Justiça civil dos EUA condena Trump em caso de abuso sexual e difamação

Justiça civil dos EUA condena Trump em caso de abuso sexual e difamação

Jurados demoraram três horas para decidir que Trump foi culpado no caso da escritora E. Jean Carroll. O ex-presidente dos EUA sempre negou que tivesse cometido abuso sexual.





Por g1 09/05/2023 16h22 - Atualizado há 13 horas

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump foi considerado culpado nesta terça-feira (9) em um processo civil por ter abusado sexualmente da jornalista E. Jean Carroll, em 1995 ou 1996, e, posteriormente, difamado a vítima.

Os nove jurados decidiram que ela deverá receber US$ 5 milhões (cerca de R$ 25 milhões) em compensações e ressarcimentos por danos. Esse não é um caso criminal, mas, sim, civil, então não há possibilidade de que Trump seja condenado a ir para a prisão.

O grupo de jurados demorou apenas três horas para deliberar. Eles tiveram que responder se Trump estuprou, abusou sexualmente ou forçou contato com Carroll, e decidiram que ele abusou sexualmente dela, mas não a estuprou.

Trump sempre negou que tivesse abusado sexualmente de Carroll.

Steven Cheung, um porta-voz de Trump, afirmou que o ex-presidente vai recorrer. Até uma decisão de instância superior, ele não precisará pagar os US$ 5 milhões.

 

Entenda o processo

E. Jean Carroll, de 79 anos, processou Trump em 2022, alegando que ele a estuprou no vestiário da loja de luxo Bergdorf Goodman, em Nova York, em 1995 ou 1996.

Ex-colunista da revista Elle, ela também afirma que Trump a difamou depois que ela tornou pública sua acusação em um livro que ela publicou em 2019, “Para que precisamos de homens? Uma proposta modesta”.

A escritora disse, durante o julgamento, que não tinha ido nem à polícia nem ao hospital após o caso. Ela afirmou também que publicou a história no livro inspirada no movimento Me Too, de denúncias contra abusos sexuais.

“Levei muito tempo para perceber que ficar em silêncio não funciona”, disse ela.

 

Reação de Trump

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump disse nesta terça-feira (9) que a sentença de um tribunal de Nova York que o declarou responsável de abuso sexual é uma vergonha (para a Justiça, não para ele).

“Não tenho absolutamente nenhuma ideia de quem é esta mulher”, afirmou ele em sua rede Truth Social, ao se referir à acusadora, a ex-jornalista E. Jean Carroll. “Este veredicto é uma vergonha”, disse.

 

Processo civil

Na Justiça civil, a necessidade de demonstrar que o crime ocorreu não é a mesma que na Justiça criminal, de acordo com a agência de notícias Reuters. Na Justiça civil, Carroll precisava justificar que houve estupro com uma preponderância de evidências, ou seja, que é provável que Trump tenha cometido o abuso sexual. Se esse fosse um caso de Justiça criminal, o padrão seria outro: seria preciso apresentar provas que acabassem com qualquer dúvida.

Carroll precisou mostrar evidência clara e convincente. Entre as testemunhas, havia amigas dela para quem ela contou o caso na época.

Além disso, o processo contou com testemunho de duas outras mulheres que disseram que Trump as atacou sexualmente no passado.

A ex-repórter da revista People Natasha Stoynoff disse que em 2005 Trump a encurralou em seu clube Mar-a-Lago e a beijou à força por alguns minutos, até que um mordomo o interrompeu.

Outra mulher, Jessica Leeds, testemunhou que Trump a beijou, apalpou e colocou a mão em sua saia em um voo em 1979.

 

Os momentos finais do processo

Ao apresentar suas alegações finais, na segunda-feira, a advogada de Carroll pediu o júri de um tribunal federal em Manhattan a responsabilizar Trump pelo ocorrido.

“Ninguém, nem mesmo um ex-presidente, está acima da lei”, afirmou a advogada Roberta Kaplan.

A advogada lembrou ao júri que sua cliente foi interrogada “por mais de dois dias e respondeu a cada pergunta”, em particular as “razões por não ter gritado” durante o suposto estupro que teria ocorrido há mais de 25 anos.

Trump, que sempre negou as acusações, não compareceu ao tribunal durante as audiências do julgamento.

Contudo, nos trechos em vídeo do interrogatório ao qual foi submetido pela advogada de acusação em outubro do ano passado, divulgados na sexta-feira, ele disse que se trata da “história mais ridícula e asquerosa”. “Tudo é mentira”, disse ele, que chamou Carroll de doente.

Ele reiterou que não conhecia a acusadora, apesar de ambos aparecerem sorridentes, junto de seus respectivos parceiros, em uma foto apresentada no julgamento e feita antes de seu suposto encontro em 1996 na loja de departamentos.

No vídeo do interrogatório, quando mostraram a Trump uma foto em que ele aparece em um evento junto com Carroll, o ex-presidente confundiu a escritora com a segunda esposa, Marla Maples. Ao ver a foto, Trump falou “é a Marla”.

 

O tipo dele

Trump já havia dito que Carroll “não fazia [seu] tipo”.

O advogado de Trump, Joe Tacopina, disse aos seis homens e três mulheres do júri que “eles querem que vocês o odeiem o suficiente para ignorar os fatos”, em alegações ofensivas que duraram 2h30, durante as quais destacou incoerências e falta de provas materiais.

Ele reconheceu que Trump pode ter se referido de maneira crua ou rude às mulheres, mas isso não “transforma um fato incrível em crível” e apelou para o “bom senso” do júri porque, segundo ele, se Trump tivesse agredido sexualmente Carroll, “ele teria sido preso imediatamente”.

Carroll “nunca foi à polícia porque nunca aconteceu”, disse o advogado de Trump. Para ele, trata-se de uma maquinação para que Carroll venda mais seu livro.

 

Problemas de Trump com a Justiça

O caso é um dos vários desafios legais enfrentados pelo magnata republicano de 76 anos, que busca retornar à Casa Branca nas eleições de 2024.

No mês passado, ele se declarou inocente em um caso criminal relacionado a um pagamento em dinheiro para comprar o silêncio de uma estrela pornô pouco antes da eleição de 2016.

Trump também está sendo investigado por seus esforços para anular sua derrota nas eleições de 2020 no estado da Geórgia, por sua suposta má gestão de documentos classificados retirados da Casa Branca e por sua implicação no ataque ao Capitólio americano por seus apoiadores em 6 de janeiro de 2021.

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