Juros médios dos bancos seguem em queda para 43,5% ao ano
Juros médios dos bancos seguem em queda para 43,5% ao ano
Cartão de crédito rotativo tem nova alta e juro chega a 445,7% ao ano.
Publicado por Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil - Brasília
Pelo
terceiro mês seguido, a taxa média de juros das concessões de crédito livre
teve queda e passou de 43,8% para 43,5% ao ano em agosto, redução de 0,3 ponto
percentual (pp) no mês. Em 12 meses, entretanto, a alta nos juros médios é de
três pontos percentuais, segundo a publicação Estatísticas Monetárias e de
Crédito, divulgada nesta quarta-feira (27) pelo Banco Central (BC), em
Brasília.
Nas novas
contratações para empresas, a taxa média do crédito livre ficou em 22,6% ao
ano, redução de 0,4 pp no mês. De acordo com o BC, o recuo é resultado das
reduções disseminadas pelas principais modalidades de crédito. Em 12 meses, o
recuo é de 0,1 pp.
Nas
contratações com as famílias, a taxa média de juros livres atingiu 57,7% ao
ano, redução de 0,6 pp no mês e alta de 3,7 pp em 12 meses.
Diferentemente
do observado no crédito às empresas, a diminuição da taxa média para pessoas
físicas foi influenciada tanto pela alteração da composição da carteira (efeito
saldo) como pela efetiva redução dos juros praticados nas principais
modalidades (efeito taxa).
O destaque é
para as reduções das taxas nas modalidades de crédito consignado para
beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS – (queda de 0,8
pp), crédito pessoal para trabalhadores do setor público (queda de 0,4 pp) e
crédito pessoal não consignado vinculado à composição de dívidas (queda de 1,8
pp).
No crédito livre, os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado e definir as taxas de juros cobradas dos clientes. Já o crédito direcionado – com regras definidas pelo governo – é destinado basicamente aos setores habitacional, rural, de infraestrutura e ao microcrédito.
No caso do
crédito direcionado, a taxa para pessoas físicas ficou em 11,5% ao ano em
agosto, com redução de 0,5 pp em relação ao mês anterior e alta de 0,7 pp em 12
meses. Para empresas, a taxa subiu 0,4 pp no mês e 1,6 pp em 12 meses, indo
para 10,7% ao ano. Assim, a taxa média no crédito direcionado ficou em 11,3% ao
ano, redução de 0,3 pp no mês e alta de 0,9 pp em 12 meses.
Juros básicos
O
comportamento dos juros bancários médios ocorre em um momento que a expectativa
do mercado financeiro é de queda da taxa básica de juros da economia, a Selic,
definida em 12,75% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. A
Selic é o principal instrumento usado pelo BC para alcançar a meta de inflação.
O
comportamento dos preços fez o BC cortar os juros pela segunda vez no semestre,
em um ciclo que deve seguir com cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas
reuniões do comitê. Após sucessivas quedas no fim do primeiro semestre, a
inflação voltou a subir na segunda metade do ano, mas essa alta era esperada
por economistas.
De março de
2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num
ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos,
de energia e de combustíveis. Por um ano – de agosto do ano passado a agosto
deste ano – a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.
Antes do
início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível
mais baixo da série histórica iniciada em 1986. Por causa da contração
econômica gerada pela pandemia de covid-19, o Banco Central tinha derrubado a
taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da
história de agosto de 2020 a março de 2021.
Até o fim do
ano, a previsão dos analistas é que a Selic caia para 11,75%. Com isso, a taxa
de captação de recursos livres dos bancos (o quanto é pago pelo crédito) vem
recuando. Desde abril, ela está em queda e ficou em 11,2% em agosto.
Considerando
o conjunto dos recursos livres e direcionados a pessoas físicas, o pico dos
juros aconteceu em maio: 38,2% ao ano. Para empresa, o pico foi em janeiro:
juros a 22%. Desde então, há redução nas taxas mês a mês, com flutuações e
desaceleração no crescimento em 12 meses.
A elevação
da taxa básica ajuda a controlar a inflação porque causa de reflexos nos
preços, já que juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança,
contendo a demanda aquecida. Quando o Copom diminui a Selic, a tendência é que
o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o
controle sobre a inflação e estimulando a atividade econômica.
Cartão de crédito
Para pessoas físicas, as taxas do cartão de crédito tiveram redução média de 0,4 pp no mês, mas com alta de 13,8 pp em 12 meses, alcançando 101,5% ao ano.
O crédito
rotativo continua em alta e subiu 4,4 pontos percentuais em agosto e de 46,1 pp
em 12 meses, indo para 445,7% ao ano. O rotativo é o crédito tomado pelo
consumidor quando paga menos que o valor integral da fatura do cartão e dura 30
dias.
A modalidade
é uma das mais altas do mercado e o Banco Central já estuda o fim do crédito
rotativo do cartão de crédito.
A Câmara dos
Deputados também aprovou um projeto limita os juros do crédito rotativo. O
texto prevê que – depois de aprovada e publicada a lei – as empresas emissoras
de cartão terão 90 dias para encaminhar ao Conselho Monetário Nacional uma
proposta de regulamentação com definição desse teto.
Caso
contrário, ficou decidido que os juros não poderão ser maiores que o valor
original da dívida. Ou seja, juros de 100% e não de mais de 400% ao ano como é
cobrado hoje. O texto está, agora, em tramitação no Senado Federal.
Após os 30
dias, as instituições financeiras parcelam a dívida. Nesse caso do cartão
parcelado, os juros caíram 3,7 pp no mês e registraram alta de 7,7 pp em 12
meses, indo para 194,5% ao ano.
Novas contratações
A manutenção
prolongada dos juros em alta – resultado do aperto monetário – e a própria
desaceleração da economia levaram também a uma desaceleração do crédito
bancário, em especial, para as famílias. No mês passado, entretanto, as
concessões de crédito subiram 8% para as pessoas físicas e 11,2% para empresas.
Em agosto, o
estoque de todos os empréstimos concedidos pelos bancos do Sistema Financeiro
Nacional (SFN) ficou em R$ 5,523 trilhões, um crescimento de 1,1% em relação a
julho. O resultado refletiu o aumento de 0,9% no saldo das operações de crédito
pactuadas com pessoas jurídicas (R$ 2,163 trilhões) e o incremento de 1,3% no
de pessoas físicas (R$ 3,360 trilhões).
Na
comparação interanual, o crédito total cresceu 8,9% em agosto, mantendo a
tendência de desaceleração observada desde meados de 2022. Em julho, esse
crescimento havia sido de 9,3%. Nas mesmas bases de comparação, os estoques de
crédito para pessoas jurídicas e pessoas físicas registraram expansões de 5,1%
e 11,5%, respectivamente, com estabilidade no ritmo de crescimento nas
operações com pessoas jurídicas (5% em julho) e arrefecimento nas operações com
pessoas físicas (12,2% em julho).
Em ata
divulgada pelo Copom, ontem (26), em Brasília, o colegiado avaliou que a
desaceleração na concessão de crédito está em linha com a postura da política
monetária de definição dos juros. “Observou-se uma desaceleração mais acentuada
na concessão de crédito à pessoa jurídica, ao passo que a concessão à pessoa
física exibiu menor desaceleração, sendo menos acentuada nas modalidades de
baixo custo”, diz o documento.
“Em que pese
as condições monetárias restritivas, enfatizou-se que já se observa a
transmissão do ciclo de política monetária esperado pelo mercado para as taxas
correntes de novas concessões, levando também a um maior dinamismo dos mercados
de capitais”, acrescentou o Copom.
Já o crédito
ampliado ao setor não financeiro, que é o crédito disponível para empresas,
famílias e governos independentemente da fonte (bancário, mercado de título ou
dívida externa) alcançou R$ 15,258 trilhões, com aumento de 2% no mês. Os
principais fatores para essa evolução foram os títulos da dívida pública, que
cresceram 1,9% e os empréstimos da dívida externa, com expansão de 5,9%, para a
qual contribuiu a depreciação cambial de 3,8% no mês.
Em 12 meses,
o crédito ampliado cresceu 8,9%, ante 7,3% em julho deste ano.
Endividamento
Segundo o
Banco Central, a inadimplência – considerados atrasos acima de 90 dias – tem se
mantido estável há bastante tempo, com pequenas oscilações e registrou 3,6% em
agosto. Nas operações para pessoas físicas, ela está em 4,1% e para pessoas
jurídicas em 2,7%.
O
endividamento das famílias – relação entre o saldo das dívidas e a renda
acumulada em 12 meses – ficou em 47,8% em julho, queda de 0,4 pp no mês e de
2,3% em 12 meses. Com a exclusão do financiamento imobiliário, que pega um
montante considerável da renda, o endividamento ficou em 30,2% no oitavo mês do
ano.
Já o
comprometimento da renda – relação entre o valor médio para pagamento das
dívidas e a renda média apurada no período – ficou em 27,6% em julho, redução
de 0,7 pp na passagem do mês e com alta de 0,3 pp em 12 meses.
Esses dois
últimos indicadores são apresentados com uma defasagem maior do mês de
divulgação, pois o Banco Central usa dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Edição:
Kleber Sampaio