Juros médios dos bancos caem para 44,6% ao ano
Juros médios dos bancos caem para 44,6% ao ano
Cartão de crédito rotativo tem, em junho, juros de 437,3% ao ano.
Publicado em 27/07/2023 - 11:15 Por Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil - Brasília - Brasília
Pela
primeira vez no ano, a taxa média de juros das concessões de crédito livre teve
queda e passou de 45,4% para 44,6% ao ano em junho, redução de 0,8 ponto
percentual (pp) no mês. Em 12 meses, entretanto, a alta nos juros médios é de
5,6 pontos percentuais, segundo a publicação Estatísticas Monetárias e de
Crédito, divulgada nesta quinta-feira (27), em Brasília, pelo Banco Central
(BC).
Nas novas
contratações para empresas, a taxa média do crédito ficou em 23,1% ao ano,
queda de 0,7 pp no mês e com alta de 0,5 pp em 12 meses. Nas contratações com
as famílias, a taxa média de juros atingiu 59,1% ao ano, redução de 0,8 pp no
mês e alta de 7,6 pp em 12 meses.
No crédito
livre, os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado e
definir as taxas de juros cobradas dos clientes. Já o crédito direcionado – que
tem regras definidas pelo governo – é destinado basicamente aos setores
habitacional, rural, de infraestrutura e ao microcrédito.
No caso do
crédito direcionado, a taxa para pessoas físicas ficou em 12% ao ano em junho,
com variação negativa de 0,1 pp em relação ao mês anterior e alta de 1,6 pp em
12 meses. Para empresas, a taxa caiu 1,4 pp no mês e teve variação para cima de
0,1 pp em 12 meses, indo para 11,9% ao ano. Assim, a taxa média no crédito
direcionado ficou em 12% ao ano, redução de 0,4 pp no mês e alta de 1,3 pp em
12 meses.
Juros
O
comportamento dos juros bancários médios ocorre em um momento em que a expectativa
do mercado financeiro é de redução da taxa básica de juros da economia, a
Selic. Ela está em seu maior nível desde janeiro de 2017 – em 13,75% ao ano -,
definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
Em março de
2021, o BC iniciou um ciclo de aperto monetário, em meio à alta dos preços de
alimentos, de energia e de combustíveis. Na semana que vem, dias 1º e 2 de
agosto, o Copom realiza a quinta reunião do ano para definir a Selic e o
mercado espera uma redução de, pelo menos, 0,25 pp. Até o fim do ano a previsão
é que a Selic caia para 12%.
Com isso, a
taxa de captação dos bancos (o quanto é pago pelo crédito) vem recuando. Desde
abril, ela está em queda e ficou em 11,5% em junho.
A Selic é o
principal instrumento usado pelo BC para alcançar a meta de inflação. Em junho,
houve deflação no país, ou seja, um recuo nos preços na comparação com maio.
O IPCA – a
inflação oficial do país – ficou negativo em 0,08%, segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o quarto mês seguido em que a inflação
perdeu força. Em maio, o IPCA foi de 0,23%.
No ano, o
índice soma 2,87% e, nos últimos 12 meses, 3,16%, abaixo dos 3,94% observados
nos 12 meses imediatamente anteriores e seguindo a tendência de queda
apresentada desde junho de 2022, quando o índice estava em 11,89%.
Com a
inflação em baixa, a decisão de manutenção da Selic é alvo de críticas do
governo federal, já que os efeitos do aperto monetário são sentidos no encarecimento
do crédito e na desaceleração da economia.
A ata da
última reunião do Copom, em junho, informa que a “avaliação predominante”
manifestada pelos integrantes do colegiado foi de uma expectativa de maior
confiança para uma queda da taxa de juros a partir de agosto.
A elevação
da taxa básica ajuda a controlar a inflação porque causa de reflexos nos
preços, já que juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança,
contendo a demanda aquecida.
Cartão de crédito
Para pessoas
físicas, as taxas do cartão de crédito tiveram redução de 1,8 pp no mês, mas
com alta de 25,5 pp em 12 meses, alcançando 104,2% ao ano.
No crédito
rotativo – tomado pelo consumidor quando paga menos que o valor integral da
fatura do cartão e dura 30 dias – houve queda de 16,7 pontos percentuais de
maio para junho e aumento de 66,9 pp em 12 meses, indo para 437,3% ao ano. Após
os 30 dias, as instituições financeiras parcelam a dívida. Nesse caso do cartão
parcelado, os juros subiram 1,9 pp no mês e registraram alta de 22,9 pp em 12 meses,
indo para 196,1% ao ano.
Já no cheque
especial houve alta de 2,9 pp no mês e de 4,4 pp em 12 meses, chegando a 133,6%
ao ano.
A taxa do
crédito consignado teve aumento de 0,1 pp no mês e de 1,2 pp em 12 meses (25,9%
ao ano). Já no caso do crédito pessoal não consignado, os juros caíram 0,3 pp
no mês de junho e apresentaram crescimento de 3,8 pp em 12 meses (91,2% ao
ano).
Novas contratações
A manutenção
dos juros em alta – resultado do aperto monetário – e a própria desaceleração
da economia levaram também a uma desaceleração do crédito bancário, em
especial, para as famílias. No mês passado, as concessões de crédito caíram
2,1% para as pessoas físicas e tiveram incremento de 9,1% para empresas.
Em junho, o
estoque de todos os empréstimos concedidos pelos bancos do Sistema Financeiro
Nacional (SFN) ficou em R$ 5,401 trilhões, com uma variação positiva de 0,1% em
relação a maio. O resultado refletiu a alta de 1% no saldo das operações de
crédito pactuadas com pessoas jurídicas (R$ 2,112 trilhões) e a redução de 0,4%
no de pessoas físicas (R$ 3,289 trilhões).
Na
comparação interanual, o crédito total cresceu 8,9% em junho, evidenciando
desaceleração ante os 10,6% em doze meses observado em maio. Na mesma base de
comparação, o saldo com as empresas desacelerou para 3,5%, ante 4,5% em maio,
assim como o volume de crédito às famílias passou de um crescimento de 14,6% em
maio 12,8% no mês passado.
O crédito
ampliado ao setor não financeiro, que é o crédito disponível para empresas,
famílias e governos independentemente da fonte (bancário, mercado de título ou
dívida externa) alcançou R$ 15,229 trilhões, crescendo 0,8% no mês, por conta
principalmente da alta de 3,4% nos títulos públicos de dívida.
Na
comparação interanual, o crédito ampliado cresceu 7,7%, prevalecendo as
elevações na carteira de empréstimos, 9%, e nos títulos de dívida, 9,8%.
Endividamento
De acordo
com o Banco Central, a inadimplência – considerados atrasos acima de 90 dias –
tem se mantido estável há bastante tempo, com pequenas oscilações e registrou
3,6% em junho. Nas operações para pessoas físicas, ela está em 4,2% e para
pessoas jurídicas em 2,5%.
O
endividamento das famílias – relação entre o saldo das dívidas e a renda
acumulada em 12 meses – ficou em 48,8% em maio, alta de 0,2% no mês e com recuo
de 1% em 12 meses. Com a exclusão do financiamento imobiliário, que pega um
montante considerável da renda, o endividamento ficou em 31% no quinto mês do
ano.
Já o
comprometimento da renda – relação entre o valor médio para pagamento das
dívidas e a renda média apurada no período – ficou em 28,1% em maio, estável na
passagem do mês e com alta de 1,9% em 12 meses.
Esses dois últimos
indicadores são apresentados com uma defasagem maior do mês de divulgação, pois
o BC usa dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Edição:
Kleber Sampaio