LDO 2025: Congresso aprova texto e permite ao governo suspender emendas PIX que descumprirem regras
LDO 2025: Congresso aprova texto e permite ao governo suspender emendas PIX que descumprirem regras
Projeto traz diretrizes para o orçamento de 2025; sugestão para que governo fosse obrigado a mirar 'centro da meta' não foi incluída na versão final. Texto vai à sanção de Lula.
Por Marcela Cunha, g1 — Brasília
O Congresso
aprovou nesta quarta-feira (18) a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025
– proposta que estabelece as regras para elaboração do Orçamento do próximo
ano.
Cabe à LDO
definir, por exemplo, o nível de equilíbrio entre receitas e despesas federais.
Com a
aprovação pelo Congresso, o texto será enviado ao presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) para ser sancionado.
Um dos destaques do texto aprovado é a possibilidade de o governo federal suspender o pagamento de emendas PIX caso as regras para a liberação não sejam cumpridas.
Entre as
exigências para a liberação está a apresentação de um plano de trabalho
(entenda mais abaixo).
Durante a
votação, por acordo de líderes, foi retirado do texto a previsão de o governo
contingenciar emendas parlamentares.
🔎O contingenciamento tem a ver com a
suspensão de parte ou do total do pagamento das emendas para que o governo
consiga cumprir a meta fiscal.
Déficit
zero
A LDO 2025
também prevê que a meta para as contas públicas do governo é de um déficit ou
superávit zero – ou seja, deverá haver um equilíbrio entre os gastos e a
arrecadação.
💰 Há, porém, uma margem de tolerância
de R$ 30,97 bilhões.
💰 Ou seja: se o governo terminar o ano
com um saldo negativo até esse valor, pode considerar que fez o dever de casa.
Relator do
texto, o senador Confúcio Moura (MDB-RO) chegou a indicar anteriormente que
incluiria uma emenda para obrigar o governo a conter os gastos, ao longo do
ano, para mirar sempre o “centro da meta” – e não essa margem de
tolerância. Mas recuou na véspera da votação.
Se tivesse
sido aprovada, essa cláusula apertaria as regras para o governo.
Entre
janeiro e outubro, o governo teria que conter os gastos como se não houvesse
margem de tolerância alguma – ou seja, buscando sempre o déficit zero.
Apenas no
último bimestre (novembro e dezembro), a equipe econômica poderia admitir uma
chance de déficit para fechar as contas.
💸 Ao longo de 2024, o governo passou a
trabalhar com o cenário de um “déficit dentro da tolerância” há
vários meses.
💸 O resultado zero continuou a ser
perseguido mas, a cada contingenciamento de verbas, os cálculos já projetavam
alguns bilhões de déficit.
Se a emenda
admitida inicialmente por Confúcio Moura fosse aprovada, o governo não poderia
trabalhar com essa margem ao longo do ano. Ou seja: teria de congelar as
despesas em um ritmo mais intenso.
Emendas
parlamentares
O governo
federal poderá suspender o pagamento de emendas PIX em situações em que as
regras para a liberação não sejam cumpridas.
Entre as
exigências estão a apresentação de um plano de trabalho detalhando o uso do
recurso e as informações bancárias para onde encaminhará a verba.
Segundo o
texto, o não cumprimento das exigências “acarretará a suspensão imediata das
transferências até o momento em que estas sejam regularizadas”.
🔍 Emendas PIX ganharam esse nome
porque saem direto do Congresso para o caixa de prefeituras ou governos
estaduais e não estão vinculados a uma obra ou convênio específico. Outros
tipos de emendas parlamentares financiam projetos específicos, por exemplo, e
não vão direto para os caixas.
O texto vai
de encontro com a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio
Dino, que determinou que os repasses deverão obedecer às regras de
transparência e rastreabilidade, tanto da origem da indicação quanto do destino
do recurso.
Em decisões
recentes, o ministro Flávio Dino determinou que:
– as verbas
parlamentares sejam corrigidas ano a ano por critérios menos vantajosos;
– um plano
de trabalho para a destinação da verba seja apresentado antes do pagamento das
emendas;
– indicações
para emendas de comissão sejam feitas por qualquer parlamentar, e não apenas
pelos líderes, e com identificação nominal do autor do repasse.
Além disso,
o relator alterou um trecho referente ao bloqueio de gastos para emendas
parlamentares em geral. O governo havia enviado a proposta prevendo que esses
bloqueios poderiam ser feitos livremente.
No entanto,
o relator acrescentou que o bloqueio das emendas deverá respeitar a mesma
proporção aplicada às demais despesas discricionárias, garantindo um tratamento
mais equilibrado.
Salário
mínimo, PIB e inflação
O texto
manteve ainda a previsão de reajuste do salário mínimo para R$ 1.502 em 2025,
seguindo as regras atuais de valorização e desconsiderando o pacote fiscal
enviado pelo governo federal, que ainda não foi votado. Atualmente, o valor do
mínimo é de R$ 1.412.
Um dos
projetos do pacote propõe uma revisão no aumento real do salário mínimo,
limitando o crescimento do valor a 2,5% acima da inflação. O projeto ainda deve
ser analisado pelo plenário da Câmara nesta semana, podendo fazer com que o
valor do salário mínimo seja alterado.
O projeto
traz ainda projeções de crescimento de 2,8% para o Produto Interno Bruto (PIB)
em 2025 e previsão que a inflação feche o próximo ano em 3,10%.
Fundo
partidário
O texto
aprovado mantém a correção do fundo partidário pelo Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo (IPCA).
Anteriormente,
o relator do projeto tinha acatado pedidos do governo e incluiu a correção do
fundo partidário conforme a regra do arcabouço fiscal. A medida, na prática,
reduziria o valor do fundo, já que ele deixará de ser reajustado apenas pela
inflação.
Essa verba é
prevista em lei para financiar atividades de funcionamento dos partidos
políticos.
Despesas
fora do contingenciamento
O texto
aprovado ainda adiciona uma lista de despesas que não poderão ser atingidas
pelo contingenciamento de gastos no próximo ano. Isso significa que, caso o
governo precise congelar recursos a fim de chegar à meta fiscal no ano que vem,
não poderá bloquear alguns gastos.
Ao todo,
foram incluídas 19 despesas. Entre elas estão:
Superintendência
da Zona Franca de Manaus (Suframa);
Ensino
Profissional Marítimo;
Sistema de
Fronteiras;
Fundo
Nacional de Desenvolvimento Florestal;
análises
para outorga de títulos minerários e com a fiscalização da lavra de recursos
minerais estratégicos;
aquisição e
distribuição de alimentos da agricultura familiar para promoção da segurança
alimentar e nutricional;
defesa
agropecuária;
seguro
rural;
apoio às
populações indígenas;
programas de
proteção aos defensores de direitos humanos, a crianças e adolescentes
ameaçados de morte e a vítimas e testemunhas ameaçadas;
Fundo
Nacional para a Criança e o Adolescente;
Fundo
Nacional do Idoso;
Fundo de
Universalização dos Serviços de Telecomunicações;
prevenção e
mitigação de desastres naturais;
educação
superior na rede federal de ensino;
Programa
Nacional de Vacinação em Escolas Públicas.