhardo, os casos da doença no país indicam que o governo pode endurecer ainda
mais as medidas de contingenciamento e distanciamento social, o que tende a
fazer com que a economia da região desacelere ainda mais.
Nesse caso,
o impacto para o Brasil viria pelo comércio internacional. A desaceleração pode
acabar diminuindo a demanda do gigante asiático, que é o maior comprador de
commodities no mundo, e afetar a balança comercial brasileira. E isso sem
contar a possível retração da oferta por parte da China, que também resultaria
em uma importação mais cara.
Além disso,
outro ponto citado pelos economistas é a continuidade da guerra na Ucrânia, que
pode ampliar os gargalos produtivos no mundo inteiro, além do aumento da taxa
de juros nos EUA, que deve promover, na economia norte-americana, o mesmo
movimento esperado no Brasil: um processo de desaquecimento mais robusto.
“Então, no
mercado doméstico, temos uma fraqueza econômica promovida pelos juros e
incertezas políticas. Fora, há um cenário muito desafiador, que inclui a China,
nosso principal parceiro comercial. Também uma situação muito delicada na
Europa e nos Estados Unidos. Tudo isso faz com que a gente acredite em um
processo de desaquecimento da economia brasileira no ano que vem”, analisa
Galhardo.